esse é o verdadeiro ouro do cacau

 Os recém-lançados roteiros do chocolate – com visitas, hospedagem e almoços – incluem fazendas que produziram ou ainda produzem cacau. Uma delas, a Provisão, com350 hectares, existe há 180 anos, às margens do Rio Almada, na zona rural de Ilhéus. Depois da grande crise de 1989, ela chegou a parar a produção por quase 18 anos. “Ficou quase abandonada”, conta o dono, o médico Albino Eduardo Novaes, de 74 anos. Antes da vassoura-de-bruxa, a propriedade empregava 50 funcionários, número que hoje chega a10. Asaída para a penúria foi o turismo rural, que valoriza a bela construção da sede e o visual caprichado de toda a fazenda, rodeada por reserva de Mata Atlântica. Curiosamente, a Provisão sempre pertenceu à mesma família, como conta Maria Adelina, esposa de Novaes.

Outra fazenda, a Riachuelo, ainda não está nos roteiros de visitas, mas deve entrar em 2012. Ela oferecerá tour para apresentar a produção de cacau e chocolate fino, visto que tem uma unidade industrial. O visitante poderá conhecer o processo que vai da colheita da amêndoa à fabricação do chocolate, passando pela secagem, seleção e fermentação da matéria-prima. Para entrar na unidade industrial, o turista é obrigado a vestir roupas descartáveis fornecidas pelo fabricante. E também faz uma pequena degustação no fim, em que experimenta chocolates com diversos teores de cacau (o mais forte, com 70%).

“Ouro” de Ilhéus

O funcionário Ricardo Oliveira Santos, de 26 anos, assim como o colega Paulo Santos Sarmento, de 18, trabalham na extração da amêndoa do fruto, um trabalho cansativo, repetitivo, que exige habilidade no manuseio do facão. Ambos estão há cerca de um ano na Riachuelo, vindos de São Paulo. Na verdade, regressando, já que são de Ilhéus. Segundo Ricardo, há alguns anos houve momentos em que não se encontrava emprego na região, o que o fez migrar para a capital paulista, atrás de oportunidades na construção civil. “Agora que o cacau está voltando, tenho condições de ficar por aqui. Mesmo que o salário seja menor, viver na nossa terra é muito melhor”, contou Ricardo.

Os dois encarnam o pensamento de milhares de trabalhadores da região, que têm esperança de ver renascer a força do cacau. Eles vieram de famílias que trabalharam décadas com o fruto e sabem: dificilmente a atividade terá, em curto espaço de tempo, a importância de antes. Ainda assim, acreditam no ressurgimento do ouro de Ilhéus. (matéria publicada no Correio Braziliense/DF)