:: ‘Quando o Faz de Conta transforma-se em Era uma Vez’
Quando o Faz de Conta transforma-se em Era uma Vez
Eulina Lavigne
É muito provável que a maioria de nós, quando criança, tenha apreendido a brincar de faz de conta. Faz de conta que sou o meu pai, que sou a minha mãe, o médico, a babá, o amigo, a boneca, o boneco, e assim fomos experimentando os diversos papeis.
Outras vezes brincávamos de faz de conta que estava tudo bem para agradar aqueles que nos cuidaram e garantiam, com a sua forma de amar, a nossa sobrevivência.
E como a maioria apreendeu a maioria, também, tende a permanecer neste papel, esquecendo-se que cresceu e no conforto de que é muito melhor brincar de faz de conta do que encarar o que é real.
Eu faço de conta que gosto de você e lhe suporto por conta da posição que ocupa, seja lá em que lugar for. Faço de conta que concordo com você e, por traz, digo qual é o meu real pensamento. Digo que te amo para permanecer na minha zona de conforto e preservar tudo que me proporciona e até para evitar algo mais agressivo da sua parte como forma de me preservar.
Faço de conta que concordo com você para evitar as suas respostas agressivas que se enchem de defesas encobrindo onde realmente lhe dói. Faço de conta que lhe agrado com medo do que você possa fazer comigo.
Então, a brincadeira se prolonga fazendo de conta que eu te entendo, que eu te escuto, que eu te vejo, que eu te amo, que eu sou tudo aquilo que você acha que sou e não sou. Faz de conta que quero e não quero. Que eu te ouço e não escuto. Que falo e não reverbera em mim.
Brincamos de faz de conta que crescemos e que somos adultos maduros e, no fundo somos muito infantis. Somos crianças mimadas, descuidadas, apanhadas. Somos.
E logo o faz de conta vira era uma vez. Era uma vez um professor, um marido, um filho, um amigo, um amante, uma esposa. Era uma vez, uma vida confortável, um carro de luxo, um amor eterno e que se evaporou no tempo.
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