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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

julho 2008
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Banho de Coca Cola

A inauguração da TV Cabrália, em dezembro de 1987, não apenas levantou a auto-estima de Itabuna (afinal, tratava-se da primeira emissora de televisão numa cidade do interior do Norte/Nordeste, o que não era nem é pouca coisa), como produziu situações que hoje parecem lenda, mas que à época eram rotineiras.
Ainda não havia a global TV Santa Cruz, que só seria inaugurada um ano depois, e a Cabrália reinava soberana. E eu, que nem sabia como funcionava uma emissora de televisão, fui guindado à condição de gerente de jornalismo, pela extrema generosidade de Nestor Amazonas. Não sei quem foi mais maluco: ele, por me nomear, ou eu, por aceitar o cargo.
Segue o bonde…
Para se ter uma idéia do que a televisão representava, até eventos importantes eram marcados de acordo com a disponibilidade da equipe de jornalismo fazer a cobertura, para a devida veiculação nos telejornais.
É claro que não faltavam pedidos inusitados, que a gente não sabia se achava graça ou se mandava o sujeito pra puta que pariu.
E não é que um pai cismou que a equipe da Cabrália teria que cobrir a festa de aniversário da filha? Era o presente que ele havia prometido à pimpolha e ligava todo dia pra perguntar se a gente iria mesmo.
Não adiantava explicar que aquilo era impossível, alegar que se cobríssemos a festa da filha dele teríamos que cobrir outros tantos aniversários e por extensão, batizados, primeira comunhão, casamentos, velórios e quetais.
Resolvi apelar e pra me livrar do sujeito disse que se ele enchesse uma banheira com Coca Cola e colocasse a filha dentro, a gente iria fazer a cobertura do aniversário.
Pronto, dessa mala estamos livres.
Livres? No dia seguinte, véspera do tal aniversário, o cara me liga e diz que havia comprado Coca Cola suficiente para encher uma banheira e dar um banho de refrigernte na filhota.
Não sei se além de chato, o cara era um gozador e resolveu sacanear comigo. Ou se era só chato mesmo e realmente ia dar um banho de Coca Cola na filha, só pelo prazer de vê-la na telinha da Cabrália.
Na dúvida, preferi ficar na dúvida mesmo.
O aniversário, com ou sem banho de Coca Cola, permaneceu para sempre no anonimato.

Uma rua chamada Medo

Há pouco menos de cinco anos, a rua Henrique Alves era um exemplo de um Pontalzinho boêmio, com uma vida noturna efervescente, e ao mesmo tempo com ares de cidade interiorana, onde os vizinhos colocavam cadeiras na calçada para jogar conversa fora, as crianças brincavam livremente e casais de namorados davam seus amassos discretos ou nem tanto na porta de casa.
O chamado bairro ideal, com tudo perto. Farmácia, padaria, mercado, açougue e uma profusão de bares, estrelado pelo Katiquero, com sua cerveja sempre gelada e caranguejos que merecem ser degustados de joelhos.
Essa rua e esse bairro, infelizmente não existem mais, embora a padaria, a farmácia, o mercado, o açougue e o Katiquero continuem nos mesmos lugares.
A rua Henrique Alves, que de tão pacata às vezes parecia modorrenta, tornou-se a síntese de uma violência que se estende a todas as ruas e a todos os bairros dessa cidade sitiada pela bandidagem.
Não passa um dia sem que haja um assalto, não passa uma semana sem que haja um arrombamento de casa ou estabelecimento comercial. E vieram também os assassinatos. O ultimo deles vitimou um engenheiro de 48 anos, morto a tiros durante uma tentativa de assalto.
Tornou-se banal, em qualquer hora do dia, alguém gritar que teve seu telefone celular roubado. Os marginais, sozinhos ou em duplas, agem livremente. O simples barulho de uma moto provoca calafrios, tantos são os motobandidos cometendo crimes com a quase certeza da impunidade.
O que era paz, virou pavor. É raro encontrar alguém na rua a partir das 20 horas. Pais só se tranqüilizam quando os filhos retornam para casa, como se chegar vivo do trabalho, da escola ou do lazer fosse uma espécie de prêmio de loteria.
As residências viraram verdadeiras fortalezas, com grades, correntes e sistemas de vigilância eletrônica. Uma falsa sensação de segurança, já que ninguém passa a vida toda trancado. E também porque nem esse aparato evita a ação dos bandidos, cada vez mais ousados e destemidos.
Beira o inacreditável, mas há cerca de dois meses, um marginal escalou três andares para roubar roupas que estavam secando na varanda de uma casa. As grades que deveriam servir de proteção, serviram como escada para o ladrão.
Parte dessa tranqüilidade perdida deve-se à expansão do consumo de crack, essa droga devastadora que leva empurra os viciados ao mundo do crime.
Roupas, calçados, celulares, pulseiras e anéis se transformam em moeda de troca na hora de adquirir as pedras que eles consomem sem parar.
E o bairro, que já foi uma espécie de paraíso na terra para quem quer conciliar as facilidades da cidade grande com a tranqüilidade de uma pequena cidade, se transformou num inferno, onde as pessoas não estão seguras nem dentro de casa.

