:: dez/2010
2011 abre as asas…
“Um menino resolveu testar a sabedoria do velho sábio.
-Vou colocar um pássaro numa das mãos, fechar, mostrar ao sábio e perguntar se está vivo ou está morto. Se ele disser que está vivo, aperto a mão e mato o pássaro, se ele disser que está morto, abro as mãos e solto, desmoralizando o sábio.
O menino se aproximou do sábio, que ao ouvir a pergunta respondeu sabiamente:
-Ele está do jeito que você quer que ele esteja”.
Que 2011 seja exatamente do jeito que a gente quer que ele seja.
Mais do que isso, que 2011 seja do jeito que a gente faça com que ele seja.
Porque a mídia pistoleira range os dentes…

A última edição da revista Veja, que ao fazer um balanço dos 8 anos do presidente Lula parece estar se referindo a um outro país numa outra galáxia, e as edições recentes do jornal Folha de São Paulo, criando factóides para minimizar um final de governo coberto de glórias, com expressivos indicadores econômicos sociais; dão bem o tom da postura daquilo que alguns chamam de Partido da Imprensa Golpista e que nas últimas eleições se revelou como Mídia Pistoleira, com seus petardos contra Lula, Dilma e o PT.
As explicações para esse ódio visceral da parte que ocupa o topo da pirâmide da mídia (Globo, Folha e Estadão), podem revelar um preconceito contra o operário semi-analfabeto que se transformou no maior presidente da história do Brasil.
Podem também revelar que essa parcela da mídia, extremamente conservadora e não raramente reacionária, não se conforma que a despeito de todo o seu suposto poder de fogo (em alguns momentos um fogo cujas labaredas atingiram níveis mercuriais), Lula se elegeu em 2002, se reelegeu em 2006 -depois de passar pelo inferno do superdimensionado mensalão- e em 2010 conseguiu a proeza de eleger a até então desconhecida Dilma Rousseff, enfrentando uma das campanhas mais sórdidas, nojentas e baixas da história recente do país.
Podem revelar, simplesmente, a ojeriza que esses senhores que se consideram donos daquilo que se convencionou chamar de opinião pública (mas que no mundo real são donos apenas da própria opinião) a um fato inegável: Lula democratizou a distribuição das verbas publicitárias do Governo Federal, pulverizando-a em veículos de comunicação de todo o Brasil.
Verbas que, sob os governos pré-Lula, eram extremamente concentradas na grande mídia.
Em seus dois mandatos, Lula ampliou de 499 para 8.094 o número de jornais, revistas, emissoras de radio e televisão, sites e outros meios de comunicação que recebem verbas de publicidade do governo. Até 2002, eram contemplados com a mídia oficial veículos de 182 municípios, número que saltou para 2.733.
A mídia, antes concentrada em tevê, rádio e jornal/revista se estendeu a portais de internet, cinemas, out-doors, painéis em espaços de grande circulação e até carros de som.
Traduzindo: com mais verbas publicitárias, os pequenos veículos investem em modernização e em bons profissionais e se fortalecem, possibilitando à população o acesso a novos canais de comunicação e fugindo da imposição da verdade quase absoluta que imperou durante décadas num sistema extremamente concentrado nas mãos de uma oligarquia midiática.
Mais do que verbas, a grande mídia -e é nisso que residem os temores e talvez seja isso que justifique parte desse rancor- perde o monopólio da comunicação, a exclusividade de determinar o que o certo e o que é errado, quem é bom e quem é ruim.
E isso não é ruim, é péssimo, para quem acreditou que não era apenas o quarto poder, mas às vezes o primeiro e único poder, a determinar os rumos de um governo ao sabor de seus interesses e dos interesses de seus aliados.
O ranger de dentes, a crítica incessante ainda que trombando com os fatos e as tentativas de desestabilizar o governo, certamente prosseguirá durante o governo de Dilma Roussef.
Mas, graças à democratização das comunicações, possibilitada entre outras coisas pela ampliação da distribuição das verbas de publicidade federais, essa mídia pistoleira continuará dando tiros a esmo.
Como se viu em 2010, a soma de pequenos Davis já tem força suficiente para fazer o gigante Golias engolir a própria voz.
“Mãinha, Papai Noel usa arco e flecha?”

