:: ‘Velhas histórias’
Carlinhos Brown lança “A bota”, música com seu novo parceiro, Guilherme Menezes
Ernesto Marques
A canção “A bota”, lançada por Carlinhos Brown ontem à noite, se encaixa tão perfeitamente no infortúnio do afro-americado morto dias atrás por um policial branco. Pode ser interpretada como uma reação criativa inspirada no caso que incendiou os Estados Unidos e provocou reações no mundo inteiro. Mas só os últimos versos foram acrescentados por Brown, depois da morte de George Floyd, à composição do seu novo parceiro.
Além de inserir referências ao episódio de Minneapolis, como algumas das últimas palavras de Floyd, Brown compôs um arranjo que confere força suficiente para a música esquentar ainda mais o debate sobre racismo pelo caminho da arte. O clipe de lançamento mescla cenas do cantor no estúdio, imagens de escravos em senzalas brasileiras e cenas dos protestos recentes nas cidades norte-americanas, num ritmo sincopado que lembra rodas de capoeira.
De quebra, Carlinhos Brown devolve à música baiana, um compositor que, numa dessas encruzilhadas da vida, interrompeu a carreira artística para entrar na política. Guilherme Menezes era mais um cabeludo dos anos 1960, rebelde à sua maneira ensimesmada, quando resolveu deixar sua Iguai para tentar a sorte no eixo Rio-Sampa. Fez o mesmo caminho de outros baianos daquela época. Andando pelas ruas de São Paulo, observando o vai-e-vem frenético das pessoas no Centro, converteu em música o que bem poderia ser uma crônica de cotidiano sobre as múltiplas personagens que cruzam o conhecido Viaduto do Chá.
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