O imponente prédio na Plaza de La Revolución, em Havana, abriga um jornal de faz-de-conta. O sentido não é pejorativo, pelo contrário. No Gramma, o jornal oficial do governo cubano, cerca de 70 jornalistas fingem que trabalham, apenas para manter o moral elevado. Para não ´jogar a toalha´, usando uma expressão bem brasileira.

O problema, como sempre, é a crise econômica vivida pelo país. O Gramma, que nos áureos tempos do Bloco Socialista tirava uma média de 700 mil exemplares/dia (chegou a 1 milhão/dia em ocasiões especiais) hoje tira cerca de 400 mil exemplares. Não é pouco num país com 11 milhões de habitantes, mas é uma situação que obviamente não agrada os jornalistas, até porque a edição circula com apenas quatro páginas, impresso num papel sem qualidade. “A gente faz as matérias normalmente, mesmo sabendo que a maioria delas não será publicada”, resigna-se a editora de do noticiário internacional, Nidia Diaz.

Trabalhar num jornal e ter que seguir estritamente as diretrizes do governo parece não constranger Nidia e seus companheiros.”Por acaso vocês no Brasil trabalham para algum órgão que não esteja comprometido com grupos financeiros ou políticos”, responde ela, perguntando.

Tento explicar que diz apenas meia-verdade, porque no Brasil pode se escrever contra ou a favor do governo. Nidia não se dá por vencida e afirma que “se a maioria da população aprova a revolução, não existe problema que a imprensa seja comprometida com os ideais socialistas”. A ´conversa de surdos´ termina aí, porque Nidia teria 500 milhões de argumentos para justificar a existência de imprensa livre em Cuba.

Além do Gramma, que circula cinco dias por semana, Cuba possui 14 jornais semanais provinciais, um jornal da juventude cubana e outro dos trabalhadores (também semanais). Existem ainda 55 emissoras de rádio (49 locais, 5 nacionais e uma internacional) e 11 emissoras de televisão (2 nacionais, 8 regionais e uma internacional). Toda “a serviço do socialismo”. A programação da tevê é insossa, com filmes mexicanos, novelas, documentários e um noticiário comprometido até a medula com o regime.

Pelas parabólicas (em número cada vez mais crescente, com a tolerância do governo) captam-se emissoras do México, Colômbia e Venezuela, cujos noticiários simplesmente ignoram o Brasil.

95% dos cubanos tem aparelhos de televisão. A maioria dos aparelhos veio da extinta União Soviética e está caindo aos pedaços. Mas, a exemplo dos carros antigos, funcionam por um desses milagres que nem os cubanos conseguem explicar.