Protesto contra invasões bloqueia a BR 101 em Buerarema
Milhares de manifestantes, entre eles produtores rurais familiares, comerciantes e a população de Buerarema, fizaram um protesto na BR-101, contra as invasões de terras por supostos índios da etnia Tupinambá na região da Serra do Padeiro. Por volta das 10 horas, o grupo interditou as duas pistas da rodovia, queimando paus e pneus, com objetivo de chamar a atenção das autoridades para a situação de insegurança que hoje reina na zona rural e até na área urbana do município. Em solidariedade ao movimento – e também por temor de conflitos –, o comércio e as escolas de Buerarema não funcionaram nessa sexta-feira (16).
Agricultores da região da Serra do Padeiro, que abrange os municípios de Buerarema, Ilhéus e Una, estão sendo expulsos de suas terras, sob ameaça de violência. Somente essa semana foram 5 invasões. “Eles usam rifles, espingardas e fazem rondas nas estradas, armados. Nessa semana eu fui perseguido por um deles, que me ameaçou de morte. Fugi de moto, mas caí e acabei me ferindo. Hoje, sou um homem jurado de morte por eles”, afirma o agricultor J.J.S.S., residente em um dos quatro assentamentos de reforma agrária localizados na área de conflitos.
O grupo de produtores chama a atenção para a incoerência do próprio governo federal que, por um lado, estimula a produção em áreas de assentamentos e, por outro, financia o que os índios chamam de retomada das terras. “Ora, se existem quatro assentamentos na área, por que o governo, através da Funai, estimula essas invasões? Para muita gente é apenas uma contradição mas, para nós, é ameaça de morte”, pondera outro produtor, que também se declara ameaçado de morte, e por isso pede anonimato.
Prejuízos
A sexta-feira foi um dia de comércio fechado em Buerarema, mas os prejuízos para o município, estado e até a união vão bem além disso. Um dos líderes do movimento fez as contas, e diz que, caso seja aprovada a demarcação que os índios reivindicam, os prejuízos podem chegar a mais R$ 200 milhões por ano.
“É uma região que, do ponto de vista da produção agrícola, está pronta. Em toda a área são 5 mil famílias produzindo mais de 50 mil arrobas de cacau, fora as outras culturas. Cauculo que essa descolonização irá gerar um prejuízo financeiro de R$ 200 milhões, além de condenar 5 mil famílias, que estão nessa área há mais de dois séculos, à miséria nos centros urbanos”.
Ele alerta para a situação de improdutividade das áreas que foram demarcadas para indígenas em outras regiões. “Há casos em que, além de não produzirem nada nessas áreas, o que se viu foi o crescimento da marginalidade naquelas populações, com alto índice de consumo de bebidas e drogas ilícitas, além da prostituição juvenil entre a população feminina”, declara o manifestante, também pedindo anonimato.
Ardil
Outro manifestante relatou a forma como perdeu a roça para um índio que se dizia seu amigo. “Ele comia junto comigo. Vivia lá em casa. Quando começou isso, ele disse que o jeito era eu sair da casa e da fazenda, por que se não, os outros poderiam me matar”. Ao que parece, o que ocorreu com esse agricultor não foi uma exceção. Outros produtores relataram casos parecidos, todos ocorridos, óbvio, antes do início do levante atual.
“Uma ação que muito ajudaria seria o Ministério Público Federal usar o material que já foi produzido em diversos inquéritos da Polícia Federal para acionar a Justiça o quanto antes. Mas, percebemos, que não há uma celeridade por parte do MPF nessa questão. Enquanto isso, um derramamento maior de sangue se anuncia”, afirma outro produtor.
Carros incendiados; idoso espancado
Um veículo que transportava cinco pacientes que fazem hemodiálise no Hospital Calixto Midlej Filho, em Itabuna foi incendiado, ao tentar furar o bloqueio na rodovia, segundo informou a secretária de Saúde de Pau Brasil, Maria Conceição Mota. Além desse veículo, uma picape GM S-10, um outro automóvel, um VW Gol, também foi incendiado pelos manifestantes. Ninguém ficou ferido.
Por outro lado, a quarta (14), produtores foram atacados e perderam cerca de R$ 13 mil em mercadorias e dinheiro. Dois homens – um deles idoso, de 86 anos – foram agredidos, e uma mulher acabou queimada, ao ser atingida por chamas que consumiram um estabelecimento comercial de sua propriedade. Os homens agredidos foram Agnaldo Moreira e Domício Nascimento, e amulher foi identificada por Meire Souza Nascimento.
Força nacional
O deputado Geraldo Simões fez dois pronunciamentos no plenário da Câmara Federal nessa semana a respeito dos conflitos na Serra do Padeiro. Ele alertou os governos federal e estadual para o risco de derramamento de sangue na região, uma vez que os cerca de 5 mil produtores possuem documentos que comprovam a posse da terra há várias gerações, e não pretendem sair de suas propriedades. “O que pedimos é a presença da Força Nacional de Segurança imediatamente, a fim de evitar o pior, e a revogação do decreto que autoriza essa injustiça social, que é o que vemos acontecendo na região da Serra do Padeiro”, defendeu Geraldo Simões. (do O Trombone)











