:: nov/2010
“Parecia uma bonequinha”

Ana Clara Galdino, de quatro anos de idade, brincava com as amiguinhas na porta de sua casa, uma residência modesta no bairro Califórnia, periferia de Itabuna.
De repente, desapareceu sem deixar vestígios.
Como se fosse natural uma criança desaparecer enquanto brinca na porta de casa, mesmo diante de tantas coisas sobrenaturais que ocorrem numa periferia dominada pela violência, pelas drogas e pelo medo.
Ana Clara, que brincava com as coleguinhas quando foi raptada sem que ninguém desse conta, tornou-se um hiato.
Onde estaria Ana Clara? Perguntaram os familiares, os amigos, já que, aparentemente, ninguém viu nem ouviu nada.
O medo, como se sabe, costuma provocar cegueira e surdez. Ninguém está seguro em locais em que a presença da polícia é quase miragem.
Quatro dias depois, soube-se finalmente onde estava Ana Clara.
Ou o que havia restado da menina meiga, doce e brincalhona, na ingenuidade angelical de seus quatro aninhos de vida.
Ana Clara era apenas um corpinho abandonado num terreno baldio. Estava morta.
Ana Clara teve os cabelos raspados, o que pode indicar algum tipo de ritual macabro.
Ao lado do corpo de Ana Clara foram encontrados preservativos usados, o que pode sinalizar que ela foi vítima de violência sexual, antes ou depois de ser morta.
Com ou sem ritual macabro ou violência sexual, a morte da menina Ana Clara é dessas coisas que chocam pela brutalidade.
Porque o simples ato de matar já é injustificável.
Que monstruosidade é essa que tira a vida de uma criança?
Que insanidade é essa que transforma seres aparentemente humanos em monstros?
Que mundo é esse em que a vida não vale nada, em que crianças desaparecem enquanto brincam e reaparecem mortas num terreno baldio?
Ana Clara Galdino, 4 anos.
“Parecia uma bonequinha”, disse à polícia a mulher que encontrou o corpo.
Uma bonequinha.
À brutalidade, soma-se a ironia involuntária.
Ana Clara brincava justamente de boneca com suas amiguinhas quando foi tragada por monstros, não de fantasia, mas tragicamente reais.
A CULPA É DOS "MISERÁVEIS"
O preconceito contra as pessoas que deixaram a pobreza e ascenderam à classe
média atinge as raias do absurdo.
Olhem o que disse um “comentarista” da RBS, retransmissora da TV Globo em Santa
Catarina.
Até a culpa pelos acidentes de trânsito é dos ex-pobres.
Vergonhoso!!!
Se botarem um bigodinho nesse imbecil, fica a cara de um certo Adolf…
O de baixo sobe. E o de cima, desce?

Após anos de sofrimento, que incluíram passagens pela pantanosa 3ª. Divisão, o Bahia está de volta à 1ª. Divisão do futebol brasileiro.
A partir de 2011, o time que possui uma das mais apaixonadas e fiéis torcidas do país, volta ao palco principal, para enfrentar times como Flamengo, Vasco, Botafogo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras, Inter, Grêmio e Cruzeiro.
Um verdadeiro banquete para quem, nesses tempos medonhos, andou medindo forças até com timecos do Acre, Amazonas, Maranhão e Paraíba.
O Bahia, bicampeão brasileiro (o primeiro deles sobre o Santos de Pelé) e incontáveis vezes campeão estadual, por conta de direções desastrosas, perdeu a hegemonia local para o arqui-rival Vitória e virou figurante no cenário nacional.
A volta à 1ª. Divisão é o resgate de um clube cuja torcida é maior do que o time. Apesar de o acesso ter sido conquistado com duas rodadas de antecedência, a trajetória na Segundona em 2010 não foi o passeio que aparenta.
O Bahia fez uma campanha irregular, perdeu jogos fáceis em casa, trocou de treinador e mudou o elenco. Mas, num campeonato sem dos chamados ´grandes´ do futebol brasileiro, cresceu na hora certa.
E, o que conta, chegou lá, para a alegria dos torcedores que anteciparam o carnaval de Salvador, para festejar a redenção.
A volta à 1ª. Divisão é para ser festejada mesmo.
Passada a euforia, aí sim, é hora de fazer o planejamento, para evitar o retorno efêmero e uma nova queda em 2011.
Tão ou mais difícil do que subir é permanecer na 1ª. Divisão e – sonhar não paga imposto- brigar pelo título ou ao menos uma vaga na Libertadores.
Enquanto o de baixo sobe, a pergunta que se faz é: o de cima, desce?
O Vitória tem três jogos para responder a essa pergunta. Três jogos para definir se teremos BA-VI na 1ª. Divisão de 2011 ou se apenas trocamos um pelo outro.
