:: ‘Copa do Mundo 2022’
A ilusão argentina
André Maynart Cunha Alves
Terça, 22 de novembro de 2022. Minha aula iria começar mais tarde, às 9:30h, por causa do jogo da Argentina. Conheço poucos que não estavam apostando em um passeio total da seleção invicta há 35 jogos, atual campeã da Finalíssima e da Copa América. Eu mesmo apostei num 4×0 para a Albiceleste.
Quando eu acordei, a Arábia Saudita havia acabado de virar. 2×1.
No caminho à escola, já com a zebra histórica decretada, silêncio total. O porteiro do colégio estava parado ao lado da entrada principal, olhando para o nada e para o céu.
Dá para saber que a Argentina perdeu só pelo volume das vozes dos seus nacionais – eles falam baixo, quase timidamente, resmungando quando perguntados sobre a derrota.
– Se a gente não conseguir ganhar, quero que pelo menos uma seleção sul-americana ganhe. Até vocês e seu jogo bonito (eles pronunciam como zoogo bunitú).
Minha sala era uma das mais barulhentas e caóticas da escola. Naquela manhã, recebemos elogios pelo bom comportamento. Fui recebido com vários “cerrá el orto” – um jeito particularmente grosseiro de dizer “cale a boca” – toda vez que eu mencionava futebol. Ou que abria a boca, no geral.
26 de novembro de 2022. Era um sábado, mas um daqueles sábados com sabor a dia de semana. Se falou de um compromisso, mais importante que qualquer descanso de fim de semana, de terça a sexta. A possibilidade de a seleção morrer na fase de grupos perdendo contra México (!) e Arábia Saudita (!!!) já era tratada como uma tragédia.
Meu medo era de o país cair na anarquia se a Argentina perdesse. Ou que ocorressem suicídios em massa, a là Jonestown. Eles são capazes.
Estava vendo o jogo, meio descompromissado – porque estavam quebrando a bola. Era uma daquelas partidas que os dois times têm tanto a perder que ninguém acerta nada.
Até Messi achar uma bola muito pouco pretensiosa e acertar um chute de longe.
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