:: ‘Dimas Roque’
Maria e o Cangaço
Dimas Roque
Quando surgiram as primeiras notícias sobre uma minissérie focada na vida de Maria Gomes de Oliveira — a icônica Maria Bonita, a cangaceira mais famosa da história —, confesso que fiquei apreensivo. Principalmente ao descobrir que Isis Valverde, uma atriz de pele branca e sotaque carioca (daqueles que “chiam” como panela de pressão diante de um “s” e “i” seguidos), interpretaria a protagonista. Não me culpe: no Nordeste, terra de tantas artistas com a tonalidade de pele e o sotaque autêntico de Maria, escolher alguém tão distante desse universo parecia, no mínimo, um tiro no pé.
Nascido e criado em Paulo Afonso, Bahia — cidade onde Maria Bonita veio ao mundo, no sertão que beira o Raso da Catarina, região inóspita onde o bando de Lampião sobreviveu às perseguições da volante —, cheguei à minissérie com os dois pés atrás. Pronto para criticar cada detalhe mal representado.
Mas eu estava errado.
Assisti hoje à produção da CineFilm para o Disney+ e, surpreendentemente, o trabalho me conquistou. O roteiro, assinado por Sérgio Machado, Armando Praça, Letícia Simões e Sandra Delgado (com colaboração de Juliana Antunes), aliado à direção de Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido, consegue algo raro: hipnotizar o espectador do primeiro ao último minuto. A escolha de não retratar a morte de Maria e Lampião foi magistral, focando em suas vidas em vez do clichê sangrento.
Claro, há ressalvas. As roupas dos soldados lembram uniformes nazistas de filmes hollywoodianos, e a casa de tijolos onde Maria nasceu na série destoa da realidade — até hoje, sua residência original no Povoado Malhada da Caiçara mantém paredes de barro. Mas esses deslizes são secundários diante do conjunto, que captura o imaginário do cangaço com respeito.
O dia em que virei Carlos Drummond de Andrade
Dimas Roque
Deixa eu contar uma história que vale um riso ou dois. Lá nos anos 80, em plena ditadura militar, eu era um jovem revolucionário junto com alguns amigos, éramos frequente nas salas de aula (ou quase isso). Junto com meus amigos secundaristas, a gente fazia vaquinha para participar de encontros de estudantes em cidades como Salvador, Fortaleza e Campinas na luta pela reconstrução da entidade e pela redemocratização do Brasil. Nossa tática era simples: ir às salas de aula, pedir contribuições e esperar que as moedinhas caíssem como um milagre. Às vezes, até caía algo maior que moedas (obrigado, estudante generosos).
Mas o tempo passou. Hoje, se um estudante ousar entrar numa sala pedindo ajuda, corre o risco de receber apenas olhares de “vaza daqui”.
Em 1982, estávamos empenhados na reconstrução da UBES – União Brasileira dos Estudantes Secundaristas. E foi aí que me veio uma ideia brilhante (ou nem tanto). Eu gostava de escrever poesias – tão bonitas, modéstia à parte, que até imaginei estampá-las em camisetas brancas e vender para arrecadar um pouco mais. Poeta mercenário? Talvez.
Convenci meu amigo César Alves, um gênio da arte, a pintar a arte para as 20 camisetas. Metade com uma poesia minha e metade com outra (sim, tenho um estoque de inspiração). No dia seguinte, fui armado de esperança para as salas de aula. “Agora vai”, pensei. Mas sabe quantas camisetas eu vendi? Nenhuma. Nem pra pagar uma beira seca na cantina.
O Carnaval da Bahia envelheceu?

Dimas Roque
O Carnaval de Salvador, na Bahia, é reconhecido mundialmente por sua grandiosidade e riqueza cultural. Entretanto, ao olhar para o passado e o presente dessa celebração, surge uma questão inquietante: estaria o Carnaval da Bahia envelhecendo mal?
