Por Julio Gomes.

julio gomesTenho visto, ao longo das últimas semanas, pessoas se queixando de forma recorrente das mesmas coisas: insônia, dores de cabeça, angústia, nervosismo, apetite descontrolado, grande ansiedade, ausência de vontade de trabalhar e queda na produtividade, alheamento geral e uma falta de paciência que a qualquer momento pode resultar em grave discussão no ambiente doméstico ou no local de trabalho.

Bem, em primeiro lugar, uma boa notícia: isto prova que você é um ser humano dotado de sensibilidade, que não reage de forma fria, insensível aos acontecimentos à sua volta.

O preço da atenção para com o próximo, da preocupação com a comunidade, com o bem comum, é uma certa angústia, porque o mundo não é um mar de rosas, e porque grande parte dos problemas que temos – eu diria que a imensa maioria – são causados ou por nós mesmos, por nossa má conduta; ou pelos outros que, na vida em comum, fazem com que seus erros recaiam sobre nós.

Todas as dificuldades, sentimentos negativos e frustrações que vivenciamos no momento atual têm justificativas plausíveis: perdemos cerca de 110 mil pessoas para a Covid-19, nosso país está com a economia em frangalhos, o desemprego aumenta vertiginosamente e a realidade política do Brasil só nos dá desgostos, decepções e uma total incerteza quanto ao que acontecerá no futuro.

Por fim, as perdas causadas pela Covid-19, que antes ocorriam na Europa, nos EUA, em São Paulo, agora acontecem com amigos, com vizinhos, com pessoas que estudaram e trabalharam conosco, com parentes próximos. Penso que não há como agir de forma “normal” em uma situação como esta.

Digo tudo isso para que você não se exaspere com suas enxaquecas cada vez mais frequentes. Para que não se agaste com a insônia que te acorda às 2:30 da madrugada e não te deixa mais dormir.

Para que não estranhe quando perder a noção do dia, se é sábado, segunda ou quinta-feira. Para que não se surpreenda ao acordar de madrugada e encontrar outras pessoas igualmente insones, perambulando pela casa. E para que não brigue com as pessoas de sua convivência, de seu lar, de seu trabalho.

Estamos todos sob grande tensão e precisamos de indulgência, de paciência, de conformação e de perdoar mais, aos outros e também a nós mesmos.

Não se martirize se sua vontade de produzir diminuiu. Se um desânimo que parece inexplicável por vezes toma conta de você. Compreenda-se e perdoe-se!

No momento em que vivemos seria anormal agir de forma normal, porque é fora de qualquer normalidade perdermos 110 mil vidas estupidamente, em cerca de seis meses.

O normal, nestes dias de incerteza, é agir de forma diferente do que antes era normal. É inquietar-se – embora sem nos permitirmos chegar ao desespero – e darmos vazão a esta inquietação, porque somos humanos.

Não é só você que está assim. Todos estamos, em maior ou menor grau. Tenha paciência, ore muito, não brigue, evite discussões e perdoe muito. Se todos agirmos assim, a cruz desta hora difícil ficará mais leve para cada um de nós.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.