Celina Santos, no Diário Bahia 

poetas

Nestas ligeiras linhas eu venho te falar/

Na terra grapiúna tem poeta pra a gente babar/

Eles mostram sentimento que faz nosso coração palpitar/

Gente que nem sabia como a alma lavar/

Faz nosso sorriso abrir e nosso olho brilhar/

Como não sou escritora, convido à leitura desta obra que imenso orgulho dá.

Peço licença aos legítimos artistas da palavra, para contar sobre o livro, lançado no térreo do Espaço Cultural Josué Brandão, em Itabuna, no feriado de Tiradentes, dia 21 de abril. Você vai entender por que a notícia é atual. Aliás, eterna.

Por ironia do tal destino, a obra ora lançada grita para a literatura jamais ser enforcada, nesse turbilhão de informações em que um dia fomos mergulhados. O livro, que já se encontra na Biblioteca Municipal Plínio de Almeida, foi publicado pela Via Litterarum Editora e será tema de um sarau na terça-feira (10), às 19 horas, no Shopping Jequitibá.

Egnaldo França, organizador da publicação, é ativista, percussionista, cantor, historiador, agente de saúde, entre tantos atributos. Agora, anfitrião neste tempo de lançamento. Ele também tem poemas naquelas páginas, jogando nas letras parte das tantas causas pelas quais labuta.

Como inspiração, revela que encontrou o professor Gileno Gonçalves, outro autor que derrama poesia naquelas páginas. Vamos a mais nomes e você, leitor, há de reconhecê-los ao ler o livro.

Para todos os gostos

Vinda da região sudoeste (deste estado com tamanho de país!), a agente comunitária de saúde Zayra Lima traz delicadeza ao transferir um pouco da origem dela para a turma do sul baiano.

Dono de um olhar crítico, o elegante contador Miguel Cerqueira nem sabia que era escritor e opa! Derrama talento, assim como a professora Nilzete Araújo, trazendo nos versos um verdadeiro brado contra o racismo.

Pelo caminho, a também professora Cristiane Lyra entrega, em forma de rima, um misto de fé e esperança a este mundo tão cético.

Já Francisco Benevides, que laborou pela concepção visual desse lindo livro, clama por mais tolerância em um Brasil onde, la-men-ta-vel-men-te, algumas religiões acabam sendo crucificadas.

“Pepino” com sorriso, sim!

E Nathália Santos, do alto dos seus 22 anos? Até aqui, ela também não sonhava o quão profundas são as reflexões escondidas nos seus versos. É o mesmo com o trabalhador rural e servente de pedreiro José Antônio, conhecido como “Pepino” no bairro Maria Pinheiro.

Ele tem como nome artístico HANISTAINE HUSVELT HATSON. Chique, não é? Dono de uma interpretação que nos faz arregalar os olhos, esbanja firmeza ao mastigar cada palavra pronunciada. Vê-lo em cena nos deixa longe de qualquer “pepino” (com o perdão da brincadeirinha infame, viu?).

E o Curtis MC garante versos nada curtos, porque o rap traz um olhar profundo sobre as mazelas nossas de todo dia, não é? Os poemas dele também vêm cheios de crítica e cutucam as certezas que imaginávamos ter.

Cabe esclarecer, por fim, que os recursos para a publicação foram viabilizados pela Lei Aldir Blanc, executada no município em parceria com a FICC (Fundação Itabunense de Cultura e Cidadania). Para garantir o coquetel do primeiro e lindíssimo lançamento, uma soma de esforços entre os autores e os amigos deles.

Cada autor escolhido para esse saboroso labor apresenta dez poesias na obra. Quer saber? Fico por aqui, torcendo para que mais e mais amantes da literatura se deliciem com nosso (já é de todos os leitores, hein?) “Labor de Poetas”. Porque, como disse o magistral e saudoso Ferreira Gullar, “A arte existe porque a vida não basta”.