:: ‘mulheres negras’
Projetos impulsionam empreendedorismo de mulheres negras
A empresária e trancista Anna Telles começou a trançar cabelo aos 13 anos e hoje realiza a atividade de forma profissional em três salões próprios, empregando, diretamente, mais de dez pessoas. A primeira franquia do Salão Cacho de Fibras está implantada no bairro da Liberdade, desde 2014, e atende clientes que buscam serviços especializados para o cabelo crespo. A jovem empresária revela que contou com um incentivo importante ao participar de um curso de cabeleireiro profissional oferecido pelo Qualifica Bahia, uma iniciativa da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte do Estado (Setre). Desde então, os negócios cresceram bastante. Nas três unidades de beleza, circulam, em média, 30 clientes todos os dias.
Anna explicou que o principal diferencial do seu trabalho é a possibilidade de mudar a estética das suas clientes sem agredir o cabelo natural. Para isso, além de empregar a técnica de trança em 3D, ela desenvolveu um produto específico para cabelo crespo, do qual já possui a patente. Segundo ela, o curso do Qualifica Bahia marcou uma transição importante na carreira. “O curso me desbloqueou para que eu pudesse fazer da minha atividade um negócio. Eu atendia a domicílio e não achava que era tão importante o que eu fazia. Foi no curso que consegui perceber a profissionalização do meu trabalho. Depois do curso eu abri o meu primeiro salão. Enquanto mulher negra, ter tido essa oportunidade me faz ter a obrigação de atuar para empoderar outras mulheres negras. Eu quero ser essa pessoa que pode empoderar outras vidas”, destacou.
Mulheres negras e pobres são mais vulneráveis ao aborto com risco
Uma série de pesquisas realizadas no Brasil mostra que as desigualdades social e racial típicas do país desde a época colonial marcam também a prática do aborto. “As características mais comuns das mulheres que fazem o primeiro aborto é a idade até 19 anos, a cor negra e com filhos”, descreve em artigo científico inédito a antropóloga Débora Diniz, da Universidade de Brasília (UnB) e do Instituto de Bioética, Direitos Humanos e Gênero (Anis), e o sociólogo Marcelo Medeiros, também da UnB e do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea).
O texto, relativo a uma etapa da Pesquisa Nacional de Aborto (PNA), será publicado em julho na Revista Ciência e Saúde Coletiva, da Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde Pública (Abrasco). A edição traz um dossiê sobre o aborto no Brasil, produzido com pesquisas feitas para o Ministério da Saúde e o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq).
Diniz e Medeiros coordenaram, entre agosto de 2010 e fevereiro de 2011, levantamento com 122 mulheres entre 19 e 39 anos residentes em Belém, Brasília, Porto Alegre, no Rio de Janeiro e em Salvador.
Segundo os autores, a diferenciação sociorracial é percebida até no acompanhamento durante o procedimento médico. “As mulheres negras relatam menos a presença dos companheiros do que as mulheres brancas”, registram os pesquisadores. “Dez mulheres informaram ter abortado sozinhas e sem auxílio, quase todas eram negras, com baixa escolaridade [ensino fundamental] e quatro delas mais jovens que 21 anos”.
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