Famílias que habitam áreas rurais em Ilhéus, Una, Buerarema, Pau Brasil e Itaju do Colônia atravessaram o Natal e aguardam o Ano Novo ansiosas.
Não, elas não esperam um Papai Noel tardio ou um anjo anunciando os augúrios de 2011.
O que elas esperam, na verdade o que elas temem, é que a qualquer momento tenham suas propriedades invadidas por indígenas ou supostos indígenas, e dali expulsas muitas vezes com extrema violência.
As invasões, que os índios chamam de retomada, se tornaram rotineiras a partir do momento em que a Funai aprovou um relatório que reconhece como pertencente aos tupinambás uma extensa área que compreende parte dos municípios de Ilhéus/Olivença, Una e Buerarema.
Embora o documento não tenha poder para criar a reserva indígena, serviu de pretexto para o início de uma série de invasões.
Como vão longe os tempos de ingenuidade, essas invasões se intensificam em períodos em que ninguém se atreve a criar polêmica, como as eleições, ou em que parece haver um vácuo, como as festas de Natal e Ano Novo, onde ocorre um natural relaxamento das atividades do poder executivo e do poder judiciário.
E, assim como ocorreu nas eleições, as invasões voltaram a ocorrer com maior freqüência neste período natalino.
Agora, elas não se limitam à área reivindicada pelos tupinambás. Há relatos de invasões de propriedades em Itaju do Colônia, que ao lado de Pau Brasil é palco de uma disputa histórica (e não raro sangrenta) entre índios pataxós hã hã hãe e fazendeiros por extensas áreas de terras.
Uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa, como diria o grande filósofo contemporâneo Tiririca.
Uma coisa é respeitar os direitos históricos dos índios, restituindo-lhes ao menos uma parte do que lhes foi espoliado durante séculos.
Outra coisa é expulsar pequenos produtores que ocupam legalmente suas terras e dali tiram o sustento, como se fossem usurpadores que efetivamente não são.
A omissão e autoridades que tentam se equilibrar no discurso politicamente correto e na reparação de injustiça -mesmo que à custa de outras injustiças- é o combustível que alimenta esse barril de pólvora de conseqüências mais do que previsíveis.
ACM, LEAL E O CHEQUE PRÉ-DATADO

