Dom Ceslau Stanula

O mundo foi surpreendido nesta histórica data 11 de fevereiro 2013. Como o raio do céu caiu a notícia vindo do Vaticano, que o Papa Bento XVI renunciou como Bispo de Roma e sucessor de São Pedro.

O mundo católico recebeu esta notícia com surpresa. O Papa renunciou, e nós aceitamos este fato no espírito de fé.

Renúncia de um papa não é o fato isolado na Igreja. Na verdade, alguns papas na História da Igreja renunciaram também: Ponciano, em 235; Celestino V, em 1294; Gregório XII, em 1415. O Bento XVI é o quarto papa que renuncia o papado.

A renúncia está prevista no Código do Direito Canônico tanto da Igreja Romana como Oriental. No cânon 332 §2 lemos: “Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie a seu múnos, para a validade se requer que a renúncia seja livremente feita e devidamente manifestada, mas não que seja aceita por alguém.”

Agora o mundo invade uma onda gigante de especulações sobre o motivo que levou o Papa a este ato. Segundo a assessoria da imprensa do Vaticano, apresentada pelo Pe. Lombardi, o peso do pontificado teria levado o Papa a esta decisão. Esta excluída a hipótese de alguma doença grave a não ser a que está com a idade avançada. Para entender melhor os motivos que levaram o Papa a esta decisão escutemos o que ele mesmo fala no documento apresentado aos cardeais. O texto original está em latim, mas publicamos aqui na tradução portuguesa.

Caríssimos Irmãos, Convoquei-vos para este Consistório não só por causa das três canonizações, mas também para vos comunicar uma decisão de grande importância para a vida da Igreja. Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idôneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro, que me foi confiado pela mão dos Cardeais em 19 de Abril de 2005, pelo que, a partir de 28 de Fevereiro de 2013, às 20,00 horas, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem tal compete, o Conclave para a eleição do novo Sumo Pontífice.

Caríssimos Irmãos, verdadeiramente de coração vos agradeço por todo o amor e a fadiga com que carregastes comigo o peso do meu ministério, e peço perdão por todos os meus defeitos. Agora confiemos a Santa Igreja à solicitude do seu Pastor Supremo, Nosso Senhor Jesus Cristo, e peçamos a Maria, sua Mãe Santíssima, que assista, com a sua bondade materna, os Padres Cardeais na eleição do novo Sumo Pontífice. Pelo que me diz respeito, nomeadamente no futuro, quero servir de todo o coração, com uma vida consagrada à oração, a Santa Igreja de Deus. Vaticano, 10 de Fevereiro de 2013. BENEDICTUS PP XVI.

A Carta-Decreto dirime qualquer dúvida. Três realidades levaram o papa para tomar desta decisão. Primeiro: “no mundo de hoje, sujeito a rápidas transformações e sacudido por questões de grande relevo para a vida da fé, para governar a barca de são Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também ovigor tanto do corpo como do espírito“. Segundo, o mundo de hoje no ritmo tão acelerado, espera respostas imediatas. Estas podem ser dadas, com “o vigor quer do corpo quer do espírito”. Não basta só meditar e rezar são necessárias também constantes deslocamentos para acompanhar de perto os problemas que tem influência para a fé do povo. Terceiro, a idade avançada não oferece condições de cumprir esta missão. Por isso, como lógica conclusão das premissas anteriores: “com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”.

Não foi a doença grave, nem os problemas enfrentados como a pedofilia foram fatores decisivos da renúncia. O próprio Papa, segundo o Pe. Lombardi, porta voz do Vaticano, citando o livro-entrevista “Luz do Mundo” que o Papa deu algum tempo atrás, sobre a possível renúncia por motivos de graves problemas como pedofilia e outros, disse que este momento não é “o momento de renunciar, mas de enfrentar”. Mas o Papa também esclareceu “que é possível renunciar quando não é mais possível continuar”. Tal tipo de situação inclui aquelas em que o papa considera oportuno renunciar por não estar mais em condições físicas adequadas.

Quase todos os chefes das nações se pronunciaram sobre este fato novo no mundo. Todos com admiração respeitam a sua decisão.

A Diocese de Itabuna também recebeu a notícia como o raio que caiu dos céus. Aceitamos com fé, admiração e respeito o ato do Papa. Este gesto nos ensina tanto. O Papa pregou o Evangelho e não a si mesmo. Não se apegou ao poder, a glória, às comodidades na vida. Neste gesto se vê claramente, que tudo isto ele fazia por Jesus e sua Igreja. Mas agora quando as suas forças diminuem, mas para que a força do evangelho não enfraqueça, renuncia para que o outro, com mais condições físicas continuasse a obra de Deus.

Ele, vai se enclausurar num pequeno mosteiro das Clarissas dentro do Vaticano, ajudando a Igreja de Jesus crescer, com a oração e sofrimento da idade. Que exemplo mais estupendo que ele nos deixa como legado!”

Dom Ceslau Stanula é bispo Diocesano de  Itabuna,