É verdade que o Carnaval de Salvador já viveu momentos inesquecíveis. Recordo-me das imagens vibrantes do Trio Caetanave desfilando pela Avenida Sete há quase cinco décadas. Nessa época, o Carnaval pulsava inovação e encantava multidões com o som das guitarras elétricas dos pioneiros Armandinho, Dodô e Osmar. Anos depois, nos idos de 1985, Luiz Caldas lançou o álbum Magia, que continha o hit “Fricote”. Assim nascia o movimento Axé Music, um gênero irreverente e contagiante que dominou não apenas o Carnaval, mas também as rádios e festas em todo o Brasil.
No início dos anos 1990, o Carnaval baiano se reinventava novamente. Ricardo Chaves surgia como destaque, trazendo novos ritmos e tornando-se uma sensação nacional. A banda Timbalada, com os talentosos Xexéu, Ninha e Patrícia, conquistou o público com suas inovações visuais e percussivas – os corpos pintados e as batidas hipnotizantes ecoaram mundo afora. Por sua vez, o Olodum revolucionava a música afro-brasileira, encantando artistas como Paul Simon e Michael Jackson, que gravaram ao lado do grupo em Salvador.
No entanto, ao observar os circuitos tradicionais, como Barra-Ondina e Campo Grande, percebe-se uma preocupante estagnação. Artistas renomados continuam a apresentar sucessos consagrados, mas raramente arriscam algo novo. São performances que, por mais brilhantes que tenham sido no passado, já não possuem o impacto inovador de outrora. Enquanto isso, uma das poucas bandas que propõem renovação, a BaianaSystem, parece enfrentar dificuldades para conquistar espaço nos canais de mídia durante o Carnaval. Coincidência ou não, suas apresentações frequentemente sofrem cortes na transmissão para dar lugar a artistas mais tradicionais.
Sob os grilhões da Nova Ku Klux Klan
Dimas Roque
As imagens de brasileiros algemados e amarrados pelos tornozelos com correntes me trouxeram lembranças de filmes estadunidenses que retratam negros sendo torturados e mortos após inúmeras surras dadas por brancos invasores de terras no Mississippi. Você deve se recordar de cordas com corpos negros pendurados pelos pescoços, enquanto homens e mulheres seguram Bíblias em suas mãos.
Não muito distante, Ota Benga foi sequestrado na República Democrática do Congo e exibido em um zoológico do Bronx, em Nova York, no ano de 1904. Somente 114 anos depois os administradores emitiram um pedido de desculpas pelo que fizeram a aquele jovem negro.
Essa cultura de tortura, massacre de povos e invasão de terras está bem documentada e registrada pelo cinema, quase sempre se vangloriando dos assassinatos de índios e negros, retratados como os culpados por tentarem impedir “o progresso Americano”.
Com a eleição de Donald Trump à presidência da república dos Estados Unidos, os brancos racistas, sejam eles bilionários como Elon Musk ou aqueles que manifestam seus desejos mais primitivos, estão mostrando seu verdadeiro rosto, perseguindo e caçando pessoas nas ruas, no trabalho e em igrejas, como animais, para entregá-las às autoridades policiais. Essa é a nova Ku Klux Klan, agora com a chancela de Donald Trump e seu exército particular de brancos racistas e nazistas.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ao ser informado de que brasileiros estavam algemados e acorrentados, emitiu um comunicado afirmando que seu povo não pode ser tratado dessa forma por estrangeiros em solo brasileiro. Foi um verdadeiro gol de placa.
A fila na lotérica
Dimas Roque
O Brasileiro como já sabemos vive de fila em fila. Se vai ao banco, lá tem fila. Se vai ao médico, tem fila. No açougue, é raro não ter uma fila para comprar carne. Nas prefeituras tem fila para tudo, mesmo que o prefeito, os secretários ou os atendentes não estejam no local, mesmo assim, alguém coordena a chegada de cada pessoa para que ninguém tente passar na frente. Em todas elas há reclamações de atrasos.
Mas há uma fila democrática e que ninguém se aventura a furar e passar na frente, é a fila nas lotéricas. Eu mesmo já vi brigas em muitas filas de pessoas que querem dar um jeitinho e passar na frente, mas nas das lotéricas eu nunca vi.
