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No fim do ano passado, o governo estadunidense divulgou um relatório-bomba endereçado a Henry Kissinger, então secretário daquele país. O documento, emitido pelo diretor da CIA, William Egan Colbim, em abril de 1974, mostra – mais do que as práticas fascistas, criminosas e assassinas adotadas pelos generais golpistas do Brasil – o nível de subserviência com que os militares cultivaram as relações com os Estados Unidos. Percebe-se que o capitão Bolsonaro, fã de carteirinha dos torturadores da época, tem a quem puxar.

Poderia causar espanto e indignação a parte do relatório que fala de uma reunião privada entre o general Geisel (presidente de plantão) e os generais Milton Tavares de Souza, Confúcio Dantas de Paula Avelino e João Figueiredo: é que nesse encontro, segundo a CIA, foi discutida a continuidade da “política de execuções sumárias” do regime, adotada desde o governo do general Emílio Garrastazu Médici.

É inacreditável (para quem não viu ”de perto” as atrocidades perpetradas contra o opositores da ditadura) o nível das práticas utilizadas para “eliminar” o perigo causado pela “ameaça subversiva”, bem como a urgência com que o assunto foi comunicado aos “patrões”, via Kissinger. E para que não reste dúvida, “ameaça subversiva” era a denominação dada pelos militares aos grupos políticos e sociais que lutavam pelo retorno da democracia brasileira.

Ainda no documento, o diretor da famigerada CIA informa a Kissinger que, na referida reunião, o general Milton detalhou todo o “trabalho” executado pelo Centro de Inteligência do Exército (CIE) nos últimos anos do governo Médici.

Coube ao mesmo  general Milton dar a boa notícia, sobre o trabalho da “inteligência” militar: “Cerca de 104 pessoas nesta categoria foram sumariamente executadas pelo CIE durante o ano passado, ou pouco antes”. O relatório da CIA acrescenta que “Figueiredo apoiou essa política e insistiu em sua continuidade”.

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Durante desfile em Belo Horizonte, em 1970, homem é torturado no pau-de-arara, “ao vivo” – transportado por dois índios “fantasiados” de militares, e visivelmente constrangidos

Diga-se que veio a público apenas uma parte do relatório da CIA, a parte “mais doce”, digamos assim, o que no0s condu8z `à reflexão óbvia: Se a execução sumária de 104 cidadãos brasileiros pelo alto comando do exército foi considerada algo passível de ser divulgado, imaginem o que mantiveram em segredo.

É esse tempo sombrio que nos espreita em cada recanto do Planalto Central da República, na perspectivav de voltarmos a um tempo sem lei e sem paz, quando fica proibido pensar ou agir fora dos manuais militares.

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Criança constrange o general João Figueiredo, o último ditador da série verde-oliva

Por enquanto, as execuções ainda não são “oficiais”: restringem-se aos habitantes da periferia das grandes cidades, num ensaio de faxina “social” que ainda não atingiu (salvo as exceções de Marielle, Jean Willis e Márcia Tiburi) o estágio de “faxina ideológica”, propriamente.

Virose

Do youtuber Felipe Neto, após o capitão Bolsonaro dizer que o holocausto deve ser perdoado:

“Nosso presidente tem a capacidade mental de uma azeitona”

 

(As diatribes do Barão e sua equipe são publicadas às terças e sábados, quer chova, quer faça sol)