Julio Gomes

julio gomesCausou preocupação o fato de ter ouvido de um idoso daqui de Ilhéus, ontem, que não iria tomar a vacina contra a Covid-19, que será disponibilizada para os idosos com 80 anos ou mais na próxima segunda e terça-feira, dias 25 e 26/01, conforme está sendo amplamente noticiado por diversos veículos de imprensa de nossa cidade.Sem intimidade para atalhar a conversa de desconhecidos e precisando retornar ao trabalho, apenas escutei e nada disse, me retirando com sombrias reflexões a rondar na mente, projetando pesares para o futuro.

A ampla campanha obscurantista protagonizada recentemente por determinados setores da sociedade contra a vacinação no Brasil é algo sem precedentes em nossa história recente. Só nos lembramos de algo parecido com isso há distantes mais cem anos atrás quando, nos idos de 1904, no Rio de Janeiro, populares insuflados por lideranças políticas mal-intencionadas se rebelaram contra a vacinação contra a varíola, transformando aquela cidade em um campo aberto de batalhas.

Ao final, graças sobretudo à firmeza do médico sanitarista Oswaldo Cruz, a cidade do Rio de Janeiro foi saneada e a varíola, poucos anos depois, desapareceu daquela urbe.

Entretanto, a obscurantista campanha antivacina feita atualmente, com base em fake News, extremismos religiosos e muito aproveitamento da ignorância alheia, deixará marcas em nossa sociedade.

Além dos que se recusarão, hoje, a se vacinar, expondo a si e às demais pessoas aos riscos da Covid-19, esta mentalidade atrasada se projetará para o futuro, levando os pais mais entusiasmados com tais ideias a não vacinar os filhos contra tétano, difteria, sarampo, coqueluche, paralisia infantil, meningite e outras doenças terríveis que estão quase erradicadas, mas que podem voltar a estender seus braços de morte e sequelas para toda a vida, com que já infelicitaram milhões de seres humanos.

Afinal – raciocinarão os incautos – se a vacina contra a Covid-19 não presta, sendo apresentada como tão perigosa, por que motivo as demais vacinas haverão de prestar?

Àqueles que optam por não se vacinar, dando as costas às evidencias científicas e ao mais elementar bom senso, destino um pedido: caso venham a sofrer ou a contaminar alguém por mal evitável mediante vacinação, não culpem a Deus, nem ao destino, nem ao acaso, acerca daquilo que resultou de uma opção pessoal.

A ciência, a medicina e, creio eu, a Divina Providência permitirão a nós, a partir de agora, o acesso à vacinação. Cabe-nos, mediante o uso do livre arbítrio, optar e arcar com as consequências da opção feita, que recairão sobre nós e sobre terceiros.

Não culpe a Deus por aquilo que você, insensato, decidiu deixar de fazer. Isso vale não só para a vacinação, mas para tudo na vida.

Julio Cezar de Oliveira Gomes é graduado em História e em Direito pela UESC – Universidade Estadual de Santa Cruz.