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Talvez com saudade de um tempo que não volta mais, uma moradora colou a cadeira na calçada e ficou observando o movimento. O telefone tocou e ela entrou em casa para atender.
Quando retornou minutos depois, haviam roubado a cadeira…

Faltam dois

Era uma vez um vilarejo surgido às margens de um rio de águas tão caudalosas que recebeu o nome de Cachoeira. O vilarejo, quase um entreposto no efervescente comércio alimentado pela expansão de um fruto de ouro, se transformou em vila, até que, em 1910, a luta incansável pela emancipação fez nascer o município de Itabuna.
Começava aí a saga de uma cidade que em poucas décadas se consolidaria como um dos principais pólos econômicos do Norte/Nordeste e que ao longo do tempo demonstraria uma inacreditável capacidade de superar crises, vencer adversidades, renascer.
Um exemplo dessa superação, entre os tantos que foram dados ao longo de sua história, é recente.
As duas últimas décadas do século passado prenunciavam o apocalipse. A cidade foi jogada no olho do furacão por conta da devastação causada pela vassoura-de-bruxa.
O empobrecimento dos pequenos e médios municípios, que dependiam única e exclusivamente do cacau, não apenas estancou o fluxo de consumidores a Itabuna, como enviou para as bordas da periferia uma legião de desempregados do setor rural, pressionando uma demanda por serviços públicos que era praticamente impossível atender.
O que parecia o fim revelou-se o recomeço.
A cidade, com o dinamismo e a força empreendedora que são característicos de sua população, conseguiu se reerguer e é hoje, de maneira indiscutível, o principal pólo comercial, prestador de serviços, educacional e de saúde do Sul da Bahia.
Alguns de seus bairros, como o São Caetano, o Santo Antonio, o Conceição, Fátima e Califórnia tem estrutura similar aos médios municípios da região.
O Centro, com suas incontáveis opções de comércio, serviços e lazer, se equivale a várias capitais do Nordeste.
Existem problemas, sim, e eles não podem ser mascarados. Os serviços públicos (e o mais notório deles é o sistema de saúde) são deficientes, os bairros sofrem com o descaso e a violência atinge níveis alarmantes. A falta de planejamento, combinada com o crescimento econômico, tornou o trânsito caótico nas áreas centrais, e o transporte coletivo está longe do ideal.
O crescimento gerado pela iniciativa privada, se associado a uma administração pública eficiente, será capaz de produzir desenvolvimento sustentável, que resulta na atividade econômica associado à qualidade de vida.
Faltando dois anos para o seu primeiro centenário, data histórica que irá coroar um sonho transformado em realidade no distante ano de 1910, Itabuna reúne todas as condições de ser a metrópole que todos nós, seus filhos nascidos aqui e os que a cidade recebeu de braços abertos, desejamos.
Mais do que desejar, podemos fazer acontecer.

