:: ‘Dra. Lina Dantas’
Você sabia que o Cacau possui canabinóides miméticos?
,
,
,
O Chocolate, advém da palavra asteca xocolatl, sendo xococ (amargo) + atl (água). Data-se que este fruto de uma delgada polpa branca com sementes marrons e amargas, começou a ser cultivado e valorizado como uma bebida sagrada pelos maias entre 250 d.C. e 900 d.C. Em 1753 o cientista sueco Carl Linnaeus nomeou o fruto de Theobroma cacao, que significa “alimento dos deuses”, conforme a ancestral cultura maia o considerava.
O Brasil, que já foi o maior exportador mundial de Cacau no início do século XX, após crises, pragas e aumento da concorrência, está em sétimo lugar no ranking internacional de produção e exportação dessa commodity. Contudo, isso pode mudar muito em breve. Resultante da crise do cacau na África, o custo do cacau subiu para mais de 10.000 dólares por tonelada, essa semana, oferecendo ao Brasil, Equador, Peru e Indonésia a oportunidade do “boom do cacau”.
O Para e a Bahia se destacam na produção e exportação do cacau nacional, considerando que a Bahia, em especial o litoral Sul, entre Ilhéus e Canavieiras liderou a produção nacional do Cacau por quase um século (1890-1989), ficando em segundo lugar após a praga da vassoura de bruxa do final dos anos 80. O habitat natural do cacaueiro é o de uma floresta tropical perene, com temperaturas 32 °C e 18°C e umidade relativa mínima de 70%, sendo a cabruca ou a agrofloresta tradicional a melhor forma de cultivo orgânico.
O cacau contém 40-50% de gordura, como manteiga de cacau, com aproximadamente 33% de ácido oleico, 25% de ácido palmítico e 33% de ácido esteárico e polifenóis entre eles as catequinas (37%), antocianidinas (4%) e proantocianidinas (58%). Os polifenóis contidos no grão, provocam o sabor amargo, e torna o cacau uma das fontes dietéticas, mais ricas em antioxidantes. Rico em minerais como o potássio, fósforo, cobre, ferro, zinco e magnésio, o cacau também dispõe de teobromina, cafeína e proteínas.
Alguns autores demonstraram que as procianidinas do licor de cacau reduziram significativamente a incidência e a multiplicidade de carcinomas pulmonares e diminuíram os adenomas da tireoide desenvolvidos em ratos machos, e inibiram a tumorigênese mamária e pancreática em ratas, reduzindo também a atividade do fator de crescimento endotelial vascular e consequentemente a atividade angiogênica associada ao tumor.
Explorando os vínculos históricos entre a cannabis e o câncer: Caso da Princesa de Ukok
Lina Dantas
A Cannabis e o Câncer, coexistem na humanidade há milênios. O primeiro marco histórico da sinergia entre ambos os temas, sem dúvidas é a “Donzela do Gelo” ou Princesa de Ukok. A múmia de uma mulher, provável sacerdotisa do povo nômade Pazyryk no século V a.C., foi encontrada em uma tumba com outros artefatos, em 1993 na Rússia. Em 2014, uma pesquisa sugeriu que um câncer de mama, e ferimentos por queda, foram os responsáveis pelo óbito da jovem, aos seus vinte e poucos anos de idade. Entre os artefatos encontrados na tumba, havia um recipiente de cannabis próximo ao corpo. Será que a Cannabis estava sendo utilizada como tratamento deste câncer, ou para alívio dos sintomas? Possivelmente sim.
O processo de formação do câncer é chamado de carcinogênese ou oncogênese e, em geral, acontece lentamente, podendo levar vários anos para que uma célula cancerosa prolifere-se e dê origem a um tumor visível, podendo também ser rapidamente invasivo e destrutivo a depender da malignidade. Os efeitos cumulativos de diferentes agentes cancerígenos ou carcinógenos são os responsáveis pelo início, promoção, progressão e inibição do tumor.
O câncer surge a partir de uma mutação genética, ou seja, de uma alteração no DNA da célula, que passa a receber instruções erradas para as suas atividades. As alterações podem ocorrer em genes especiais, denominados protooncogenes, que a princípio são inativos em células normais. Quando ativados, os protooncogenes tornam-se oncogenes, responsáveis por transformar as células normais em células cancerosas.
No Brasil são esperados 704 mil casos novos de câncer para cada ano de 2024 e 2025, sendo 70% dos casos concentrados nas regiões Sul e Sudeste. O tumor maligno mais incidente no Brasil é o de pele não melanoma (31,3% do total de casos), seguido pelos de mama feminina (10,5%), próstata (10,2%), cólon e reto (6,5%), pulmão (4,6%) e estômago (3,1%).
Medicina Integrativa não despreza diagnóstico
Lina Dantas
A nomenclatura “Medicina Integrativa”, trazida primeiramente pelo Dr. Andrew Weil nos Estados Unidos em 1990, compactua com o conceito de integrar as práticas complementares, terapias alternativas e outras medicinas ancestrais e populares, com a alopatia. Não se trata de uma especialidade médica. Diferentemente do conceito da medicina alternativa surgido na contra-cultura, a medicina integrativa não descarta ou subjuga o diagnóstico, metodologias e tratamentos da medicina ocidental. A Integratividade provoca a inclusão das diferenças, dos vários aspectos do indivíduo humano, bem como uma reformulação na forma como o ser humano é acolhido e tratado em suas enfermidades. Na corrente ativista da medicina integrativa há uma reivindicação de estudos científicos para embasar e respaldar as práticas complementares e tecnologias ancestrais.
A luta do Dr. Weil trouxe resultados, e desde 1991, os Estados Unidos contam com o Centro Nacional de Saúde Complementar e Integrativa (NCCIH). Uma agência governamental que explora a medicina complementar e alternativa (CAM) e promove investimentos para desenvolvimento de pesquisas norte-americanas nessa área. Através de investigação científica rigorosa, a NCCIH visa definir a utilidade e segurança das intervenções complementares e integrativas, seu papel na melhoria da saúde e da assistência em saúde.
A medicina integrativa se ancora na consciência da co-responsabilidade do enfermo em se curar. Uma inovação na conservadora postura hierárquica do médico. Há uma parceria do médico e seu paciente para a manutenção da saúde, onde a empatia, a paciência e a humanização no atendimento são essenciais. O paciente deixa de receber passivamente o tratamento para uma doença e passa a participar ativamente no processo, como ator principal de sua própria saúde. Para tanto, alguns profissionais defendem o termo ‘’interagente’’ ao invés de paciente ou cliente, a fim de ancorar a ressignificação dessa passividade, sem pendular para a mercantilização. Afinal, a saúde não é um produto, e sim um direito de todos, e um dever do Estado.
- 1