“Não dar o peixe, mas ensinar a pescar, capacitando os pescadores a construir e conservar suas embarcações”. Essa é a filosofia do Projeto Renovar, da Bahia Pesca, empresa vinculada à Secretaria da Agricultura (Seagri), cuja primeira etapa foi lançada nesta segunda-feira, no município de Maraú, pelo secretário estadual da pasta, engenheiro agrônomo Eduardo Salles, e pelo diretor técnico da Bahia Pesca, Jorge Figueiredo. “Hoje é um dia histórico para a pesca na Bahia”, disse Salles, explicando que “esse é um programa estruturante, que vai dar sustentabilidade à cadeia da pesca, gerando renda e garantindo segurança para o pescador no mar”.

Nesta primeira etapa, 60 barcos de fibra estão sendo construídos por técnicos que capacitam os pescadores na construção e conserto dos barcos, caso no futuro sejam avariados. Os barcos, que terão motor de popa, serão entregues juntamente com material de salvatagem (coletes) para utilização de 180 pescadores, (três por embarcação). O projeto pretende alcançar toda a Bahia e, para que isto seja efetivado, o secretário, no final do ano passado, apresentou um catalogo de projetos incluindo este, aos deputados estaduais e federais e aos senadores baianos sugerindo que emendas parlamentares fossem disponibilizadas para tal fim.

O lançamento desta etapa do programa foi bastante prestigiada, contando com a presença da prefeita Maria das Graças Viana, vereadores, representantes das comunidades de pescadores , o presidente da colônia de pesca de Maraú, Ton Ton, representando o presidente da Federação dos Pescadores do Estado, José Carlos da Pesca, centenas de marisqueiras e pescadores.

O programa constitui-se na implantação de estaleiros itinerantes, onde pescadores selecionados vão aprender a construir as embarcações de fibra com motor de popa, de 7,04 metros de cumprimento por 1,45. Todo processo dura quatro dias, ministrado por técnicos experientes da Bahia Pesca. “Parabenizo toda equipe da Bahia Pesca, especialmente o diretor técnico Jorge Figueiredo, idealizador e batalhador para que este projeto acontecesse”, afirmou Eduardo Salles.

O objetivo do projeto, explica Jorge Figueiredo, é renovar a frota dos pequenos pescadores, substituindo as canoas de madeira, que além da dificuldade de recuperação, encontraria barreiras de natureza ambientais. Na península de Maraú existem 153 embarcações velhas, das quais 60 estão sendo substituídas agora. O molde utilizado para a confecção dos primeiros barcos poderá permanecer com a prefeitura local, que assumiu o compromisso de tentar no futuro fazer uma nova parceria com o Estado e comprar materiais para a construção de mais barcos.

“Isso significa geração de renda, melhores condições de vida e segurança para os pescadores”, disse a prefeita do município, Maria das Graças Viana, destacando que, apesar da abundância de peixe nas águas da península, o município sofre com o desabastecimento de pescado, por falta de condições dos pescadores. “Agora essa realidade será transformada”, afirmou, explicando que os 180 pescadores selecionados, na maioria, não possuíam barcos, pescavam em embarcações emprestadas ou de forma artesanal.

Benção de Deus

Para o pescador Edson Góes dos Santos, de 42 anos, que tira o sustento do mar desde a infância, “receber esse barco é uma verdadeira benção de Deus. Nós nunca iríamos conseguir comprar um assim”. Até então ele pescava usando manzuá e nem sabe quanto ganhava por mês, porque “tudo que conseguia ganhar com a pesca em um dia gastava logo na compra de mantimentos para a família e não sobrava nada para outras despesas”.

A situação de Teófilo Barbosa, que vai partilhar o barco com Edson, parceiro de pescaria há muitos anos, é idêntica. “Fico feliz de ver o governo olhando para nós e dando condições para melhorar de vida. Agora nós vamos poder pescar e ganhar dinheiro”, disse.

Conversa franca em Ibiaçu

Na manhã de segunda-feira, horas antes de lançar o programa Renovar na sede do município, o secretário Eduardo Salles teve a oportunidade de debater com centenas de agricultores familiares dos 18 distritos de Maraú, a estruturação da agropecuária da região. Na carroceria de um caminhão, estacionado debaixo de uma árvore, ao lado da prefeita Maria das Graças Viana, secretários municipal de agricultura, presidentes de associações e técnicos da Ceplac e EBDA/Seagri, e do diretor de Agricultura da Seagri, Antônio Almeida Júnior, o secretário ouviu as demandas dos produtores e discutiu soluções.

O endividamento dos agricultores foi tema recorrente e para solucionar essa questão o secretário disse que vai solicitar ao Banco do Nordeste do Brasil que realize um mutirão, semelhante ao que será feito nesta quarta-feira (8) em Ourolândia, e em Maragogipe (10), para orientar os produtores e equacionar as dívidas, promovendo a renegociação.

O secretário explicou ainda todos os passos dados pelo governo na busca de soluções para as questões do cacau, entre elas, o estabelecimento pelo Ministério da Agricultura do preço mínimo, possibilidade de manejo florestal sustentável, ajustes nas questões das importações, estimativa de safra passar a ser feita pela Conab, as questões dos endividamentos dos cacauicultores e as linhas de credito do FNE Verde no sistema agroflorestal.