Exame de "Prostógenes"

Paulo Lima, coroné do cacau

Lençóis, 1998. Encontro Estadual de Jornalistas. Apesar do nome pomposo, o evento já conhecera tempos melhores e praticamente havia se transformado num convescote. As discussões se limitavam ao nhem nhem nhem de sempre: exigência do diploma, surgimento de novos cursos de comunicação nas faculdades e valorização profissional.
Na verdade, essa baboseira toda só valia a pena pela oportunidade de rever amigos do Extremo Sul, de Jequié, de Vitória da Conquista e Feira de Santana, tudo regado a hectolitros de cerveja.
No encontro em questão, Itabuna estava representada por Ederivaldo Benedito, Joselito Reis,José Carlos Bombinha. Juarez Vicente, Paulo Lima e este escriba.
Devidamente hospedados no Portal Lençóis, hotel com uma vista maravilhosa da Chapada Diamantina, constatamos que Paulo Lima havia viajado sem um puto no bolso. Lisinho, lisinho.
Até ai, nada demais. O hotel era por conta do Sindicato dos Jornalistas com direito a café da manhã, almoço e jantar e a bebida estava garantida pelos inúmeros regabofes oferecidos pelas autoridades locais, ávidas pra fazer média com a imprensa.
Bastava apenas evitar que Paulo Lima fizesse as chamadas “despesas extras”. Em comum acordo, foi decidido que eu avisaria a portaria do hotel que com aquele cliente nada de despesas para pagar no check-out, popularmente conhecido como fechar a conta saída do hotel. Chato, mas melhor do que ter que passar a sacolinha no final do evento.
Por volta das 19 horas, enquanto aguardava a abertura do seminário, fui ao bar do hotel, ser apresentado a uma legítima cachacinha da Chapada.
Eis que, me deparo com Paulo Lima, num impecável terno azul marinho, sentado numa das mesas com duas senhoras que, pelas roupas e pelas jóias, eram o que se pode chamar de cheias da grana. Sinal amarelo. Perigo, perigo, perigo…
Discretamente, sentei no balcão do bar, nem tão perto que incomodasse, nem tão longe que me impedisse de ouvir aquele bolodório.
Paulo Lima estava inspiradíssimo. Dizia que tinha várias fazendas de cacau no Sul da Bahia (incrível como, com a vassoura-de-bruxa devastando as roças e transformando ricaços em pobretões, alguém ainda aplicava o conto do fazendeiro de cacau!), que possuía iate em Ilhéus, apartamentos no Rio, São Paulo e Salvador. E ainda se gabava de suas viagens à Europa e aos Estados Unidos, com a freqüência com que nós, pobres mortais, vamos ao boteco da esquina.
As diletas senhoras pareciam estar adorando a conversa e eu até achava graça daquela situação. Mas a história não acabaria ali. Enquanto eu sorvia meu terceiro copo de cachaça (bem abaixo da minha média, reconheço), aconteceu. Sinal vermelho!
Quando as mulheres pediram a conta de um jantar pra lá de fornido e o garçom apresentou a fatura, Paulo Lima se antecipou e perpetrou:
-Mesa em que Paulo Lima senta, mulher não paga a conta. Deixa que eu assino essa nota…
Não sei se foi meu olhar de desespero, se foi a engasgada que eu dei com a cachaça ou se duas senhoras sabiam que a tal riqueza dos coronéis do cacau já eram lendas reduzidas aos livros de Jorge Amado.
O fato é que elas gentilmente tomaram a nota das mãos Paulo Lima, sacaram um humilhante cartão American Express e a conta foi devidamente paga. Por elas, ufa!
Resumo da ópera: o nosso prejuízo se limitou aos dois uísques que Paulo Lima bebeu enquanto representava o papel de milionário com a galhardia que lhe é peculiar.
Pensando bem, até que foi lucro.
Se as duas damas, na verdade turistas de São Paulo em tour pela Bahia, não fossem tão distintas, era bem capaz da gente jogar o Paulo Lima lá do alto do Morro do Pai Inácio.
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PS- Essa história, confirmada aos risos pelo protagonista, só está sendo publicada com a devida autorização de Paulo Lima, seguramente uma das mais fantásticas figuras humanas desse chão grapiuna.