Para o futebol baiano, é bom que tenhamos os dois.
Mas isso agora é com o Vitória.
O Bahia já fez a parte dele.
Liderança Nacional
Em 2006, ao trocar o deixar a confortável condição de um dos ministros mais próximos e contando com a confiança absoluta de Lula, responsável direto pela redução do impacto do mensalão sobre a imagem do presidente, para disputar o Governo da Bahia, Jaques Wagner parecia estar mergulhando numa aventura, daquelas que colocam em risco uma carreira política em franca ascensão.
À época, a vitória do então senador Antonio Carlos Magalhães, ora representado pelo ungido do momento, Paulo Souto, parecia favas contadas. A eleição seria mera formalidade, para uma nova coroação do carlismo em sua fazendola baiana.
Wagner ganhou a eleição, pondo fim a um modelo de governo que já durava mais de duas décadas e que, a despeito da propaganda ufanista, que vendia aos baianos e brasileiros a versão de um paraíso na Terra, encontrou um estado com os piores indicadores sociais do país, além de uma estrutura administrativa obsoleta e/ou sucateada.
Era preciso arrumar a casa, implantar um novo modelo de gestão e, acima de tudo, romper com um modelo coronelista, que parecia arraigado na política baiana, desde os séculos e séculos amém.
Wagner, então, encarou a tarefa que lhe custaria uma espécie de ´exílio baiano`, deixando de lado os holofotes de Brasília, para fazer o governo funcionar de forma integrada, apesar da mal disfarçada oposição dos aliados peemedebistas dentro da própria máquina administrativa, que na segunda metade de sua gestão optaram pelo rompimento, o que, longe de resultar em prejuízos, resultou numa gestão mais coesa.
Desafios não faltaram, especialmente nas áreas de segurança pública e de saúde, onde não se operam milagres e os resultados dos investimentos realizados demandam tempo.
Mas houve avanços consideráveis na infra-estrutura, educação, agricultura, indústria e comércio e, principalmente, nos programas de inclusão social, que estão transformando em realidade aquilo que era apenas um belo slogan: “Bahia de todos nós”.
De azarão em 2006, Jaques Wagner passou a favorito absoluto na sua tentativa de reeleição em 2010. Confirmou esse favoritismo, vencendo já no 1º. turno, com 63% dos votos válidos.
A vitória, uma das mais expressivas do País, por si só já serviria para consolidar Wagner como um dos governadores mais influentes do Brasil.
Veio o 2º. turno da sucessão presidencial e o governador , a exemplo do que já havia feito no 1º turno, mergulhou de corpo e alma na eleição de Dilma Roussef. Ciente do peso que José Serra teria em São Paulo e no Sul do País, comprometeu-se a dar a Dilma uma vitória com 70% dos votos dos baianos.
E cumpriu.
Jaques Wagner é apontado hoje como o governador do PT que terá maior influência no Governo Federal e como uma das lideranças emergentes neste novo quadro que se forma na renovação das forças políticas brasileiras.
Sem deixar a Bahia de lado, porque esse é seu foco e ainda há muito a ser feito, Wagner tem tudo para se consolidar como líder de dimensão nacional.
Uma liderança construída e consolidada através do diálogo e da relação de respeito com aliados e adversários políticos; e não da truculência, perseguição e intimidação.
É a hora e a vez de Jaques Wagner.
“Dotô” Tiririca
Acabou a, perdão, palhaçada.
Submetido a um teste realizado pelo Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo, o deputado federal eleito Tiririca (PR), mostrou que sabe ler e escrever, pondo fim aos boatos de que seria analfabeto.
Durante duas horas, Tiririca, que teve 1,3 de votos, leu notícias publicadas por um jornal de São Paulo e escreveu trechos de um livro jurídico, ditado por um juiz.
Agora, já pode mandar fazer o terno de posse e ser chamado de sua “celença” pelos (nem tão) nobres pares do Congresso Nacional.
PERIGOSAMENTE, IRRESPONSAVELMENTE

No final de semana, um jovem de apenas 22 anos, que estava parado numa moto, ao lado da namorada, foi atingindo por um motorista, que dirigia um veículo e, de acordo com testemunhas, estava visivelmente embriagado.
O mototaxista foi arrastado pelo condutor do veículo, que trafegava na contramão.
O resultado do acidente foi trágico para o jovem, que teve parte da perna amputada.
Como se recusou a fazer o teste do bafômetro, o motorista causador do acidente vai responder na justiça por lesões corporais.
E o jovem que perdeu parte da perna é que vai pagar o preço, alto, da imprudência alheia.
Imprudência.
Essa é a palavra que explica esse e inúmeros outros acidentes, que fazem do trânsito brasileiro um dos mais violentos do mundo, que mata e aleija em escala industrial.
