:: ‘Dois olhos azuis e um destino’
Dois olhos azuis e um destino
Daniel Thame
Quando os olhos cansados dele se cruzaram com o azul cintilante dos olhos dela, foi como se tudo em volta se resumisse na mais profunda escuridão.
Para ele, só havia aqueles olhos azuis incandescentes, no rosto de uma linda mulher de meia-idade.
Quando à luz se restabeleceu e o mundo voltou a seguir seu curso natural, ele continuava fascinado por aquela mulher.
Fatalista ao extremo e ao mesmo tempo um eterno sonhador, achou que só poderia ser a mão do destino.
Afinal, não era para estar naquela cidade. Não naquele momento.
Na terça-feira, patinou no transito infernal de São Paulo e perdeu o vôo. Remarcou a viagem para a quarta, mas chovia demais e o avião não pousou no acanhado aeroporto local.
Quando finalmente conseguir embarcar e chegar à cidade do interior, trombou com a imensidão de azul nos olhos da mulher.
Cego de paixão e num impulso atípico para alguém tímido ao extremo, aproximou-se e sem tirar os seus olhos dos olhos azuis dela, entregou o número do telefone celular.
Ela guardou o papel na bolsa e apenas sorriu.
Durante os dias em que permaneceu na cidade, esperou em vão por uma chamada telefônica que não veio.
No dia de retornar para casa, não perdeu a hora do vôo e a noite estava tão iluminada que, da janela do avião, pode contemplar um par de estrelas incrivelmente azuis, que brilhavam feito dois olhos a encará-lo.
Fechou a janela, pediu um copo de uisque para a aeromoça, sorveu num gole só, fechou os olhos e não viu nada além da escuridão.
Três horas depois, chegou a seu destino: a cidade imensa e solitária em que vivia. A poluição o impedia de ver estrelas no céu, mas nem ele fazia questão disso.
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Conto extraído do livro “A Mulher do Lobisomem”- Editora Via Litterarum
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