cuba ebola

Corajosos. Competentes. Resolutos. Com uma visão global da medicina extremamente necessária em momentos como o da atual epidemia do ebola. Em editorial publicado nesta segunda-feira 20 e intitulado “O Comovente Papel de Cuba em relação ao Ebola”, o The New York Times tece loas à medicina cubana e diz ser uma vergonha, em momento crucial para se evitar a disseminação do vírus, que os EUA mantenham o embargo econômico à ilha caribenha. “É uma pena que Washington, o principal financiador econômico do combate ao Ebola na África, não mantenha relações diplomáticas com Havana, cuja ação no combate ao vírus é a mais valente”, diz o editorial, ilustrado no site do jornal com imagens de médicos cubanos chegando a aeroporto em Serra Leoa.

Em extensa reportagem, o Washington Post já havia, no início do mês, tratado da importância do que considerou a “ação crucial” de Cuba na tentativa de se acabar com a epidemia do ebola, em contrapartida à apatia da comunidade internacional. Descoberto nos anos 70, o vírus do Ebola causa febre hemorrágica com grande probabilidade de morte e não há vacina para combatê-lo. Pela primeira vez em quatro décadas o Ebola chegou, este ano, a grandes centros urbanos da África Ocidental, não se restringindo mais a áreas rurais e aumentando a probabilidade de expansão global da epidemia.

Nos EUA, duas enfermeiras do hospital de Dallas que tratou do primeiro paciente, oriundo da Libéria, que desenvolveu os sintomas do Ebola em solo americano, foram igualmente contaminadas, apesar de seguirem, de acordo com a direção do Hospital Presbiteriano, todas as recomendações do Centro de Controle de Doenças Infecciosas (CDC). A Organização Mundial da Saúde (OMS), que coordena com Havana o treinamento e envio de médicos cubanos para a Serra Leoa, anunciou que o número de casos de ebola deverá ultrapassar os 9 mil esta semana, com pelo menos 4.500 mortes, em sua quase totalidade na África. O organismo estima que, até o fim do ano, se o combate ao vírus não aumentar de forma dramática, de 5 a 10 mil casos serão confirmados por semana.

“A contribuição cubana é, sem sombra de dúvidas, pelo menos em parte, reflexo de sua tentativa de enfrentar o cerco internacional que vive. Ainda assim, deve ser saudado e repetido mundo afora”, frisa o editorial do diário mais influente do planeta. O New York Times frisa ainda que o pânico global gerado pelo ebola não está sendo enfrentado com a mesma coragem – “são os médicos cubanos que estarão na linha de frente e em risco de serem contaminados na África” – pelos países mais ricos do planeta. “Somente Cuba e algumas ONGs estão oferecendo o que mais se precisa naquela região: médicos”. Também são cubanos boa parte dos profissionais de saúde contratados pelo governo brasileiro para o programa Mais Médicos, atuando em áreas rurais e/ou desprovidas de atendimento contínuo. De acordo com a OMS, mais de 450 profissionais da saúde foram infectados na África Ocidental desde a explosão da epidemia este ano. O Times lembra que posições políticas e ideológicas precisam ser deixadas em segundo plano quando se trata de saúde pública: “Neste caso específico, a cisma entre Washington e Havana tem consequências de vida ou morte, já que não há coordenação entre as duas equipes. Este episódio deveria funcionar como um lembrete à administração Obama dos benefícios de se restaurar os laços diplomáticos com Cuba”.

Tanto o Times quanto o Post afirmaram que a decisão da OMS de treinar médicos cubanos para o combate ao Ebola, de acordo com várias fontes de alto-escalão da administração Obama, foi efusivamente comemorada, ainda que não em público, pela Casa Branca. O governo sofre com os erros nos primeiros tratamentos a pacientes que desenvolveram o Ebola nos EUA e até mesmo candidatos do partido ao Senado na eleição de meio-termo, que acontece na primeira semana de novembro e poderá entregar a Câmara Alta à oposição, atacam o combate oficial ao Ebola.

Times se preocupa por não estar claro se eventuais médicos cubanos contaminados pelo Ebola serão transportados para fora da África e tratados com excelência, já que “a maioria das seguradoras de saúde responsáveis por evacuação médica se negam a cuidar de transporte de pacientes com Ebola”. “Em uma questão de bom-senso e compaixão, as forças armadas americanas, com seus 550 soldados na África Ocidental, deveriam se comprometer em transportar qualquer médico cubano eventualmente contaminado e tratá-lo em um dos centros de treinamento erguidos pelo Pentágono em Monróvia, capital da Libéria. O trabalho dos cubanos beneficia todo o globo e deveria ser reconhecido por todos”, pede o editorial.

O texto lembra ainda que Cuba ofereceu ajuda médica aos EUA no desastre do furacão Katrina em Nova Orleans, embora tenha sido “ sem qualquer surpresa”, rejeitada pelo governo Bush. O secretário de Estado, John Kerry, se limitou, no entanto, a celebrar “a coragem de qualquer trabalhador da área de saúde que decide enfrentar este desafio”, depois de reconhecer rapidamente a ajuda cubana.

Dos 460 médicos cubanos treinados pela OMS, 165 já começaram a trabalhar na Serra Leoa nesta semana. O Times afirma que Havana tem papel destacado para finalizar a tarefa por seus profissionais já terem trabalhado anteriormente na África e bisa aspas do uruguaio José Luis Di Fabio, da OMS, de que “seus médicos são extremamente competentes”. O texto termina com uma menção ao texto de Fidel Castro publicado no Granma no fim de semana: “Ele escreve que Cuba e os EUA deveriam colocar suas diferenças de lado, ainda que temporariamente, a fim de combater este flagelo mortal. Fidel Castro está completamente certo”.