juraci dorea_vfOscar D’Ambrosio

oscar 2A relação entre artista, obra criada, sistema institucional que avaliza e público é muito complexa. “Cartas para Ângela 1 e 2”, de Juraci Dórea (Feira de Santana, BA, 1944), trata dessas questões de uma maneira muito pessoal. São trabalhos de 1989, com carvão e PVA (acetato de polivinila) sobre tela que mesclam muitas referências.

Algumas dizem respeito ao processo criativo, em uma esfera mais conceitual, e outras são de caráter pessoal. A aparência remete a cartas de viajantes e existe ironia em relação a comissões julgadoras de arte, já que o próprio criador, em suas instalações do consagrado Projeto Terra, percebeu que era mais fácil fazê-las no sertão do que com apoio institucional.

Verificamos que as missivas, que impactam por seu tamanho desmedido (2,20 x 1,60 m) perante uma carta tradicional, são destinadas a uma certa Ângela. O nome desperta múltiplos simbolismos, pois provém do grego “Ággellos”, que significa mensageiro, e do latim “Angelus”, que quer dizer “anjo”.

A carta, que é uma mensagem, portanto, tem como destinatário um anjo. O tema envolve “engenho e arte” e comparações entre a Nona Sinfonia de Beethoven e o coaxar de sapos. O tom coloquial se mistura a míticos nomes da arte, como Duchamp e Picasso , considerados mortos em uma narrativa que encanta pela mescla entre a densidade e a leveza.