Imprudência que se revela em excesso de velocidade, ultrapassagens arriscadas e no completo desrespeito às leis de trânsito.
E ela está presente tanto nas rodovias estaduais e federais quanto nas áreas urbanas.
Uma imprudência que, potencializada pelo consumo de bebida alcoólica, eleva às alturas o seu potencial destruidor.
Não é exagero dizer que o álcool é a força motriz da imprudência, porque estimula os abusos e reduz o nível de concentração.
Acidentes e mortes que poderiam ser evitados tornam-se inevitáveis, com as conseqüências trágicas que todos conhecem.
Lamentavelmente esse misto de imprudência e consumo de bebida alcoólica é mais comum entre os jovens, que em nome de uma suposta rebeldia e de um desejo de liberdade completamente equivocados, transformam os veículos em máquinas mortíferas.
Jovens que abreviam a própria vida e a vidas dos outros, quando deveriam aproveitar a vida de maneira saudável.
Viver intensamente, nessa fase tão especial como a juventude, não significa viver perigosamente.
E muito menos viver irresponsavelmente.
A solidariedade é azul
O Mutirão do Diabético de Itabuna, que este ano acontece no dia 13 de novembro, é um exemplo de responsabilidade social. Um evento que a cada ano tem suas ações ampliadas e que a partir de 2010 ganha dimensão nacional com a parceria com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Vascular e que já está inserido no calendário mundial da Federação Internacional do Diabetes.
Fruto da obstinação de seu idealizador, o Dr. Rafael Andrade, o Mutirão do Diabético envolve não apenas a direção, o corpo clínico e os colaboradores do Hospital de Olhos Beira Rio, responsável pelo evento, mas toda a sociedade organizada, como a Associação dos Diabéticos de Itabuna, Prefeitura de Itabuna, Santa Casa de Misericórdia, Lions Clube, Universidade Estadual de Santa Cruz, além do apoio de empresas como a Bahiagás, Rota e Alergan e dos veículos de comunicação, com destaque para a TV Cabrália/Record News, que aliou-se de integralmente ao projeto.
O Mutirão do Diabético de Itabuna é um exemplo de que com a mobilização da sociedade organizada é possível prevenir e tratar ainda na fase inicial uma doença responsável por milhares de casos de cegueira, amputação de membros e mortes em todo o planeta.
São pessoas, por absoluta desinformação sobre os sintomas e desconhecimento dos meios de prevenção, adoecem e morrem todos os anos, porque deixam de fazer o tratamento ainda na fase inicial, quando é possível controlar e conviver com o diabetes, desde que adotados alguns procedimentos.
Aquilo que começou como um projeto modesto, ampliou-se de tal forma que o número de atendimentos este ano pode chegar a 5 mil pessoas, incluindo o atendimento aos diabéticos e a feira de saúde que acontece na praça Rio Cachoeira, onde o foco será justamente na educação e prevenção.
Para marcar sua participação na campanha, empresas, prédios e espaços públicos de Itabuna estão sendo iluminados de azul, a cor da campanha do diabetes, integrando o município a uma campanha em nível mundial, com a participação de 181 países.
As imagens de Itabuna já estão ganhando o mundo, mostrando que nossa cidade produz coisas boas e, além do conhecido espírito empreendedor, também dá um exemplo de solidariedade.
Como a boa semente gera bons frutos, a partir deste ano Mutirão estará sendo levado para Arapiraca, em Alagoas, primeiro passo para que seja realizado em outros municípios brasileiros, consolidando Itabuna com cidade-modelo na prevenção e tratamento do diabetes.
Nesta semana, a cor da solidariedade é azul. Do tamanho do mundo. Do tamanho da capacidade que as pessoas tem de fazer um mundo melhor quando trocam o individualismo pelo espírito coletivo.
Um sonho a três

Faltam apenas quatro rodadas para o final do Campeonato Brasileiro de 2010 e a disputa pelo título parece limitada a três times.
Fluminense, Corinthians e Cruzeiro travam uma batalha renhida, jogo a jogo, para saber quem vai levantar a taça.
A exemplo do que aconteceu em 2009 (em 2006, 2007 e 2008 o São Paulo, que hoje virou coadjuvante, passeou), quando Flamengo, Internacional e São Paulo chegaram à última rodada brigando pelo título, o Brasileirão 2010 deve repetir o mesmo script emocionante, calando de vez a boca dos críticos do sistema de pontos corridos.
Fluminense, Corinthians e Cruzeiro são, efetivamente, os times que, na média de uma competição longa e com jogos difíceis, apresentaram melhores credenciais.
Nenhum dos três jogou um futebol de sonho (porque esse tipo de futebol só existe em sonho mesmo), mas todos eles mostraram eficiência e competitividade, além de momentos de brilho.