E elas são as mais silenciosas. As pessoas nestas filas ficam caladas, quase nunca abrem a boca. É verdade, vez ou outra aparecem duas pessoas conhecidas e falam entre si. Mas baixinho parecendo não querer incomodar.
Ontem mesmo eu fui à lotérica aqui da minha cidade fazer “uma fezinha”. Vai que eu estou com crédito lá em cima e Deus opera mais um milagre em minha vida e aqueles milhões vem tudo pra mim.
Jesus é de esquerda

Dimas Roque
A opção preferencial pelos pobres reivindicada pela Teologia da Libertação, movimento que surgiu nos anos 60 após o Sínodo Mundial dos Bispos Católicos em 1971 em Roma, se popularizou no Brasil no final dos anos 70 e início dos anos 80 dentro dos grupos jovens da Igreja Católica que viviam um momento de ruptura entre a Ditadura Militar imposta ao país em 1964 e os movimentos sociais e políticos. Mas esse movimento não se limitou à Igreja Católica; no Protestantismo da América Latina surgiram seguidores da Teologia da Libertação.
A expressão “Jesus é de esquerda” já foi pronunciada, escrita e dita ao “pé do ouvido” daquelas pessoas que hoje em dia vivem o evangelho segundo o pastor da sua igreja sem se preocupar em estudar a vida de Cristo profundamente como está escrita no livro sagrado, a Bíblia. Eu mesmo já repeti a frase “Jesus é de esquerda” tantas vezes para evangélicos que nem me lembro mais a quantidade e, mesmo assim, são poucos os que concordaram com a minha afirmação muito antes do Presidente Lula fazer a mesma afirmativa em comício na cidade de Camaçari, na Bahia: “ninguém foi mais de esquerda do que Jesus Cristo”. A fala de Lula não foi despretensiosa; ele levantou o debate justamente para o público evangélico do país que hoje retiraram Jesus Cristo das igrejas e colocaram o Bezerro de Ouro da atualidade nos púlpitos.
As Marias
Dimas Roque
A vida, ah, a vida! Não cansa de me pregar peças. Vejam vocês, caros leitores, o que é o amor. Hoje, acredito ser algo incontrolável quando se apossa de nós. Me digam, o que têm passado por causa do amor e não escondam nada? Esse sentimento que ninguém busca, mas que surge do nada e toma conta de você. Não há homem ou mulher que o consiga controlar. Ele aparece no olhar, nos gestos, na forma de se vestir, em tudo o que você faz. Quando tomado pelo sentimento, é visto por todos ao seu redor.
Meses atrás, fui contratado por uma empresa para tomar conta de um grupo de pessoas que precisavam de acompanhamento para desenvolverem suas tarefas com mais assertividade. Após alguns encontros com o grupo, percebi que duas dessas pessoas se destacavam entre as outras. Todas as vezes que terminavam as reuniões, elas começavam a arrumar as cadeiras, pegavam vassouras e varriam o local, deixando tudo limpo como antes.
Aquelas meninas não precisavam fazer aquele trabalho, mas faziam. Foi aí que me lembrei dos japoneses quando vieram ao Brasil para a Copa do Mundo de Futebol. Eles viraram notícia por, após cada jogo, limparem o local das arquibancadas onde ficavam. E elas faziam o mesmo naquela cidade do sertão pernambucano.
Dias após ter visto aquela cena, encontrei-as novamente na reunião com o grupo. Já estava impactado com a imagem das duas. Mesmo durante as palestras, meus olhos sempre as buscavam onde estivessem. Naquela noite, por desígnio do destino, me demorei ao final em conversas, e elas estavam sem transporte para voltar a suas casas. Ofereci a “carona”, que foi aceita, e foi nesta noite que nossas vidas se juntaram e não mais se separaram enquanto eu desenvolvia meu trabalho na cidade.
E se hoje fosse o seu último dia?