Inicio da década de 90. A pretexto de inaugurar novas salas de aula numa escola da rede estadual, Antonio Carlos Magalhães, o todo poderoso governador da Bahia, fez um ato público na praça Adami, centro de Itabuna.
Era só pretexto mesmo. O que ACM fez foi desancar, com a verborragia habitual, seu ex-aliado Manuel Leal, dono do jornal A Região, que lhe fazia ferrenha oposição.
Embora fosse à época o jornal de maior circulação no Sul da Bahia, A Região era tratada, bem ao estilo ACM, sem pão nem água pelo Governo do Estado. Publicidade zero.
Mas o caudilho queria mais. Depois de atacar Leal, que assistia tudo da sede do jornal, bem ao lado da praça, ACM falou sem rodeios:
-Quem for meu aliado, meu amigo, não anuncia nesse jornal de merda…
Dias depois, apareceu na sede do jornal um empresário com veleidades de entrar na política, para pagar um anuncio de sua loja.
E, para não deixar dúvidas, preencheu o cheque com data anterior ao discurso-ordem de ACM.
Manuel Leal, que não era Manuel Leal por acaso, não descontou o cheque. Durante muito tempo exibiu-o, aos risos, aos amigos, como exemplo da “coragem” de alguns de nossos concidadãos.
O jornal, apesar das bravatas de ACM, sobreviveu. O velho capo não teve a mesma sorte.
É Natal! E daí?
Um menino chamado Jesus passou pelo centro da cidade, entre calçadas, lojas e gente, muita gente.
Olhou vitrines, sonhou com brinquedos que provavelmente nunca terá.
Disputou restos de comida com cachorros em latas de lixo espalhadas pelas esquinas.
Dormiu sob marquises de lojas recém-inauguradas, com o luxo refletindo em seu corpo coberto com pedaços de jornais que anunciam aumentos absurdos para deputados, desvios de recursos da saúde e da educação e obras públicas que só existem no papel.
Um menino chamado Jesus pediu esmolas nas sinaleiras, uma camisa
velha nas casas de família.
Não pediu, porque já não espera receber, gestos de carinho e atenção.
O menino Jesus se contenta com uma roupa velha, um prato de comida.
Mas, quem é que tem tempo para esse menino chamado Jesus quando o Natal se aproxima?
É tempo de fazer compras, ainda que comprometendo boa parte do salário no crediário.
De trocar de carro, escolher a roupa da moda, se programar para as inúmeras festas de reveillon.
De preparar a ceia de Natal, farta, alegre, muitas vezes esbanjadora.
Tempo dos amigos secretos, das festinhas de confraternização, de exibir aquele companheirismo de fachada de apenas um dia, quando a regra é o individualismo de todos os dias do ano.
Não há mesmo tempo para dar atenção a um menino, mesmo que ele se chame Jesus.
Que ele se chamasse João, Paulo, Pedro, José. Pouco importa.
É apenas mais um menino perambulando pelas ruas, sem passado, sem presente. Provavelmente sem futuro.
É Natal.
Entre tantos compromissos sociais, presentes, projetos que nunca se concretizam para o ano que está chegando, não há tempo nem para um outro Menino, hoje não necessariamente a razão, mas apenas o pretexto para essa festança.
Um menino igualmente chamado Jesus, menos Divino e mais Humano, que viveu e morreu em nome de valores como igualdade, solidariedade, simplicidade.
O Jesus Menino e o menino chamado Jesus estão separados por quase dois milênios.
Ignorar as lições de do Jesus Menino explica a existência do menino chamado Jesus e de tantos e tantos outros meninos e meninas que perambulam pelas ruas.
Meninos e meninas, de todas os nomes, para quem não apenas Papai Noel mas também o Natal é apenas uma abstração em meio à fome e ao abandono.
As luzes de Natal lançam apenas sombras sobre uma realidade fingimos não ver, cegos que estamos pelo egoísmo.
É Natal.
E daí?
VASSOURA NO SHOPPING JEQUITIBÁ

Aviso à minha meia dúzia de quatro ou cinco leitores: o livro “Vassoura” já está sendo vendido na banca de jornais e revistas do Shopping Jequitibá, em Itabuna.
O preço é módico: 15 reais o exemplar.
Aproveito também para agradecer às empresas que adquiriram exemplares do livro, que já está na 2ª. Edição, para oferecerem de brinde de final de ano a seus amigos e clientes: FM Construtora/Residencial Parque das Flores, Tinnes Empreendimentos/ Condomínio Eco América, Hospital de Olhos Beira Rio e Amazon Bahia/Ilhéus.
MICOS NATALINOS

