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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 14/jan/2010 . 18:04

Dona Zilda, quem diria, foi morrer/viver no Haiti


O Haiti, que ocupa metade da ilha de Hispaniola, no paradisíaco mar do Caribe, nasceu como nação há cerca de 200 anos, destinada a ser um exemplo para o mundo.

Uma república forjada na luta de escravos libertos, num tempo em que a escravidão, aberta ou disfarçada, ainda era regra no continente e que outras ilhas e ilhotas ao seu redor ainda penavam como colônias dos países da Europa, antes de serem submetidas a ditaduras brutais.

Dona Zilda Arns, uma catarinense de fala suave e de gestos comedidos, criada na parte rica do Brasil desigual, nasceu para servir, para ser a estrada que pavimenta o acesso de milhares, talvez milhões, de pessoas à inclusão social.

Uma mulher assentada na fé católica, mas que entendeu que a fé necessita estar aliada à ação para quem pretende fazer valer a mensagem de Deus. E que, lançadas as bases da Pastoral da Criança, desenvolveu um trabalho que atingiu todas as partes do Brasil e foi adotado em outros países do mundo.

E é aí que ocorre o imponderável, o momento em que as histórias de dona Zilda Arns e do Haiti se encontram, para se unir em laços que o destino, numa de suas muitas trapaças, tornariam eternos.

O destino glorioso do Haiti trombou com fenômenos naturais como furações, vendavais e terremotos, que aliados a uma ditadura brutal e corrupta transformaram aquela parte da Hispaniola num dos países mais paupérrimos do mundo.

Um país em que, todos os anos, milhares de recém-nascidos e de crianças morrem de desnutrição, na fome endêmica e na ausência de serviços básicos como saúde e saneamento, que compõem um quadro de miséria apocalíptica.

O espírito de solidariedade de dona Zilda Arns a empurrou de encontro ao Haiti, para onde seguiu disposta a implantar ações de combate à desnutrição.

Ela foi salvar vidas, porque a essência de Deus não está necessariamente na conquista de um hipotético reino dos céus, mas na preservação dessa dádiva maravilhosa que é a vida humana.

No momento em que as mãos desse anjo-humano chamado dona Zilda tocavam as crianças haitianas com o poder de oferecer-lhes um futuro, um terremoto destruiu o presente, o futuro e tudo o que encontrou pela frente, reduzindo o Haiti a escombros.

Levou também dona Zilda Arns. Se fosse possível celebrar a morte de quem tanto zelou pela vida, diríamos que ela morreu como morrem os que passam pela vida como protagonistas e não como meros expectadores: cumprindo sua missão, buscando a transformação através do trabalho voluntário e desprendido de vaidades.

O encontro, que se revelou trágico, da história de dona Zilda com a história do Haiti, talvez não seja obra do acaso.

É muito mais provável que seja um sinal.

O sinal de que, inspirados em seu exemplo, homens e mulheres de todo o planeta se unam num imenso abraço de solidariedade.

Agora, para salvar e reconstruir o Haiti.

Depois e sempre para livrar o mundo dos diversos haitis que existem espalhados pelo planeta.

Morta no Haiti, dona Zilda vive.

O CACAU É UM SHOW. PARA ELES…


O cacau, essa planta quase mítica que fincou raízes no Sul da Bahia, forjou uma civilização, fez brotar cidades com feições de metrópoles, gerou riquezas incalculáveis e nas últimas décadas foi abatido por uma doença terrível que atende pelo nome de vassoura-de-bruxa; virou enredo de escola de samba no carnaval de São Paulo.

Com o tema “o Cacau é Show”, durante cerca de uma hora, a história do cacau e a delícia que dele se produz, o chocolate, serão exibidos para todo o Brasil (o desfile é transmitido ao vivo para todo o Brasil), na música e nas coreografias da Escola de Samba Rosas de Ouro, uma das principais agremiações do carnaval paulista, daquelas que sempre entram na passarela para disputar o título.

A letra de autoria do carnavalesco Jorge Freitas, conta a história do cacau desde os maias e os astecas, quando foi considerado o manjar dos deuses, o fascínio que o chocolate despertou na nobreza européia e as delícias de um produto apontado como rei entre os presentes que traduzem o sentimento paixão.

O que poderia ser uma boa notícia para a Região Cacaueira, com a extraordinária divulgação de seu principal produto, acaba servindo como um sinal de alerta, um chamamento a reflexão.

Como o carnaval se transformou num grande negócio, o samba enredo da Rosas de Ouro é menos uma homenagem ao cacau e mais uma propaganda do chocolate. Mais precisamente a propaganda de uma das maiores fabricantes de chocolate do Brasil, cujo nome é quase o mesmo do título do samba.

Apesar de o chocolate ser o filho mais doce do cacau, há uma distância intergaláctica entre ambos.

Mais ou menos como se um fosse o pai pobre e o outro fosse o filho rico.

Ocorre que nesse samba do crioulo (do branco, do amarelo, do vermelho, etc.) doido, o produtor fica só com as migalhas e o fabricante saboreia a maior parte do bolo.

A conta é simples: enquanto o quilo da amêndoa de cacau é vendido por cerca de seis reais, o quilo do chocolate pode chegar a 300 reais. Ou até mais.

Os números são impressionantes. O mercado de amêndoas movimenta R$ 300 milhões de reais/ano e o mercado de chocolate movimenta R$ 4 bilhões/ano. E está em franca expansão.

Experiências regionais de industrializar o cacau, embora bem intencionadas, como a fábrica da Itaisa, ficaram pelo meio do caminho. Outros projetos, mesmo bem sucedidos, são pequenos empreendimentos, diante do volume do potencial de produção.

Na prática, continuamos como meros produtores de matéria prima, como no distante século XIX. Atravessamos assim o século XX e assim entramos no século XXI.

Enquanto não houver mudança de mentalidade, espírito empreendedor e uma política efetiva de implantação de fábricas de chocolate, continuaremos nos comportando como tapuias, trocando nossa principal riqueza por espelhinhos, colares de pedras mulambentas e outras bugigangas.

E constatando que o cacau é mesmo um show.

Para eles e não para nós.





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