Dois desses times, o Corinthians e o Fluminense, são as imagens de seus treinadores, Tite (que substituiu Adilson Batista, que substituiu Mano Menezes, todos da mesma filosofia de jogo) e Muricy Ramalho.
Um futebol de marcação, ocupação de espaços e ataques letais.
O exemplo mais claro desse estilo foi dado pelo Corinthians no clássico contra o São Paulo. O tricolor dominou, criou várias chances, mas em dois ataques precisos, o alvinegro fez 2×0 e venceu.
O Cruzeiro joga um futebol mais bonito, como gosta seu treinador, Cuca. Mas peca pela inconstância, o que pode ser fatal neste momento em que um mero ponto perdido pode significar o adeus ao título.
Pode-se apontar um favorito?
A resposta é: não.
Na rodada final, o sonho a três vira realidade para um e pesadelo para dois.
No purgatório da luta contra o rebaixamento, Grêmio Prudente e Goiás já caminham para o inferno.
Avaí, Guarani, Atlético Mineiro, Atlético de Goiás e Vitória e travam uma guerra de vida ou morte, onde dois deles caem.
O Vitória, como dizem os torcedores do Bahia, já saboreando o acesso à 1ª. Divisão, está no Elevador Lacerda.
Fica parado no mesmo andar, o que já resolve, ou desce?
ORGULHO DE SER NORDESTINO

Quadro de Waldomiro de Deus, baiano de Itagibá, que conquistou São Paulo e de lá o mundo, com sua arte.
A expressiva votação de Dilma Roussef no Nordeste, pelo tamanho monumental da diferença de votos entre ela e José Serra, produziu a impressão de que, não fossem os votos dos nordestinos, o tucano e não a petista teria vencido a eleição.
Os números mostram que, extraídos os votos do Nordeste, Dilma ainda assim bateria Serra e seria eleita presidente.
Dilma, portanto, ganhou com os votos do Nordeste, que lhe conferiram uma vitória espetacular, com mais de dez milhões de votos de diferença, mas não apenas por causa do Nordeste.
A votação nordestina a Dilma, região em que Lula é idolatrado e onde em algumas casas do interior sua foto divide espaço com o Padre Cícero (o que dá a idéia exata da devoção), serviu de mote para que viesse a tona uma onda, felizmente contida à tempo, de xenofobia.
E essa prática surgiu em São Paulo, o estado mais rico e desenvolvido do País e ao mesmo tempo o mais retrógrado e conservador, especialmente no que se refere à sua classe média.
Partiu de uma estagiária de Direito, uma pessoa em tese bem esclarecida, a mensagem mais agressiva, espalhada via internet, sugerindo que cada paulista matasse um nordestino para “limpar” São Paulo.
A partir daí surgiram expressões pejorativas do tipo “vagabundos”, “parasitas”, “câmaras de gás para extermínio em massa de nordestinos”, etc., como se habitássemos uma região que vive exclusivamente dos recursos do Bolsa Família.
Não seria o caso de dar repercussão à opinião de uma destrambelhada, chateada porque seu candidato foi derrotado.
É o caso, sim, de condenar uma agressão recorrente, que apareceu de maneira subliminar, mas perceptível, na campanha eleitoral. Era como se o país estivesse dividido entre os ricos e escolarizados eleitores do Sul/Sudeste, obviamente eleitores de Serra; e os pobres e semi-alfabetizados eleitores do Nordeste, uma legião de pobres coitados dependentes dos programas sociais de Lula, eleitores de Dilma, claro.
A votação de Dilma em São Paulo, onde ela obteve cerca de 45% dos votos os válidos, e as votações expressivas em Minas Gerais e no Rio de Janeiro, demonstraram que não é bem assim que se desenha o mapa do Brasil.
Não existe o país dividido que parte da mídia ressentida com a derrota de seu candidato preferido e uma elite que tem ojeriza à ascensão social de milhões de pessoas tentam mostrar.
Existe sim um país unido, em que a maioria dos eleitores fez a opção por uma candidata e um modelo de governo. Isso é democracia, tem que ser respeitado.
Com relação ao Nordeste, terra de gente trabalhadora, hospitaleira e alegre, região de belezas naturais e uma cultura que encanta pessoas do Brasil e de todo o mundo; se ainda apresenta indicadores sociais e econômicos inferiores aos centros mais desenvolvidos do país, é justamente porque ao longo de cinco séculos foi espoliado, primeiro pelos colonizadores e depois pela elite política.
Até que apareceu um certo Luiz Inácio Lula da Silva para mudar essa história…
Uma história que Dilma e os milhões de nordestinos e demais brasileiros vão continuar escrevendo, substituindo o preconceito e a discriminação pela igualdade.
Por um Brasil do Sul, do Sudeste, do Centro-Oeste, do Norte e do Nordeste.
De todos.












