Advogados de todo o Brasil, uni-vos!
O País marcha para a barbárie
Barão de Pau-d´Alho / bddepd@gmail.com
Advogados não são mortais comuns: falam de forma rebuscada, valendo-se de inalcançáveis expressões em latim, classificam como inocentes pessoas que nós “temos certeza” de que são culpadas, e deles nos valemos quando a coisa engrossa pro nosso lado. Como se isso fosse pouco, são bem vestidos, desfilam pelos corredores do fórum sua sabedoria devidamente envelopada , no “grito” da elegância masculina: terno e gravata. Certa vez, um legislador desavisado tentou dispensar-lhes a gravata, alegando nosso clima tórrido. Não conseguiu. Tirar a gravata do advogado equivale a subtrair-lhe o pescoço ou o registro da OAB. Gravata e advogado são como unha e carne.
Num Brasil que, estranhamente, tenta andar para trás, advogado parece candidatar-se à extinção. “Primeira coisa a fazer: matar todos os advogados!” – esta famosa fala do açougueiro Dick (Dick, the bucher), de Shakespeare (creio que em “Henrique VI”), faz-se presente no ar que se respira no Brasil, com um sistema jurídico fortemente partidarizado, em que juiz vira ministro num piscar d´olhos e sobre o STF pesa a ameaça damocliana da “visita” de um soldado e um cabo. Mas a destruição do sistema há de começar anulando os advogados.
Feud explica tudo
O governo já deu sinais claros de que pretende desmontar a OAB e a Justiça do Trabalho – e não vai esquecer os advogados, pois estes são fundamentais à nossa democracia. Sem advogado, salvo raríssimas exceções, o cidadão não tem como reivindicar direitos – os processos teriam apenas uma face, a face do opressor que se insinua no horizonte brasileiro. Qualquer restrição ao direito da pessoa (uma conquista que remete à França incendiada do século XVIII, com a Revolução Francesa) significa um retrocesso inadmissível em qualquer governo minimamente inteligente. E o nosso – quem frequenta algum tipo de mídia sabe disso – tem a inteligência de uma ameba.
No divã do psicanalista, o Capitão B. e seu séquito nos mostram um resultado deveras preocupante:
“O discurso do presidente tuiteiro incita fantasmas infantis que buscam um pai protetor que solucionará todos os nossos problemas. Na conceituação dos bolsonaristas não cabem discussões técnicas, recursos à história, argumentos, raciocínios lógicos. Cada seguidor tem incrustado nele algo do líder: a homofobia, ou o facismo, a violência, a apologia da pena de morte, a defesa das armas e da caça aos animais, a carência de solidariedade (quando não a tirania contra os mais fracos, ou o racismo, além de tantos outros símbolos de uma consciência tão pobre que chega ser primitiva. Ele desperta o que há de pior em cada um de nós.”
Antes que os descontentes e ofendidos xinguem o editor Daniel Thame por esta doce análise, saibam todos que, como este modesto Barão não anda com segurança no perigoso campo lacaniano (em verdade, está mais para cartas, bola de cristal e, sobretudo, palpites), quem acima falou e disse foi o psicanalista Christian Dunker, professor titular da USP, Prêmio Jabuti/2012 (pelo livro Psicologia e Psicanálise), colunista da revistas Mente & Cérebro, Cult e Brasileiros, além do blog da Boitempo Editorial. Alguém vai encarar?
(BddePd)
(As diatribes do Barão são publicadas neste espaço, às terças e sextas, quer chova, quer faça sol).
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PERFIL DO BARÃO
Todos mostram seu perfil, também vou mostrar o meu. Chamo-me Marcos Aparício Lins Machado de Guimarães Rosa, e, logo se percebe, não sou propriamente uma pessoa, mas uma homenagem: cada um desses nomes tem um significado para mim, mas não vou tirar de ninguém – se não o prazer, ao menos o exercício de identificá-los.
Atendo também por Visconde de Pau d´Alho (e isto tem a ver com o cheiro de minha terra – aí uma pista para pesquisadores ociosos). Sou um jornalista modesto, se é que isto existe, pois escolhi esse título honorífico de menor impacto, quando bem me poderia autoproclamar Marquês da Cocada Preta, Conde de Macuco ou Duque Sei-Lá-do-Quê. A propósito, os títulos de nobreza (tiremos daí os reis e príncipes, gente de outra classe) são, em ordem decrescente de importância, duque, marquês, conde, visconde e barão, caso não me engana e a história – e ao dizer isto já denuncio este como um espaço dedicado à informação…
Apesar do velho adágio “nobreza obriga”, não sou muito de frequentar as ditas rodas sociais, muitas vezes parecidas com rodas da malandragem: vivo um tanto isolado do lufa-lufa da cidade, envolvido com meus livros, um tabuleiro de xadrez e uns discos de jazz e MPB. Quando acometido da fadiga do tédio, ou se quero sofrer um pouco, ligo a tevê, assisto a um noticiário, registro um monte de agressões à língua portuguesa, me canso e retorno à rotina. Novela, não vejo nunca, pois meu masoquismo ainda não chegou a tais extremos. Nada de telefone nem zap-zap, não sei bem o que é rede social, para mim rede é aquela coisa que os pobres do Nordeste usam em substituição à cama, e que os ricos têm nas casas de praia.
Procuramos fazer aqui, semanalmente, uma coluna, erguida com as coisas que nos derem na telha, deixando a eventuais leitores espaço para os devidos xingamentos, pois vivemos, formalmente, em regime democrático. Diga-se ainda que, por se tratar de um espaço politico-ecológico, escolhi para musa da coluna aquela moça chegada a encontros religiosos em altos de goiabeiras – e de cujo nome, graças a Deus, já esqueci.
Parabéns ao companheiro Antônio Lopes pelo retorno. E parabéns ao editor Daniel Thame pelo bom gosto. Forte abraço.
Marival Guedes