Fique Ligado

Meados da década de 90, jornal A Região.
Como que surgido do nada, o médico Roland Lavigne, dono de um hospital em Una, se transformara num fenômeno eleitoral. Deputado estadual, deputado federal, com grandes chances de dar o grande salto adiante (como diria o camarada Mao), elegendo-se prefeito de Ilhéus.
Aqui e acolá, pululavam denuncias de que Roland usava métodos nada ortodoxos para encher seu balaio de votos, entre eles a esterilização em massa de mulheres, as famosas ligaduras de trompas. Além da esterilização de índias (o que tempos depois se transformaria num escândalo de repercussão internacional), o ´público-alvo´ era composto de mulheres carentes das periferias de Ilhéus e Itabuna.
Em sendo assim, lá fomos eu o fotógrafo Sabino Primitivo (a quem a cidade deve o merecido reconhecimento, ainda que póstumo) para o bairro da Bananeira, onde o que não faltava e nem falta até hoje é mulher carente.
Sabino, que era ranheta na mesma proporção que era talentoso, e que não escondia a má vontade quando a gente fazia incursões pela periferia, repetia a mesma ladainha:
-Vamos perder tempo! Você acha que alguma mulher vai dizer pra gente que fez ligadura de trompa? E ainda por cima tirar fotografia?
O que Sabino não sabia é que, como dizia o velho Tim Maia (que a essa hora deve estar queimando unzinho em algum lugar chamado eternidade) é que eu tinha uma estratégia.
Em vez de falar que era repórter de jornal, cometi mais um dos meus inúmeros pecadilhos em busca da notícia. Cheguei ao bairro e disse que eu e Sabino éramos funcionários do Dr. Roland e estávamos lá para saber se as mulheres estavam satisfeitas com a cirurgia e se precisavam de alguma coisa.
Bingo!
Com num passe de mágica, foram surgindo mulheres e mais mulheres que haviam feito ligaduras. Com foto, nome, endereço e depoimentos devidamente gravados. Enfim, uma reportagem que valia o risco de se embrenhar pela Bananeira, ainda mais dizendo que a gente era o que não era.
Mesmo com Sabino reclamando que estava bom demais, que a gente deveria ir embora dali, achei que faltava alguma coisa. Foto das mulheres a gente tinha, depoimentos a gente tinha, mas faltava a ligação (ops) inquestionável disso tudo com Roland.
Como o destino costuma dar uma mãozinha até aos trapaceiros, eis que fomos levados a um casebre, onde uma mulher, ainda se convalescendo da cirurgia, queria agradecer ao dr. Roland.
Lá estou eu conversando com a mulher, que nada acrescentava ao material já coletado, quando me deparo com um cartão com a foto de Roland e sua indefectível frase “Saúde é vida”, colado no espelho de uma penteadeira que já conhecera dias melhores.
Era a cereja do bolo e ela seria devidamente degustada:
-Moça, o dr. Roland vai ficar muito feliz se a senhora tirar uma foto segurando o cartãozinho dele…
Sabino podia ser ranheta, mas não era burro e tinha larga quilometragem nesse negócio de reportagem. E fez a foto no enquadramento perfeito.
A foto da mulher deitada na cama, exibindo toda sorridente o cartão com a foto do médico igualmente sorridente, ganhou a capa do jornal e a reportagem gerou (ops, de novo!) uma série de filhotes nas edições seguintes do jornal até que…
Bem, essa é outra história.
Que talvez um dia eu conte.
Ou talvez eu não conte.

Daniel, que Daniel?


