A segunda edição da Festa Literária Internacional de Cachoeira (Flica) começou nesta quarta-feira (17), com a mesa “Literatura – Introspecção ou Exibicionismo?” na programação principal. Mediada pelo professor Jorge Portugal, a mesa contou com as presenças do jornalista e colunista da Folha de S.Paulo, Xico Sá, e da filósofa Marcia Tiburi.
Jorge Portugal iniciou a noite com uma citação do poeta parnasiano Olavo Bilac sobre o fazer literário. “Afinal, fazer literatura é um ato solitário?”, indagou. Marcia Tiburi foi a primeira a responder. “Eu trabalho o ano inteiro para ficar três meses sem falar com ninguém. Para poder escrever, eu tenho que ficar sozinha. No resto do tempo, eu não faço literatura, faço crônicas, escrevo para jornal, filosofo”, diferenciou. Já o autointitulado “filósofo de botequim”, Xico Sá, fez uma breve recuperação da história do livro para mostrar como se posiciona diante do fazer literário. “O livro era guardado na torre de marfim, mas hoje ele está na fase da celebração máxima da visibilidade – com a TV, com a internet, as festas literárias. Hoje eu transito por esses lugares com muito mais facilidade, festejo com o leitor. O mundo mudou e a gente tem que correr. Mas a escrita ainda é um fazer muito solitário”, afirmou.

O início da mesa foi um dos poucos momentos em que a discussão girou sobre o tema da introspecção e do exibicionismo na literatura. No restante do tempo, temas como o amor romântico e o feminismo roubaram a cena e arrancaram risos e perguntas da plateia, que interagia através de bilhetes e de mensagens via Twitter.
Isso porque tanto Marcia quanto Xico carregam no currículo a participação no programa de debates “Saia Justa”, do canal fechado GNT. Lá, eles expõem suas opiniões sobre tudo que envolva relacionamento amoroso, comportamento, política, homens e mulheres. Na mesa, os dois falaram também sobre essa experiência na televisão. Marcia Tiburi, inclusive, se tornou “feminista por solidariedade” durante a participação de cinco anos no programa e escreveu o livro “Olho de Vidro: A Televisão e o Estado de Exceção da Imagem” (Record, 352 págs., R$ 42,90), um estudo que vai da análise da experiência visual a questões como alienação e hiperexposição na mídia. “Para mim, fazer televisão era um trabalho. É chato, solitário, ruim. Não tenho televisão, não gosto de televisão, mas foi com ela que descobri o livro e comecei a me interessar com a relação política e anti-política que temos com as imagens”, contou. Xico Sá, que hoje participa do mesmo programa, concordou que trabalhar na televisão é difícil, mas alertou que o “Saia Justa” não o transformou em um feminista.

“Eu não sou feminista, mas sou um mulherista”, brincou. Aliás, em diversos momentos, foi Xico Sá o responsável por descontrair [e desconstruir] algumas das falas  de Marcia sobre o quão prejudicial é para as mulheres a crença no amor romântico. “Não importa se o amor é sincero, o que importa é o convencimento. Mantenho a cota do canalhismo lírico para ser um bom homem”, concluiu, ao arrancar risos da plateia.