José Nazal

ze nazalEm Ilhéus há duas antigas praças, muito próximas, margeando a avenida beira-mar, onde tudo acontece, denominada de Soares Lopes. São as praças dedicadas a dois ilustres baianos, o poeta Castro Alves e o jurista Ruy Barbosa.

Um velho frequentador das praças, o bancário Coló, apreciador de uma boa pinga e fumante inveterado, era apaixonado pelo “Poeta dos Escravos” e adversário número um do “Águia de Haia”. Coló, no auge do seu ‘’porre”, era o mensageiro, o pombo correio que levava e trazia os recados entre os bustos dos ilustres homenageados. Na maioria, recados desaforados.

Coló morava mais próximo da praça de Antônio, nome pelo qual ele se dirigia ao ídolo e amigo íntimo, o poeta baiano Antônio Frederico Castro Alves. Diante do busto deste, bradava em alto e bom som: “Antônio, vim lhe dizer que o tal do Ruy desafiou você. Acabou de me dizer que encontrou erros de português em seus versos! Vim aqui te dizer isso e pedir permissão para voltar lá e dizer uns desaforos a ele. Tá pensando o quê, o tal jurista? Que é mais importante que você? Vou lá e volto já”.

Partia Coló, calmamente e num equilíbrio perfeito, com a solenidade que apenas os bêbados têm para a praça de Ruy. Lá chegando, desancava o jurista com o recado que trazia a resposta de Castro Alves. Depois do recado, a depender do que ouvia nos resmungos de Ruy, passava a xingá-lo com todos os impropérios que conhecia.

Assisti a essas cenas diversas vezes. Quem não viu tem o direito de acreditar. Sabe o que penso? O mesmo que pensava o humorista Chico Anysio. Tem gente que morre e ao invés de tristeza devíamos sentir pena. Gente?  como Antônio, Ruy, Coló e outros figuras folclóricas não deviam morrer nunca!

*José Nazal é vice-prefeito de Ilhéus e um apaixonado pela história da cidade e de seus personagens.