trocamos ouro por espelhinhos?

Vários estudos científicos têm revelado que comer chocolate pelo menos com moderação e com freqüência (duas vezes por semana é o ideal), reduz em um terço o risco de mortalidade cardiovascular quando a pessoa já sofreu ataque cardíaco. O estudo comparou os pacientes que consumiam com as que não consumiam o produto e concluiu que o chocolate está associado a uma redução da mortalidade cardíaca em pessoas que tenham sobrevivido a um infarto.

            São as inúmeras demonstrações dos benefícios do chocolate para a saúde desde que, é claro, não seja consumido em excesso.

            Mas, os poderes do chocolate não se limitam à questão da saúde.

            Trata-se de um produto cujo consumo não para de crescer e com um imenso potencial de exploração.

            Um produto para todos os gostos e todos os bolsos, com consumidores em todos os cantos do planeta, dos mais remotos rincões às mais desenvolvidas regiões.

Afinal, quem resiste ao chocolate?

            E onde é que nós, fincados nessa terra em que se cultiva 90% do cacau, a matéria prima indispensável à produção do cada vez mais valorizado e consumido chocolate, ficamos?

            Nós simplesmente não ficamos!

            Ou melhor, ficamos assistindo os outros ganharem dinheiro, enquanto nos conformamos em ser apenas fornecedores de matéria prima.

            Ficamos com as migalhas de um bolo generoso, como se a nossa região ainda vivesse nos tempos do Brasil Colônia.

            Sem qualquer depreciação a esses heróis da obstinação que são os produtores de cacau, somos um bando de botocudos trocando frutos que valem ouro por espelhinhos e outras bugigangas.

            Fazendo a festa e a fortuna dos que transformam nossas amêndoas em pó e depois multiplicam os lucros às dezenas.

A conta é simples: enquanto o mercado de cacau em amêndoas movimenta cerca de R$ 300 milhões/ano, o setor chocolateiro fatura R$ 4 bilhões/ano.

Existe chocolate de 2 reais e chocolate de 200 reais ou até mais.

O inacreditável é que, apesar da simplicidade e da obviedade da conta, ainda não adotamos uma política efetiva de industrialização de cacau, já que o que existem hoje são iniciativas isoladas, embora bem sucedidas e que podem servir de exemplo.

A proposta do Governo Federal,  de liberar recursos para a implantação de 20 fabricas de chocolate, gerenciadas por cooperativas ou associações de produtores, ainda é incipiente, diante do tamanho do potencial sul-baiano e da demanda existente.

Enquanto essa mudança de postura não ocorrer, endividados até o pescoço e ainda sem condições de superar a devastação provocada pela vassoura de bruxa, resta aos produtores de cacau comer muito chocolate.

 Pelo menos minimiza o risco de um enfarto.

            Mas que dá um aperto no coração dá: enquanto a gente se limita a produzir matéria prima, quem ganha dinheiro é quem produz chocolate.

            Pra eles, o chocolate não faz bem apenas ao coração, mas também para o bolso.