
Uma vida suportada para uma vida assumida!
Gilza Pacheco
O homem é uma mistura da natureza com aventura.Trata-se de aceitar a natureza tal como ela é.
Embora nossa matéria seja constituída da memória da humanidade, é pela intervenção de nossa liberdade que daremos orientação a essa memória, que levaremos nossa natureza a viver essa aventura que chamamos VIDA!
Aceitar que nossa natureza seja de mármore ou argila, pode nos levar a esculpir um vaso ou um Davi.
Na verdade, a liberdade residiria não no ato de escolher mas de aceitar?
Exatamente. No entanto, se é correto dizer que nos tornamos livres em relação à natureza ao nos submetermos a ela, é também necessário orientá-la.
Liberdade não é passividade!
Minha liberdade consiste em aderir ao que é, ou seja, a minha matéria, a minha natureza, a minha herança, mas orientando tudo isso em direção ao que para mim, em meu desejo me parece ser o belo, o melhor.
Temos a liberdade de escolher ou de recusar.
Diante das provações, sabemos que alguns seres humanos reagem com fatalismo, enquanto outros dão testemunho de uma extrema combatividade.
A liberdade é, também, a possibilidade de interpretar. Nossa verdadeira liberdade reside no fato de passarmos de uma vida suportada para uma vida assumida, para isso o homem tem a necessidade de poder justificar as provações que vivencia. Contudo, na maior parte das vezes, seja muito difícil encontrar uma justificativa humana ou divina para algumas dessas provações.
É verdade que o maior sofrimento é aquele ao qual não é possível dar sentido. Mas creio que há um momento em que devemos interromper nossa busca de justificativas; um momento em que devemos aceitar que, apesar de certas coisas não fazerem sentido para nossa razão, elas deixam de ter sentido. E esse sentido está para além da razão, para além da compreensão.
Em vez de refletir sobre o sentido da vida, trata-se de vivê-la. E o sentido se revela na intensidade com a qual vivemos esta vida.
O que cria a angústia é justamente a distância entre o que eu gostaria de ser e o que eu sou.
Seria necessário descobrir o desejo sem expectativa? Isso seria uma abertura ao que é. É amar o que é , em vez de amar o que não é. Assim, desejas tudo que tens e terás tudo o que desejas…
Finalmente, é importante sonharmos e, sobretudo, escutarmos os nossos sonhos e dessa forma teremos a oportunidade de ouvirmos o que, provavelmente, já está presente em nós.
É claro que frequentemente a busca da felicidade é justamente o que nos impede de sermos felizes porque procuramos de uma forma precisa demais.
A felicidade está identificada com a imagem que temos dela e seus efeitos com seus objetivos. O que achamos bom para nós, acabamos por considerá-la igualmente bom para o outro.
A exemplo disso é que existem pessoas que acreditam dar muito amor. Elas são sinceras, mas nada deram porque isso não era o que o outro queria!
“Eu lhe dei o que eu tinha de melhor…”
Sim, mas nem sempre o que é melhor para mim é o melhor para você…
É exatamente isso, somos uma fusão de natureza e aventura, sugerindo que a liberdade envolve aceitar nossas limitações. A angústia entre o que desejamos ser e o que somos é uma luta comum, e a proposta de amar o que é nos convida à aceitação. Além disso, critica a busca incessante pela felicidade imposta por padrões externos.