Do site de humor KibeLoco ao respeitado jornal Folha de São Paulo, passando por sites e blogs de todo o Brasil, o Diário do Sul foi destaque ontem.
Os 15 minutos de fama não foram fruto de um furo jornalístico, daqueles com que toda a imprensa nanica sonha para, ainda que momentaneamente, romper a intransponível barreira que a separa da grande mídia.
Por um desses descuidos inacreditáveis em sua edição de quarta-feira, ao noticiar a prisão do banqueiro Daniel Dantas, o jornal tascou a foto do ator Daniel Dantas.
A explicação para a trombada é simples: o diagramador do jornal, ao capturar na internet uma foto do Daniel Dantas banqueiro nem se deu conta de que existe o ator homônimo, certamente por não ser dado a preocupações com economia e com o mundo das novelas.
O editor do jornal, na clássica pressa de mandar as páginas para impressão, e muito provavelmente enfastiado de ter que agüentar um outro Daniel cometendo suas aleivosias diariamente neste espaço, deixou passar batido.
O que é um Daniel, outro Daniel e mais outro Daniel quando se tem que colocar o jornal nas bancas no dia seguinte e a edição não se resume ao banqueiro, ao ator e muito menos ao jornalista, que agora quer por que quer entrar nessa história, em busca de, ao menos, alguns milésimos de segundo de fama.
A explicação pode ser simples, mas a repercussão daquilo que nos tempos de antanho a gente chamava de barrigada, foi monumental.
Com Daniel Dantas, o banqueiro, pipocando nas manchetes do mundo todo e Daniel Dantas, o ator, fazendo um papel que não era dele nas páginas do Diário do Sul, a reprodução da página do jornal foi parar nos sites baianos, dali para os sites nacionais, incluindo os de humor, até pousar na Folha de São Paulo, na companhia de publicações do calibre do New York Times, The Washington Post, Financial Times, The Wall Street Jornal, China Daily, O Globo, O Estado de São Paulo e outros menos votados. Ou menos lidos.
Ô glória inglória!
De mais a mais, o pecadilho tem lá sua justificativa, meia chocha, mas tem.
Daniel Dantas, como todos sabem (menos o nosso diagramador) é um banqueiro inescrupuloso, daqueles que se não vendem mãe, botam até a irmã como `laranja`.
E Daniel Dantas, o ator, na novela Ciranda de Pedra, da Rede Globo, interpreta um empresário inescrupuloso, que corrompe políticos e prende a mulher com corrente e cadeado.
Com um pouco de boa vontade (pensando bem, com uma dose cavalar da boa vontade!) faz até sentido.
Quando essa barafunda toda passar, terá ficado apenas uma situação prosaica, engraçada, daquelas que estarão em qualquer compêndio que se faça sobre a imprensa grapiuna.
Nada que afete o aquecimento global, segure a inflação ou que faça alguns de nossos políticos e empresários se tornarem sujeitos honestos, porque este jornal pode até, involuntariamente, fazer graça.
Mas não faz milagres.

