Eulina Lavigne

eulina lavigneSabe aqueles dias que você parece que está vazia de palavras? Sou eu hoje para me fazer presente aqui. Estar vazia de palavras é aquele momento que ao final do dia você quer ficar em silêncio.

Tenho o hábito de escrever à noite. No silêncio. E agora, neste exato momento, o silêncio quer se fazer dentro de mim. Você já passou por isto?

Rever o seu dia, as coisas boas que vivenciou, os desafios que superou e no final do dia dizer: por hoje basta. Está de bom tamanho. Por que a palavra se fará pelo silêncio. Não há necessidade de se dizer mais nada.

Rubem Alves no seu texto Escutatória comenta que o mundo quer aprender a falar e ninguém quer aprender a ouvir. E aprender a ouvir exige silêncio.

Communicating a message

Ele se reporta ao silêncio da Alma, não basta o silêncio de fora e sim aquele silêncio, aquela escuta interna onde a gente ouve coisas que jamais ouviu.  E que também, além de passar por uma escuta interna, precisa apreciar a escuta do outro.

Todas as vezes que vou a Salvador, almoço com um amigo irmão, muito especial, que as vezes, para não dizer sempre, se queixa que eu não o  deixo falar. Eu adoro contar histórias nas suas minúncias e ele me pede para deixar de entretantos e ir logo aos finalmentes rs. E, embora seja verdade o que ele me diz, todas as vezes que ouço ele dizer isto eu respondo: Você precisa entender que quem mora longe dos amigos e família, que tem a sua própria companhia diariamente, precisa de alguém que lhe escute e lhe compreenda. Portanto, tenha paciência. Ele estava saindo de um ano sabático e queria falar também e eu, verdadeiramente, não o deixava falar.

Parar para uma escuta interna e escutar o outro, é um grande desafio e deve ser um exercício diário. A qualidade da presença, em um processo de escuta é de fundamental importância para que o refletir sobre aquilo que se ouve faça sentido para quem fala e quem escuta.

Um diálogo só se estabelece quando paramos a conversa intrapessoal, exatamente esta que impede uma escuta acurada e bem processada. É costume, da maioria das pessoas, enquanto o outro fala e, principalmente se o outro fala sobre temas que mexem com as nossas emoções, tagarelarmos, internamente, sem parar buscando justificativas para a fala do outro, e assim perdemos o fio da meada e deixamos de estar presentes na conversa.

Hoje com as redes sociais, não temos tempo para os encontros, para as longas conversas e escuta, para aprendermos e se divertir com o outro e dar boas gargalhadas.

Eu adoro os encontros, com amigos queridos, que nos trazem aprendizados e nos chamam à escuta apurada.

Como diz o querido Rubem Alves, é chegado o momento de ouvirmos o humano que habita em cada um de nós, que clama pela nossa humanidade, pela nossa solidariedade.

É preciso lembrarmos que é o outro que dá sentido à nossa existência e a nossa razão de viver.

E como me disse o meu querido amigo no nosso último encontro: agora fala que eu te escuto.