terceira mesa flicaAutora do livro Divã, que virou filme, a escritora Martha Medeiros bateu um papo descontraído com Veronica Stigger, autora da obra que recebeu o nome polonês Opisanie Swiata (Descrição do Mundo, em português). O debate com o tema “Paisagens Múltiplas” encerrou a programação desta quinta-feira (15) da Festa Literária Internacional de Cachoeira.

Martha disse que é preciso desmitificar a chamada “inspiração” atribuída aos escritores. “Essa palavra inspiração é uma armadilha. Não existe isso. É um trabalho diário”, definiu a autora, que também escreve em colunas de grandes jornais do país. “Eu estou escrevendo todos os dias. Tem dias que tenho branco, então sempre preciso ter textos reservados para não deixar o jornal sem texto. Quando acho que tem uma qualidade mínima eu arrisco, mas acho que é algo instintivo”, explica.

“Ficção não é o enredo em que me saio melhor. Eu só tento escrever. Os personagens são descritos, mas nunca tem cenário. Descrevo o que os personagens estão sentindo e é um cenário emocional”, contou Martha. Ela diz que, apesar de o fato de ter muitos livros publicados dar a impressão que é uma escritora de sucesso, ainda se sente amadora. “Eu continuo tentando e aprendendo”, completou a autora.

Verônica também compartilhou que o processo criativo é fruto de histórias que ouve das pessoas que conhece. “As pessoas me contam histórias e acabo transformando isso em ficção. Tem várias coisas que me chamam atenção e acabam ingressando nas histórias. Todos os meus livros são textos que assumem formas diferentes, seja de conto ou romance. Vai depender da ideia que eu tenho, de que forma é melhor para contar essa história”, contou.

“Acho que a literatura, assim como a arte em geral, nos ajuda a ver melhor as coisas. A literatura ‘desautomatiza’ a nossa percepção. A arte nos ajuda a perceber as coisas mais efetivamente. Chama atenção para algo que está ali e nos faz perceber pela primeira vez. O livro nos inquieta por outras razões e abre um mundo paralelo, não no nosso plano cotidiano. É quase como viajar”, compara a autora.

Martha ainda falou sobre a dificuldade em lidar com a disseminação de textos da sua autoria na internet, o que acaba fazendo com que sua escrita seja compartilhada como se fosse de outro autor ou que sua autoria seja atribuída a textos de outros escritores. “Eu sei que a internet me ajudou a divulgar demais, mas fico feliz quando sou lida nos livros e jornais, porque sei que as pessoas estão lendo na fonte. É muito melhor”, admitiu. (do G1)