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Oscar D’Ambrosio

Falecida em 18 de dezembro último, a artista visual Mirthes Bernardes tinha uma forte ligação com árvores. Tinha fascinação pelo tema desde criança e via nelas, com a sua constituição em partes, como raízes, tronco, galhos, folhas, flores e frutos, como uma metáfora de trajetórias existenciais e de elevação pessoal e espiritual.

Uma das principais expoentes nacionais da arte de esmaltar sobre placas de cobre, a artista tem, como obra mais conhecida, mas poucas vezes creditada adequadamente, o calçamento padronizado da cidade de São Paulo, representado pela estilização do mapa estadual e escolhido para integrar a paisagem citadina por meio de concurso público.

Com ampla experiência na tapeçaria, escultura, desenho e pintura, Mirthes encontrou, no esmalte, um universo de possibilidades e, nas paisagens, com árvores como protagonistas, a sua linguagem poética. Estabeleceu, assim, atmosferas de encantamento em que as composições, com céus ao fundo, geram universos visuais que cativam o observador.

Arte que encontra antecedentes há mais de 3 mil anos, no Antigo Egito, a aplicação do esmalte sobre metais e outros materiais chegou ao Brasil em meados do século XX, trazida por imigrantes franceses e alemães.

Para Mirthes, essa linguagem funcionou como um campo de pesquisa de cores, formas e sensibilidades. Integrante do Nubrae (Núcleo Brasileiro da Arte do Esmalte) e com obras em países como França, Suíça, Estados Unidos e Alemanha, a artista oferece, com suas paisagens, uma criação de portais que possibilita a passagem para um mundo em que expressivas árvores, com todo seu simbolismo, e cores, cuidadosamente desenvolvidas, se integram e fascinam.

A sua partida deixa em todos nós a marca de uma bela árvore frondosa a nos tornar pessoas melhores.

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Oscar D’Ambrosio é graduado em Jornalismo pela USP, mestre em Artes Visuais pela UNESP e doutor e pós-doutor em Educação, Arte e História da Cultura pela Universidade Mackenzie.