A0 PÉ DA GOIABEIRA lopes

bddepd@gmail.com Barão de Pau d´Alho

Escultura de bronze, de Décio Vilares, pertencente ao Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora

Escultura de bronze, de Décio Vilares, pertencente ao Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora

Dentre os ditos heróis brasileiros, o que mais me fascina é o mineiro Tiradentes . Não o Tiradentes de quem a elite se apropriou, depois de repaginá-lo como  Jesus Cristo (Na foto, escultura de bronze, de Décio Vilares, pertencente ao Museu Mariano Procópio, de Juiz de Fora), mas  o Tiradentes libertário, compromissado com sua gente e sua Pátria, o grande mártir sacrificado pela sanha vingativa do colonizador. Joaquim José era um revolucionário, com visão de futuro, não um reformador transitório e oportunista. Creio que, dentre as contradições que lhe criaram, a mais notória tenha sido fazê-lo patrono da PM,: Ele era o anti-Sistema, pregou contra o Sistema e pelo Sistema foi destruído, de maneira vil e cruel, enquanto polícias são o braço armado do agente opressor, e a este dão sustentação. Portanto, “vender” Tiradentes como patrono da defesa das elites é agredir a figura heroica desse grande brasileiro.

É Oiliam José (da Academia Mineira de Letras), no seu ótimo Tiradentes (Editora Itatiaia), quem nos alerta: “As palavras têm, em certa fase de sua existência,  força de expressão ampliada, ocasião em que se carregam de sugestão avassaladora e são capazes de conduzir multidões – e até de abalar instituições, destruir civilizações, sepultar culturas que parecem tocadas pelo condão da perenidade.”

O revolucionário de Vila Rica foi conhecido também como O República e O Liberdade – apelidos que parecem óbvios, considerando-se que tais palavras carregavam, no século XVIII, a tal “sugestão avassaladora”, na feliz denominação do acadêmico Oiliam José.

Estes nossos dias, quando os agentes da gestão federal se comportam, se não em estado de babárie total,  ao menos no mais completo desprezo ao intelectualismo, uma palavra surge na mídia com  força avassaladora: Marighella, título do filme de Wagner Moura.

A partir do furor provocado no Festival de Cinema de Berlim, Wagner Moura, trazendo à  baila o nome de Carlos  Marighella, dá importante contribuição ao movimento de resistência ao retrocesso que se tenta impor ao Brasil – o que muitos chamam de fascismo, ainda que haja dúvidas sobre se o Capitão reformado, absolutamente subletrado, sabe o significa fascismo.

Moura, em sua primeira experiência como diretor de cinema, resgata um símbolo que estava fazendo falta ao Brasil, num momento em que a resistência precisa de inspiração. E, pelo ódio que o filme despertou nas hostes da extrema-direita, os robôs bolsonarianos destilam ódio nas redes sociais contra Marighella, Wagner Moura e quem mais não apoie assassinos como Brilhante Ustra e Sérgio Fleury, heróis dessa gente malvada.  Essa pregação do ódio, paradoxalmente, nos dá uma certeza:  tão cedo, o revolucionário baiano não será vítima  da apropriação indébita ocorrida com Joaquim José. Marighella e Tiradentes são patrimônio do preto, pardo e pobre povo brasileiro, não dos poderosos brancos, ricos e privilegiados.

(Bddepd)

PERFIL DO BARÃO

Todos mostram seu perfil, também vou mostrar o meu. Chamo-me Marcos Aparício Lins Machado de Guimarães Rosa, e, logo se percebe, não sou propriamente uma pessoa, mas uma homenagem: cada um desses nomes tem um significado para mim, mas não vou tirar de ninguém – se não o prazer, ao menos o exercício de identificá-los.

Atendo também por Barão de Pau d´Alho (e isto tem a ver com o cheiro de minha terra – aí uma pista para pesquisadores ociosos). Sou um jornalista modesto, se é que isto existe, pois escolhi esse título honorífico de menor impacto, quando bem me poderia autoproclamar Marquês da Cocada Preta, Conde de Macuco ou Duque Sei-Lá-do-Quê.  A propósito, os títulos de nobreza (tiremos daí os reis e príncipes, gente de outra classe) são, em ordem decrescente de importância, duque, marquês, conde, visconde e barão, caso não me engana e a história – e ao dizer isto já denuncio este como um espaço dedicado à informação…

Apesar do velho adágio “nobreza obriga”, não sou muito de frequentar as ditas rodas sociais, muitas vezes parecidas com rodas da malandragem: vivo um tanto isolado do lufa-lufa da cidade, envolvido com meus livros, um tabuleiro de xadrez e uns discos de jazz e MPB. Quando acometido da fadiga do tédio, ou se quero sofrer um pouco, ligo a tevê, assisto a um noticiário, registro um monte de agressões à língua portuguesa, me canso e retorno à  rotina. Novela, não vejo nunca, pois meu masoquismo ainda não chegou a tais extremos. Nada de telefone nem zap-zap, não sei bem o que é rede social, para  mim rede é aquela coisa que os pobres do Nordeste usam em substituição à cama, e que os ricos têm nas casas de praia.

Procuramos fazer aqui, semanalmente, uma coluna, erguida com  as coisas que nos derem na telha, deixando a eventuais leitores espaço para os devidos xingamentos, pois vivemos, formalmente, em regime democrático. Diga-se ainda que, por se tratar de um espaço politico-ecológico, escolhi para musa da coluna aquela moça chegada a encontros religiosos em altos de goiabeiras – e de cujo nome, graças a Deus, já esqueci.