Eulina Lavigne

eulina lavigne“Não pensem que Eu vim trazer a paz para a Terra. Eu não vim trazer a paz, mas sim a espada. Eu vim separar o filho de seu pai, a filha de sua mãe e a nora de sua sogra. E o homem terá como inimigos aqueles que moram em sua própria casa. (Matues, 10:34 a 36)

Permitam-me ter autonomia e liberdade para dar uma das possíveis  interpretações desta citação, muitas vezes desafiante com relação ao seu entendimento. E penso que cada qual deve aceitar e compreender da forma que lhe for mais conveniente.

Jung quando trouxe o conceito de individuação se referia ao processo de nos tornarmos uma personalidade unificada, um sujeito uno, indivisível e integrado. E este processo acontece ao longo da nossa vida quando aos poucos vamos integrando a nossa sombra e ampliando a nossa consciência sobre as nossas questões internas ainda mal resolvidas.

E esta tarefa é uma tarefa árdua, que exige persistência, paciência, muita resiliência, aceitação e humildade. Podemos envelhecer, sermos bem-sucedidos e ainda assim vivermos de uma forma superficial, completamente inconsciente de quem de fato somos.

Separar o filho do pai, a filha da mãe e a nora da sogra, observando do ponto de vista da psicologia, diz respeito ao processo de construção do sujeito. Cortar o cordão umbilical e se compreender como uma pessoa única com desejos, aspirações próprias, tornando-se ao longo da vida o que potencialmente é, cada vez mais de forma profunda e consciente.

Eu não sou meu pai, não sou minha mão e não sou a mãe do meu marido. Trago aspectos da minha ancestralidade e tenho a minha individualidade. Eu sou eu. E o ingrediente para que esta separação seja feita de forma construtiva e madura é o AMOR.

Maomé trouxe a justiça, Jesus trouxe o amor e enquanto o amor, principalmente o amor próprio, não prevalecer, teremos dificuldades para disseminá-lo. E para que isto seja possível é muito importante a busca do autoconhecimento e aceitação de si.

Esta conquista é útil para evitarmos viver em busca de compensações, que é a forma que o nosso inconsciente encontra para compensar o nosso ego de diversas maneiras, que pode ser por esquecimentos, envolvimento amorosos, desastres, noções levianas, dentre outras e até a identificação de um herói que possa ser a salvação para as nossas próprias mazelas.

O homem terá como inimigo aquele que mora em sua própria casa. E esta casa é o seu SER. Nós lutaremos contra a nossa agressividade, a nossa maldade, a nossa inveja, a nossa vaidade, o nosso medo, a nossa crueldade para vencermos a nós mesmos. Estes são os nossos verdadeiros inimigos. Eles estão dentro de nós e não fora.

Enquanto desejarmos nos distanciar de nós e negarmos a nossa sombra, vamos projetá-la no outro e solicitar a alguém que represente esta agressividade, essa maldade e crueldade que está dentro de nós.

Quando reconhecermos e integrarmos todos estes aspectos em nós, e reverenciá-los, podemos assim desenvolver o auto respeito e o respeito pelo próximo. Desta forma a verdade nos libertará. A nossa verdade e não uma verdade travestida de mentira.

Quero crer que todo este processo que estamos vivenciando na atualidade, de divisões, separações, desavenças faça parte do caminho de construção da individuação.