:: ‘Geysa Guimarães’

Geysa Guimarães

Vivemos a era dos adultescentes, seres crescidos no RG, mas emocionalmente agarrados à fralda mental. De um lado, temos adultos endividados por jogos de aposta online que prometem o luxo de Dubai com o saldo de R$ 10,00 na conta. Do outro, adultos cuidando de bebês reborns como se fossem reais, mas não conseguem sustentar um gato de verdade. E, no meio do caos, discussões políticas nas redes sociais dignas de briga no parquinho: “meu candidato é melhor que o seu!” seguido de blocos, surtos e stories-passivo-agressivos.

A infantilização virou um fenômeno social sério, ainda que pareça meme. Comportamentos que antes eram tolerados na adolescência agora são exibidos com orgulho por pessoas que já pagam boleto, mas se recusam a pagar um(a) psiquiatra. Eles querem a liberdade de um adulto, mas a responsabilidade de um Tamagotchi.

E quando achamos que já vimos de tudo, vem o linchamento virtual da Virgínia na CPI das apostas como um roteiro repetido: a influenciadora é convocada, e de repente todo mundo que nunca leu um projeto de lei se sente apto a julgá-la, mesmo sendo os mesmos que apostam escondidos, promovem o jogo entre amigos ou fecham publis sem declarar imposto. A hipocrisia não apenas respira: ela produz conteúdo e ainda viraliza.

E enquanto o país tenta andar, parte dessa geração prefere ficar sentada no sofá, cuidando de um boneco de silicone, apostando o salário em bets e discutindo política como quem debate casal do reality. Tudo com filtro, ring light e o famoso “textão de indignação” no Instagram.

A internet cobra postura de adulto, mas recompensa atitudes de criança.

E no final, o jogo mais perigoso não está nas apostas online, mas no vício de performar virtude, sem praticar coerência.