Eulina Lavigne

 

eulina lavigneA semana passada li o artigo em que a querida comunicóloga, conselheira municipal de Cultura de Ilhéus e gerente de comunicação do Instituto Nossa Ilhéus, Tacila Mendes, perguntava Quanto custa economizar na cultura?

Toda esta reflexão surgiu em função da última reforma administrativa do governo municipal que para reduzir custos integrou a Secretaria de Cultura com a de Turismo, rebaixando a gestão da cultura a uma Superintendência.

E fiquei a pensar qual resposta poderia dar a esta pergunta. Sendo terapeuta clínica e também agricultora comecei a pensar a partir de mim e me veio aquelas três perguntinhas básicas: o que é que eu sou? Onde estou? E para onde vou?

A partir do reconhecimento de mim eu posso ver o outro e este reconhecimento passa por toda a minha história. O local onde nasci, os seus costumes, a sua comida,  o que incorporei deste lugar, e o quanto estas memórias corporais contribuem na forma como eu me expresso e me relaciono com as pessoas. Toda esta energia vivenciada vai me dizer quem eu sou e de onde sou.

 

É a cultura local que vai, a todo momento, evidenciar a minha história, lembrando para mim o quanto ela interfere no meu modo de ser. Me conta a história dos meus ancestrais e o que preciso fazer para manter esta cultura, alterá-la e aperfeiçoá-la. É a cultura que vai me dar o norte.

Para onde eu vou e onde quer que eu vá vou levá-la comigo. Vou contar a minha história para quem chega, a história do meu lugar e assim me sentir pertencente a ele.

Se eu perco as minhas referências, se não sei a minha história, não me sentirei pertencente. Pertencente a mim. Uma das ordens do amor, que o criador da Constelação Familiar, Bert Hellinger, nos ensina é o Pertencimento.  Necessidade de pertencimento.

Pertencer não diz respeito apenas a família. Diz respeito, também, ao lugar de origem, onde nascemos e onde vivemos.  Preciso alimentar este senso de pertencimento para que eu honre, conheça cada vez mais, cuide e dissemine este lugar. Esta alimentação deve vir por meio dos gestores públicos,  das escolas, faculdades e universidades locais que devem associar o aprendizado às nossas vocações.  Precisam trabalhar em prol desta cultura, para que cada Ser sinta-se honrado em pertencer ao lugar onde vive.

E você deve estar me perguntando. Sim, e o que isto tem a ver com a saúde? E com o turismo?

Tudo. Se não nos vinculamos ao lugar em que vivemos adoecemos aos poucos pois  nos distanciamos de nós. Reclamamos, entramos na queixa, deixamos de nos responsabilizar e as coisas acontecem e os nossos representantes fazem com a nossa cidade o que desejamos e o que não desejamos, a exemplo de reduzirem os investimentos com a cultura e ninguém se pronunciar. As praias da cidade se tornam um verdadeiro depósito de lixo, as ruas esburacadas, os hospitais sem atendimento digno, e por aí vai e lhe pergunto: quem será que vai adoecer?

Se você não se vincula você vai embora. E quem vem para esta cidade? O turista? Quem vai contar a nossa história? Jorge Amado?

A cultura é tudo isto. Eu não nasci em Ilhéus e tenho uma vinculação forte com a cidade por conta dos meus ancestrais. Meu avô foi prefeito de Ilhéus, meu pai passou a sua infância aqui e eu uma parte da minha. Meu tataravô, François Gaston Lavigne, um dos membros da embaixada francesa trazido por D. João VI foi um dos pioneiros na cultura do cacau. Como sei disso? Histórias que ouço e registros em livros que leio. Pura cultura.

E quando se reduz investimentos na cultura o efeito é dominó. Cidade sem eventos culturais, memórias esquecidas, pessoas apáticas, enfraquecimento do turismo, decadência econômica.

E quanto custa mesmo economizar na cultura? Sinto que é um custo altíssimo! De repercussão imensurável!

E espero que quem esteja a frente desta Superintendência, que deve ser Super,  tenha competência suficiente para assobiar e chupar cana. Pois o que sei é que a Cultura merece um lugar especial na gestão do nosso município. Merece Políticas Públicas bem traçadas e executadas!

E você? Já fez as contas do quanto custa?