Daniel Dantas,
ops, Thame

Algemas de Ouro

O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal de Justiça, condenou a maneira espetaculosa com que foram feitas as prisões do banqueiro Daniel Dantas, do investidor Naji Nahas e do ex-prefeito de São Paulo Celso Pita.
Por “espetaculosa”, o ministro quis dizer que a operação da Polícia Federal foi midiática, buscando apenas os holofotes. Condenou a colocação de algemas nos detidos e não é de todo equivocado supor que considere as prisões desnecessárias.
Não é a primeira vez que uma autoridade de peso se volta contra o ´modus operandi´ da Polícia Federal, especialmente quando as operações envolvem gente graúda do mundo político ou empresarial.
A crítica é sempre contra a tal “espetacularização” das prisões, como se o fato da pessoa ser importante/rica/poderosa/influente lhe concedesse algum tipo de privilégio. Já não bastam os inúmeros outros privilégios de que essas pessoas desfrutam?
O mais incrível é que essa indignação parece se restringir apenas aos figurões. Não podem ser abordados, não podem ser filmados nem fotografados. Algemados, então, é um verdadeiro sacrilégio.
E quanto aos mortais comuns?
Para esses, a lei, mesmo que ela impute verdadeiros absurdos.
No domingo passado, o programa Fantástico, da Rede Globo, mostrou um caso que beira o ridículo, embora rigorosamente dentro da lei. Um senhor com cerca de 70 anos, está preso juntamente com marginais de alta periculosidade, pelo fato de manter umas vaquinhas pastando na beira de uma rodovia.
A Justiça entendeu que as vaquinhas ofereciam risco de acidentes (e ofereciam mesmo) e depois de seguidas advertências, o dono dos animais foi parar na cadeia. E de lá não saiu até agora, por não dispor de um bom advogado.
E -porque não dizer- por não despertar a indignação de nenhum ministro, não contra a “espetacularização” da prisão do criador de vacas, mas da indecência de manter preso um sujeito que cometeu uma infração que é coisa de monge franciscano perto da roubalheira e da corrupção em alta escala e de alto escalão, que se instalou feito praga nesse país.
Para o pobre coitado (em todos os sentidos) que rouba uma lata de leite e vai parar na cadeia, que não existe protesto e nem um habbeas corpus providencial.
Para o rico que desvia milhões de reais, há sempre alguém disposto a defender e encontrar uma brecha na lei que garanta a doce liberdade.
Num país em que todos são iguais perante a lei, mas que na prática uns são mais iguais do que os outros, é confortante ver gente da estirpe de Dantas, Pita e Nahas atrás das grades.
Ainda que o espetáculo seja de curta temporada.
Em breve, reabrem-se as cortinas, perdão, as grades e recomeça o show de impunidade.
E nisso o trio tem uma companhia que parece ilimitada.

O ano em que jogamos em lugar nenhum

O Itabuna inicia neste final de semana sua saga na Terceira Divisão do Campeonato Brasileiro, diante do CSA de Alagoas.
Saga no sentido literal, por tratar-se de uma autêntica aventura em nome dessa paixão chamada futebol. Só mesmo a paixão que desafia a lógica e não raro o bom senso leva um time a disputar um campeonato deficitário, sem apelo para o torcedor e com jogos em estádios mambembes, sem contar viagens que mais parecem para outra galáxia, caso o time vá avançando de fase.
Tudo bem, a 3ª. Divisão é o caminho para a 2ª. Divisão que é o caminho para a 1ª. Divisão, que é o caminho para a Libertadores, que é o caminho para o Mundial de Clubes.
Mas, vá ser otimista assim lá no Japão! Ou na China!
Diante das limitações, da falta de apoio, o Itabuna fará muito se chegar ao Ceará, ao Amazonas. Ou ao sul do país, caso consiga passar por essas fases regionais, em que a improvisação é regra.
Sobra boa vontade da diretoria, os jogadores estão empolgados e o torcedor costuma estar sempre ao lado do time, nos bons e maus momentos. Por esse prisma, justifica-se a participação do Itabuna num campeonato que a televisão costuma ignorar e que só teve alguma visibilidade quando Bahia e Vitória patinaram por lá.
É mais ou menos como jogar em lugar nenhum, contra times que já viveram tempos mais gloriosos e/ou equipes que nem o mais fanático dos torcedores ouviu falar.
Nesta fase, o Itabuna joga contra times de Sergipe e velhos e novos conhecidos do futebol baiano. Times parelhos, sem grandes nomes, o que torna a classificação possível.
A partir daí, vira loteria e começam as viagens malucas, as despesas aumentam e o desgaste também, porque avião é um privilégio que mais parece sonho inatingível para os times da série C.
O jeito é encarar as viagens de ônibus, por estradas esburacadas e poeirentas, se alimentando em restaurantes de beira de pista.
E ainda tem que jogar futebol!
Afinal, seja na série C, na B, ou na A, essa história de que o importante é competir não cola para o torcedor. No Brasil, vice-campeão e lanterna são a mesma coisa.
A bola vai rolar a sorte está lançada.
Em sendo assim, vamos lá Itabuna!
Que o caminho, embora cheio de obstáculos, seja longo para o nosso bravo azulino nessa série C.

