Grupo de pesquisadores liderados por Alexander Birbrair (ao centro, com garotinha no colo) — Foto: Arquivo pessoal/ Divulgação

Grupo de pesquisadores liderados por Alexander Birbrair (ao centro, com garotinha no colo) — Foto: Arquivo pessoal/ Divulgação

(do G1)- Pesquisadores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estão à frente de uma pesquisa que aposta na ativação de nervos sensoriais presentes no nosso organismo no tratamento do câncer de pele, o melanoma. Nervos sensoriais são aqueles responsáveis por conduzir estímulos de dor ao nosso cérebro. “Estes são os nervos responsáveis pela dor que a gente sente. Quando um paciente recebe quimioterapia, os medicamentos, que são muito fortes, destroem estes nervos e causam dor nos pacientes”, disse o pesquisador do Departamento de patologia da UFMG, Alexander Birbrair.

A pesquisa, que já é realizada há três anos e deve durar pelo menos outros três, conta com parceiros nas Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade do Estado de São Paulo e Universidade de Columbia, em Nova Iorque, nos Estados Unidos. Os estudos são financiados pelo Instituto Serrapilheira, e também têm apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (Fapemig).
De acordo com Alexander Birbrair, que fez sua graduação na Universidade Estadual de Santa Cruz-Uesc, a atuação dos nervos sensoriais foi verificada após implantação de células cancerígenas em camundongos transgênicos. Para facilitar a visualização dos pesquisadores, os nervos sensoriais foram demarcados com fluorescência vermelha.

 

Em seguida, os pesquisadores fizeram a remoção dos nervos sensoriais através de dois métodos, um por procedimento genético e outro com utilização de medicamentos. O resultado foi que o tumor cresceu mais. Isso significa, segundo Alexander, que os nervos sensoriais têm a capacidade de infiltrar nas células cancerígenas e afetar seu crescimento.

“Agora temos que descobrir como estimular esses nervos sensoriais. Já estamos trabalhando com estímulos elétricos ou de luz, para ativá-los para bloquear, reduzir ou até eliminar as células de câncer”, explicou.

Nervos sensoriais em vermelho atuando nas células cancerígenas — Foto: Reprodução

Nervos sensoriais em vermelho atuando nas células cancerígenas — Foto: Reprodução

As descobertas, ainda que iniciais, trazem contribuições importantes não para substituir tratamentos tradicionais, como a quimioterapia, mas para tornar o processo menos sofrido.  “As drogas que os pacientes recebem são dadas em dosagem altíssimas, muito agressivas. A ideia é baixar um pouco a dose da quimioterapia e combinar com outros alvos terapêuticos, que seria o caso se conseguirmos ativar os nervos e bloquear o tumor”, disse.
“As drogas que os pacientes recebem são dadas em dosagem altíssimas, muito agressivas. A ideia é baixar um pouco a dose da quimioterapia e combinar com outros alvos terapêuticos, que seria o caso se conseguirmos ativar os nervos e bloquear o tumor”, disse. Além de pesquisar como a ativação dos nervos pode influenciar no crescimento do melanoma, a intenção é analisar os efeitos em outros tipos de câncer, como de próstata e de mama.

Apesar de animadores, os resultados podem demorar para chegar aos pacientes, contou o pesquisador.
“Qualquer coisa que a gente tem para tratamento de câncer, os passos iniciais para a descoberta foram há uns 20 anos. Estes são os primeiros passos de algo que não estará em menos de cinco ou mais anos no mercado”.