Por Hélio Doyle*

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“Hélio Doyle! ” – o grito com sotaque baiano me surpreendeu, naturalmente. Não esperava que alguém chamasse meu nome em uma das arborizadas ruas do Vedado, em Havana. Foi com muita alegria que logo avistei Valter Xéu desembarcando de um carro dirigido por outro grande amigo, Jorge Ferrera – que por muitos anos foi conselheiro político na embaixada de Cuba em Brasília.

Rafael Hidalgo, também ex-conselheiro político de Cuba no Brasil, e eu chegávamos para uma visita ao Icap (Instituto Cubano de Amizade com os Povos). Assim como Xéu, eu estava em Cuba para participar das homenagens póstumas a Fidel Castro e, no papo que travamos ali mesmo na calçada, ele lembrou as conversas com o comandante em 2001, no encontro de jornalistas da América Latina e do Caribe, em Havana. Ali havia surgido o Pátria Latina.

patria 1Como Xéu sempre recorda, a sugestão foi de Fidel: nós, os quase 500 jornalistas reunidos no Palácio das Convenções, deveríamos criar veículos alternativos para se contrapor às multinacionais da comunicação que serviam aos interesses dos Estados Unidos e do neoliberalismo e ignoravam as lutas e as aspirações dos povos latino-americanos.

Nos quase quatro dias do encontro, Fidel ouviu atentamente cada um dos jornalistas que subiu à tribuna para fazer sua comunicação. Não fez nenhum comentário à minha exposição sobre o mito da liberdade de imprensa no capitalismo, mas discutiu animadamente com muitos outros colegas após suas apresentações. No encerramento, Fidel falou por mais de cinco horas, sem interrupção. Nos intervalos das sessões, às vezes de pé, dialogava com os que o cercavam.

Foi numa dessas conversas que Xéu imbuiu-se da missão de criar um novo veículo de comunicação, que depois recebeu o nome de Pátria Latina, e desde 2002 produz o que se define como um “jornalismo crítico de postura marcante frente à globalização, independente ao poder econômico e de profunda identidade com os anseios da sociedade civil”. Como sugeriu Fidel, “o objetivo é furar o bloqueio das poderosas multinacionais da comunicação que espalham suas notícias globalizadas”.

Xéu cerca-se de uma equipe competente e tem o apoio de um conselho editorial do qual tenho a honra de pertencer, mas é inegável que Pátria Latina é, sobretudo, uma obra de sua autoria. Xéu tem o mérito de saber tirar do encontro de jornalistas em Havana a conclusão correta, a capacidade de tornar realidade a sugestão do comandante e a competência em manter Pátria Latina por tantos anos. Não ficou na teoria, foi à prática. E com sucesso.

*Hélio Doyle é jornalista, escritor, foi professor da Universidade de Brasília e secretário da Casa Civil do governo do Distrito Federal …