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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

maio 2024
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:: ‘A Mãe’

A Mãe, o Filho e o Carrasco

Daniel Thame

 

dthameOs olhos tristes e cansados da mãe contemplam o vazio. Um imenso e interminável vazio,  formado por rios, florestas, animais selvagens e décadas de espera.

Os olhos tristes e cansados da mãe se enternecem e adquirem um brilho efêmero ao lembrar do menino carinhoso, do adolescente sonhador e do jovem idealista que,  recém-formado em Medicina, em vez de salvar vidas, se engajou na luta para ajudar a salvar a nação do câncer de uma ditadura brutal.

Os olhos tristes e cansados da mãe se perdem naquela busca que parece interminável, naquela espera que é meramente esperança, do retorno do filho que para alguns se transformou em mártir de uma batalha perdida e herói de  uma causa justa, mas que para ela é apenas um filho cuja ausência rasga o coração.

Os olhos tristes e cansados da mãe, olhos de tantas e infrutíferas buscas no Araguaia, sepultura invisível de seu filho, miram os céus, décadas e décadas de saudade, de uma ferida que insiste em não cicatrizar, como que a procura de um sinal.

Mas até a infinitude dos céus é engolida por aquela mata fechada, com seus fantasmas e mistérios, que devorou filhos, filhas, pais, mães, amigos numa guerrilha ainda não devidamente absorvida pela memória coletiva, travada que foi nos confins do Brasil profundo.

Dos  céus, não vêm sinal algum.

Os olhos tristes e cansados da mãe só não perderam a esperança, porque esperança de mãe é como a chama eterna, que nem a dor da perda do filho querido consegue apagar.

Os olhos tristes e cansados da mãe esperam por um fiapo de corpo que seja, um punhado de ossos, que reconstruídos numa história de vida, resgatem a memória de quem foi para nunca mais voltar.

O que a mãe deseja, com seus olhos tristes e cansados, é poder sepultar o que restou do filho.

Para então, descansar em paz, e talvez, se reencontrar com ele numa dimensão que os olhos não alcançam,  mas que o amor e a fé de mãe tem certeza de que existe.

(Conto publicado no livro ´A Mulher do Lobisomem`, inspirado e João Carlos Haas Sobrinho, uma das vítimas do massacre à Guerrilha do Araguaia, uma das páginas mais brutais da Ditadura Militar no Brasil)  

 

 





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