A presidente Dilma Rousseff abriu seu pronunciamento na abertura da 68ª Assembleia Geral da ONU batendo duro na espionagem praticada pelos Estados Unidos contra o governo brasileiro. Ele chamou o ato de “ataque à soberania nacional e aos direitos humanos”: “Jamais pode o direito à segurança dos cidadãos de um país ser garantido mediante a violação de direitos humanos dos cidadãos de outro país”, disse. O discurso foi encerrado às 11h08 (horário de Brasília).

Dilma lembrou que o Brasil vive em paz com seus vizinhos “há 140 anos” e que, por isso, não via motivos para sofrer qualquer tipo de desconfiança de países amigos. “O Brasil sabe proteger-se. Repudia, combate e não dá abrigo a grupos terroristas”, disse a presidente, lembrando que o Brasil é um país democrático. “O terrorismo merecerá sempre nossa condenação e nossa firme determinação em combatê-lo. Jamais transigiremos com a barbárie.”

A presidente afirmou acreditar que as práticas de espionagem feitas pela governo americano, “não somente contra o Brasil”, podem ser financiadas por empresas privadas. Ela foi enfática na defesa da criação de “um mecanismo multilateral para controle da internet de maneira democrática”. E avisou que o Brasil tomará medidas próprias para se defender de nova tentativas de invasão de privacidade.

Dilma lembrou no discurso que o país exigiu uma explicação dos Estados Unidos sobre o episódio. Apesar de ter se reunido com Obama, à margem de uma reunião do G20 na Rússia, e de ter falado ao telefone com ele, o Brasil considerou não ter recebido uma solução satisfatória, o que a fez adiar a viagem de Estado e levar a questão à ONU.

“Fizemos saber ao governo norte-americano nosso protesto, exigindo explicações, desculpas e garantias de que tais procedimentos não se repetirão”, afirmou no discurso.

A presidente lembrou ainda que a ONU deve desempenhar um papel de liderança no esforço de regular o comportamento dos Estados com relação à Internet.

Na segunda parte de seu discurso, Dilma lembrou as conquistas sociais alcançadas pelo Brasil, por meio de uma política econômica pautada pelo objetivo do crescimento, continuam a avançar. Fez referência direta às manifestações de junho, afirmando que ela própria cresceu em meio a lutas por conquistas democráticas. “As ruas são o nosso chão, a nossa base”.

Dilma tocou, ainda, na importância de uma “reforma na governança do FMI”, com maior presença de países emergentes, e na ampliação, até 2015, no Conselho de Segurança da ONU. “O abandono do multilateralismo é o prelúdio de guerras”, disse ela, defendendo a ampliação do Conselho.

A questão da Síria foi abordada na parte final do pronunciamento. “Não há solução militar possível”, cravou. “A saída é a negociação”. Dilma classificou a guerra na Síria como a maior tragédia humana “deste século”.

“Por essa razão, o Brasil apresentará propostas para o estabelecimento de um marco civil multilateral para a governança e uso da Internet e de medidas que garantam uma efetiva proteção dos dados que por ela trafegam”, afirmou. (Com informações de Daniel Trotta, da Reuters)