:: ‘The Hardest Way’
The Hardest Way, de Antonio Dias
Oscar D’Ambrosio
Paraibano de Campo Grande, mas tendo morado no Rio de Janeiro, Paris, Milão, Nova York, Berlim e Nepal, Antonio Dias (1944 – 2018) apresenta, na maioria dos seus trabalhos, um saboroso mistério. O seu pensamento visual se dá na esfera dos saberes que não são explicitamente retratados, mas criados com sutileza, de maneira a sempre nos surpreender.
“The Hardest Way”, pintada, em 1970, com tinta acrílica sobre tela (2 x 3 m), é um exemplo de uma série de trabalhos que dizem muito com um mínimo de elementos. Sobre um fundo negro, há um fino requadro branco, mesma cor em que são pintadas as palavras GOD e DOG. É estabelecida assim uma reflexão entre o sagrado (Deus) e o profano (Cão).
O animal é miticamente associado à passagem entre a vida e a morte, sendo guia das almas dos homens no seu percurso até ao paraíso ou guardião das portas do inferno. Daí a sua presença no universo das artes adivinhatórias. O célebre Cão Cérbero, por exemplo, com suas três cabeças, guardava a porta dos infernos e impedia a saída dos mortos.
Inquéritos do Projeto Atlas Linguístico do Brasil (ALiB), realizados com 200 informantes, distribuídos equitativamente por sexos, faixas etárias e níveis de escolaridade, ao perguntar “Deus está no céu e no inferno está…?, obteve 39 variantes, com predominância para diabo (33%), sendo cão (8%) o quinto mais citado, principalmente no Nordeste.
A Humanidade e o Brasil da ditadura dos anos 1960/70, portanto, surgem alegorizados como um denso universo de trevas entre duas alternativas: a salvação divina ou a danação eterna. Em inglês, o Deus e o Cão podem ser escritos com as mesmas três letras, invertidas, mostrando que tudo não passa de uma mesma opção. Depende de como cada um a vê.
- 1