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Quem fala demais dá bom dia a cavalo.
Piada carioca: Renato Gaúcho falou demais e deu boa noite a Cevallos, o goleiro da LDU que pegou três pênaltis e levou a Taça Libertadores para o Equador.

Por amor a Itabuna, façam diferente

Embora a propaganda gratuita no rádio e na televisão, considerada decisiva para alavancar ou sepultar candidaturas, só comece na segunda quinzena de agosto, a partir da próximo semana as campanhas eleitorais ganharão um novo impulso, com a permissão para a utilização de carros de som, pintura de muros, colocação de adesivos e manifestações de rua como caminhadas e carreatas.
Campanhas eleitorais em Itabuna, como até as pedras do cada vez mais poluído Rio Cachoeira sabem, sempre foram sinônimos de empolgação, com caminhadas que reúnem milhares de pessoas na avenida do Cinqüentenário e nos bairros, e de uma disputa ferrenha, que muitas vezes descamba para entreveros e, não raro, para as baixarias, com xingamentos e folhetos apócrifos de parte a parte.
Nas duas últimas décadas, com a política praticamente centrada em duas figuras, Geraldo Simões e Fernando Gomes, a disputa se tornou ainda mais acirrada. Alguns fernandistas e geraldistas não se contentavam apenas em serem adversários políticos, natural num regime democrático, mas se comportavam como inimigos.
Em épocas de campanha, o que era disputa eleitoral se transformava em guerra, com a utilização de todas as armas disponíveis.
Essa divisão acabava se refletindo na própria administração, como se o fato de alguém ter votado em Fernando ou Geraldo o transformasse numa espécie de “não cidadão”, a depender de quem ganhou e quem perdeu a eleição.
Condenável, mas parecia fazer parte do jogo. Uma regra não escrita, mas encarada com normalidade, como se campanha sem agressões de parte a parte, sem os folhetos apócrifos que tornam mãe de juiz de futebol uma santa de altar, não valesse ou não tivesse graça.
Agora, vive-se uma situação inédita em vinte anos.
Geraldo e Fernando não são candidatos e novos nomes estão colocados à disposição do eleitorado, como Juçara Feitosa, Capitão Fábio, Capitão Azevedo, José Adervan, Roberto Barbosa e Edson Dantas (os dois últimos ainda a depender de negociações que se estenderão até os 48 minutos do segundo tempo, à prorrogação ou possivelmente aos pênaltis).
Será, sem dúvidas, uma campanha menos apaixonante, visto que nenhum dos candidatos ainda desperta tanta fidelidade quanto a dispensada por uma parcela considerável do eleitorado a Geraldo e Fernando.
Mas será, também, uma excelente oportunidade para estabelecer uma campanha focada no debate, na discussão das propostas de governo, na conquista do voto sem recorrer a expedientes nada ortodoxos.
O mito de que o eleitor gosta de uma baixaria não passa disso mesmo: um mito!
Como todos os candidatos, embora conhecidos, são novidade para o eleitorado, seria de bom alvitre gastar tempo e energia mostrando quem tem o melhor projeto para uma cidade prestes a completar 100 anos, uma metrópole que por sua grandeza e importância dispensa métodos que não caem bem nem em disputas ferrenhas em localidades mulambentas que nem aparecem no mapa.
Pode parecer ingenuidade, excesso de purismo, coisa de quem acredita em papai noel, cegonha, saci pererê, mula sem cabeça e quetais.
O fato é que, apropriando-se do slogan de campanha de dois dos principais candidatos a prefeito, é o caso de sugerir:
-Por amor a Itabuna, façam diferente.





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