Efson Lima

 

efson Um dos maiores desafios da docência é tornar o abstrato próximo do estudante. É mediar o conhecimento para que o conteúdo dialogado na sala de aula não seja distante da realidade, mas necessário à compreensão e a tomada de decisões. Como fazer isto no âmbito do direito internacional, em um estado da federação onde suas divisas são com outros estados e na costa leste a imensidão do oceano Atlântico? Parece um terreno pouco fértil.  Eis que nada melhor que inovar, adotar as metodologias ativas, sair da sala de aula, recorrer aos memes, usar a literatura, o filme… É importante advertir, com a vênia: os recursos não podem ser adotados para suprimir o papel do profissional que não preparou a aula, mas auxiliá-lo na exploração do conteúdo.

O professor é um cientista diário. É um explorador de realidades. É um vendedor de sonhos. Nada é mais fracassado que um profissional da educação adentrar em sala de aula derrotado pelas incertezas e não prospectar futuros, mesmo que o presente esteja árido e o porvir tenebroso. O professor é um sonhador com pés no chão.

efson lima

Neste semestre, tive algumas ações sugestivas de prática na Faculdade 2 de Julho. Vamos abordar duas situações: o “LabLíder” e “Viajando pelo mundo em Salvador”.    De forma coletiva, especialmente, pelo Núcleo da Pós e Direção Acadêmica, constituímos um Laboratório em Liderança, o LabLíder, neste, o último dia de atividade foi marcado pela presença do Café Ravel, a convite do professor Daniel Medeiros, que abordou liderança e delegação. O cheiro de café tomava a sala, a senhora Selma contava suas histórias de empresária familiar a empresária solo, com seu empreendimento inovador. Liderar é empreender. É colocar o nariz onde poucos colocam. É sair do lugar comum. As incertezas só existem quando não nos lançamos. Lançados, tornamos as incertezas em desafios. Não há sucesso sem desafio.  Toda a discussão do momento foi acompanhada pela a arte de Lara Azeredo, que fez um painel maravilhoso. Então, tivemos café, arte e ensino – um triângulo oportuno.

Em relação ao “Viajando pelo mundo em Salvador”, na condição de professor da Disciplina de Direito Internacional Público e privado, decidi com os estudantes, mapear os consulados em Salvador. No primeiro momento, divergências nos números quanto ao quantitativo de consulados na Capital baiana, então, telefona, visita, faz-se as checagens em sites. A pesquisa foi se efetivando. Vamos confirmando o número exato de repartições consulares. Várias foram às surpresas: consulado da Turquia em Salvador, da Finlândia…? Sim, minha gente. Sim! Salvador tem esses consulados. Agora, vamos escolher um deles para visitar, vamos ao de Cuba. Regime socialista, polêmica do Mais Médicos… é para lá que vamos. A visita fica mais instigante.  O professor até pode estar arraigado de ideologia, não vamos exigir neutralidade no humano, mas ele pode ser leve, permitir os diálogos, estabelecer a dialética, apresentar os diversos pontos de vista. E respeitar sempre a divergência.  O certo, o errado foram signos construídos em nós. O adequado e inadequado são sugestões do binarismo do “bem” e “mal”. Mapeamento feito, visitas realizadas, agora, vamos socializar o que aprendemos. Detalhe, não será uma socialização qualquer, aproveitamos para trazer os pratos típicos à sala de aula. Direito é cultura. Direito tem muito a ver com gastronomia, jantares e almoços. A arte da cozinha pode explicar como surgem nossas leis, como as decisões são tomadas… O Direito Internacional é uma delícia!

Ficam os desafios, um deles, no próximo semestre é ir ao Porto da Barra. É de lá que ministraremos sobre o mar territorial, a zona contígua, a zona econômica exclusiva e a plataforma continental brasileiros. Escolheremos um dia de lua cheia para abordar também sobre o mito de São Jorge e a Lua, mas não só isto, discorrer sobre os Tratados que versam sobre a não ocupação deste corpo celeste pelos Estados Nacionais, precisamente, dialogaremos como foco no Tratado sobre Exploração e Uso do Espaço Cósmico.

A disciplina pode parecer distante do estudante, mas o profissional docente precisa tornar o conteúdo palpável. A sociedade tem sido cada vez mais utilitarista e imediatista. Os resultados não são para ontem, são desejáveis agora. Equacionar esses desafios são desafios do nosso tempo.  Paralelo, vamos inovando, criando, desmistificando e oportunizando novas experiências.  Outras experiências ocorreram, optei, por registrar essas duas. Fechamos um semestre, mas as crônicas continuam e elas só podem fecundar, quando os ambientes propiciam essas aventuras, o ambiente da docência por excelência precisa ser democrático, plural e ter a diversidade como postulados necessários à celebração da paz e da fraternidade. Posso dizer que tive!

 

Efson Lima  – coordenador-geral da Pós-graduação, Pesquisa e Extensão da Faculdade 2 de Julho. É doutorando, mestre e bacharel em Direito pela UFBA. Organizador de seis livros no Projeto Conviver/UFBA e autor do livro “Textos Particulares”, no prelo, pela Editora Cogito.