Com o calendário do futebol brasileiro interrompido para as férias dos jogadores e a necessidade de se manter o espaço destinado ao mais popular dos esportes no Brasil, vive-se a fase das especulações sobre contratações, o que nos tempos de antanho se chamava ´encher lingüiça´.
Pois, na produção de lingüiça em que se transformou o noticiário esportivo, nota-se que o velho e bom futebol é cada dia mais negócio e menos futebol.
Para isso, é só observar os nomes que estão sendo cogitados pelos grandes clubes.
Praticamente todos os holofotes estão iluminando Ronaldinho Gaúcho e Adriano, ferrenhamente disputados por times como Flamengo, Palmeiras, Santos, Corinthians e Grêmio.
Ora, ora, torcida brasileira, o que é que Ronaldinho e Adriano podem acrescentar a esses times?
Tecnicamente, pouca coisa.
Ronaldinho Gaúcho é reserva no time meia boca do Milan da Itália e quando entra em campo faz uma ou outra firula e mais nada. Nem de longe lembra aquele gênio que encantou o mundo com a camisa do Barcelona.
Adriano, com seus problemas existenciais, é reserva do time mais meia boca ainda da Roma e só jogou (ou entrou em campo) para valer numa partida do Campeonato Italiano. O ex-Imperador virou um súdito obscuro.
Ronaldino Gaúcho e Adriano, riquíssimos ao cruzarem a faixa dos 30 anos, preferem as baladas ao futebol.
Mas, ainda assim são disputados por grandes clubes brasileiros.
Dá para entender? Dá.
Mesmo na condição de ´ex-jogadores em atividade´, são ídolos, atraem torcedores e patrocinadores, ou seja, fazem dinheiro.
É isso o que parece interessar. Daí a disputa por eles, pelo menos aqui no Brasil, já que na Europa o caminho natural é um time de terceira linha num país periférico.
Ou a grana farta da Ásia e do Oriente Médio, onde são mais penduricalhos valiosos do que jogadores de futebol.
No Brasil do marketing, prática consagrada pelo Corinthians ao repatriar Ronaldo (esse pelo menos tem lampejos do Fenômeno que um dia foi), Ronaldinho Gaúcho e Adriano ainda valem ouro e estão sendo vendidos como presente de Natal aos torcedores.
Depois, quando passar o Ano Novo e a bola começar a rolar, não venham botar a culpa em Papai Noel…
BARCELONA, BARCELONA
Quando a gente acha que o futebol perdeu a graça, que é só negócio mesmo, aparece um Barcelona para resgatar a paixão pelo jogo.
O Barcelona é a poesia, a magia e o encanto de um tempo em que o cachorro não comia a lingüiça em que estava amarrado, enquanto a gente se deliciava com o futebol de verdade.
Uma obra de arte pra ser admirada a cada jogo/espetáculo.
CORREDOR POLONÊS

Durante a inauguração da primeira fábrica de chocolate da agricultura familiar do Brasil, em Ibicaraí, o governador da Bahia, Jaques Wagner, pode sentir o quanto é doce o sabor do poder.
Na hora de conhecer a fábrica, enfrentou até um ´corredor polonês´ de populares querendo abraçá-lo.
Sic transit gloria mundi, mas que faz bem, faz.
Blog globalizado é isso, faz citações até em chinês.
Eu sei que é latim, companheiros, foi só uma blague…
PAIXÃO PELO VERDE

Há mais do que caranguejos, guaiamuns e árvores de mata nativa nessa luta de alguns ambientalistas (apoiados agora por um grupo de fazendeiros) para evitar a implantação do Complexo Intermodal, que compreende a Ferrovia Oeste-Leste e o Porto Sul.
O jogo é pesado, bruto e envolve cifras siderais.
Olho aberto, pois!
E ASSIM SE PASSARAM OITO ANOS…
Em 2002, Lula participou do carnaval antecipado de Itabuna, a convite de seu amigo e então prefeito Geraldo Simões.
Na época, Lula se preparava para disputar sua quarta eleição presidencial, após três derrotas seguidas.
Mas, ali em meio à descontração, conversei com Lula sobre charutos cubanos e cachaça, preferências que compartilhamos.
Lula, sempre atencioso, tirou várias fotos e esbanjou simpatia.
Em 2010, reencontro Lula em Ilhéus, na assinatura da ordem de serviço para a construção da ferrovia Oeste-Leste.
Agora é o presidente mais popular da história do Brasil, que se despede do cargo após dois mandatos, coberto de glórias e do justo reconhecimento.
Com a credencial do Governo da Bahia, fico tão próximo que é tentador pedir pra tirar uma foto, mesmo com os seguranças olhando atravessado.
Me aproximo, peço pra tirar a foto e lembro e ele do carnaval de 2002. Lula diz que também se lembra e para pra tirar a foto que eu tanto queria, com aquela simpatia de quem não deixou que o poder subisse à cabeça.
É coisa de fã mesmo, reconheço.
Aí estão as fotos, ambas para a posteridade.














