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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 17/jul/2008 . 12:01

Fique Ligado

Meados da década de 90, jornal A Região.
Como que surgido do nada, o médico Roland Lavigne, dono de um hospital em Una, se transformara num fenômeno eleitoral. Deputado estadual, deputado federal, com grandes chances de dar o grande salto adiante (como diria o camarada Mao), elegendo-se prefeito de Ilhéus.
Aqui e acolá, pululavam denuncias de que Roland usava métodos nada ortodoxos para encher seu balaio de votos, entre eles a esterilização em massa de mulheres, as famosas ligaduras de trompas. Além da esterilização de índias (o que tempos depois se transformaria num escândalo de repercussão internacional), o ´público-alvo´ era composto de mulheres carentes das periferias de Ilhéus e Itabuna.
Em sendo assim, lá fomos eu o fotógrafo Sabino Primitivo (a quem a cidade deve o merecido reconhecimento, ainda que póstumo) para o bairro da Bananeira, onde o que não faltava e nem falta até hoje é mulher carente.
Sabino, que era ranheta na mesma proporção que era talentoso, e que não escondia a má vontade quando a gente fazia incursões pela periferia, repetia a mesma ladainha:
-Vamos perder tempo! Você acha que alguma mulher vai dizer pra gente que fez ligadura de trompa? E ainda por cima tirar fotografia?
O que Sabino não sabia é que, como dizia o velho Tim Maia (que a essa hora deve estar queimando unzinho em algum lugar chamado eternidade) é que eu tinha uma estratégia.
Em vez de falar que era repórter de jornal, cometi mais um dos meus inúmeros pecadilhos em busca da notícia. Cheguei ao bairro e disse que eu e Sabino éramos funcionários do Dr. Roland e estávamos lá para saber se as mulheres estavam satisfeitas com a cirurgia e se precisavam de alguma coisa.
Bingo!
Com num passe de mágica, foram surgindo mulheres e mais mulheres que haviam feito ligaduras. Com foto, nome, endereço e depoimentos devidamente gravados. Enfim, uma reportagem que valia o risco de se embrenhar pela Bananeira, ainda mais dizendo que a gente era o que não era.
Mesmo com Sabino reclamando que estava bom demais, que a gente deveria ir embora dali, achei que faltava alguma coisa. Foto das mulheres a gente tinha, depoimentos a gente tinha, mas faltava a ligação (ops) inquestionável disso tudo com Roland.
Como o destino costuma dar uma mãozinha até aos trapaceiros, eis que fomos levados a um casebre, onde uma mulher, ainda se convalescendo da cirurgia, queria agradecer ao dr. Roland.
Lá estou eu conversando com a mulher, que nada acrescentava ao material já coletado, quando me deparo com um cartão com a foto de Roland e sua indefectível frase “Saúde é vida”, colado no espelho de uma penteadeira que já conhecera dias melhores.
Era a cereja do bolo e ela seria devidamente degustada:
-Moça, o dr. Roland vai ficar muito feliz se a senhora tirar uma foto segurando o cartãozinho dele…
Sabino podia ser ranheta, mas não era burro e tinha larga quilometragem nesse negócio de reportagem. E fez a foto no enquadramento perfeito.
A foto da mulher deitada na cama, exibindo toda sorridente o cartão com a foto do médico igualmente sorridente, ganhou a capa do jornal e a reportagem gerou (ops, de novo!) uma série de filhotes nas edições seguintes do jornal até que…
Bem, essa é outra história.
Que talvez um dia eu conte.
Ou talvez eu não conte.





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