Dimas Roque
Todos nós acordaremos um dia e este será o último de nossas vidas. Aquele em que não haverá outro com quem possamos compartilhar nossas experiências, os filhos que não veremos mais, os amigos que deixaremos para trás, o dia do último suspiro que daremos aqui na terra. E se hoje fosse o último dia de nossas vidas, o que deveríamos fazer?
Eu me lembro da vez em que vi passar por sobre Paulo Afonso algo muito estranho no alto, lá nos céus. Eu ainda era criança e morava na Rua Otávio Mangabeira, perto da Praça Libanesa, que tem esse nome por causa de um libanês que tinha uma padaria no local, mas que hoje está nomeada como “28 de julho” em homenagem ao dia da emancipação da cidade.
Só anos depois descobri que aquele objeto visto por alguns garotos que ficaram impressionados, era um módulo lunar. Daqui, já adulto, vi passar um dos ônibus espaciais Challenger. Foi dessa forma que entendi que esta região é rota desses objetos enviados ao espaço.
Os amigos que conheci nos grupos jovens da igreja católica, com muitos deles ainda convivo até hoje. Outros já tiveram o seu último dia, outros tantos tomaram novos destinos e não mais nos vimos. Da mesma forma são os que iniciamos a militância política no final dos anos 70 e que culminou na eleição de Zé Ivaldo, o prefeito mais jovem do país em 1985 na eleição das cidades que eram consideradas de segurança nacional. Nós fizemos a revolução dos “meninos de calça curta”.
Lula: Cartas da Prisão
Dimas Roque, no Brasil247
Segundo o ex-ministro Zé Dirceu, “existe uma depressão pós-visita que é uma coisa séria”, para quem está na prisão. Ele descreve isto em seu livro, “Zé Dirceu: Memórias – Volume 1”, lançado no ano passado. Já em Memorias do Cárcere, Graciliano Ramos fala dos anos que passou encarcerado no período do primeiro governo de Getúlio Vargas. Preso na capital alagoana em março de 1936, acusado de ser militante comunista, foi enviado a cidade de Recife. De lá foi transferido para o Rio de Janeiro no navio “Manaus”. Só obtendo a sua liberdade em janeiro de 1937. Durante esse tempo, esteve no Pavilhão dos Primários da Casa de Detenção, na Colônia Correcional de Dois Rios (na Ilha Grande), voltou à Casa de Detenção e por fim, pela Sala da Capela de Correção.
Livre, Graciliano escreve sobre tudo o que viu e passou na prisão. Essas memorias mostraram uma pessoa amargurada, triste e impotente. Como não havia acusação formal, sua estadia se dava arbitrariamente. Mas foram essas revelações em livros que mostrou ao mundo como uma ditadura pode ser cruel e não escolhe classe social. Escolhe pessoas.

Lula escolheu a carta, para se corresponder como um mundo aqui fora. Ele vem escrevendo de próprio punho, textos agradecendo apoios, conclamando a militância para a luta e indicando o caminho a ser seguido. Da prisão, o ex-presidente ainda é o político mais temido por seus opositores e por aqueles que sonham ocupar o seu lugar de liderança. Ledo engano os que se apressam tentando mudar o rumo da história.
José Dirceu: “o PT vai retomar o Governo”

O ex-ministro José Dirceu gravou um áudio, publicado pelo jornalista Dimas Roque, da Bahia, em que diz que o PT vai “retomar o governo do Brasil”. A fala dele foi gravada em Brasília.
Dirceu manda abraços fraternos ao público e se declara em gratidão a todos, em um recado para a militância. Diz estar firme, de pé e na luta.
“Como vocês sabem, nós vamos retomar o governo do Brasil”. O ex-ministro também declarou que “eles tomaram na mão. Deram um golpe. Rasgaram a Constituição”.
O petista também antevê que o povo apoiará o projeto da candidatura de Lula à presidência em 2018, e que o Partido dos Trabalhadores, que ele ajudou a construir, retornará ao poder muito mais forte.
“O povo está conosco. E nós vamos voltar”, anuncia.
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