A Ganha-Pão, de Nora Twomey
Oscar D’Ambrosio
“Levante suas palavras, não sua voz. É a chuva que faz as flores crescerem, não o trovão”. Essa é a máxima que sintetiza a animação “A Ganha-Pão” (“The Breadwinner”), que pode ser assistido pela Netlix. Indicada ao Oscar e ao Globo de Ouro em 2018 e premiada em vários festivais, o filme ganha impressionante atualidade perante a situação do Afeganistão.
A diretora, a irlandesa Nora Twomey, leva sua história para 2001, quando o Talibã está no poder. As mulheres não podem fazer compras, estudar ou mostrar o rosto. As consequências incluem desde maus tratos a surras ou prisão. O medo e a violência se espalham em todas as facetas do cotidiano, seja para pegar um balde de água ou comprar arroz.
O filme tem como protagonista Parvana, uma menina de 11 anos que perdeu o irmão em uma mina, viu seu pai, professor, sem uma perna, perdida na guerra, ser preso na própria casa e a mãe ser espancada por andar na rua sem algum home da família. A única maneira que encontra para garantir a sobrevivência da família é trabalhar disfarçado de menino.
Um ponto alto da animação é o relacionamento da menina com o pai. Ele, mesmo nos piores momentos, a alimenta com histórias do orgulho do seu povo, deixando claro que o essencial para enfrentar as dificuldades e manter a esperança é preservar a fantasia. A chuva do pensar e do criar revigoram a natureza, enquanto gritos, tiros e ameaças só geram dor.