mãe terraEulina Lavigne

 

eulina lavigneFui apresentada a argila em 1994 pelas mãos do nosso querido médico naturalista Aureo Augusto. Desde então ela é a minha Grande Mãe curadora de todos os males que o meu corpo expressa. Desde fratura, torção no pé, a conjuntivite, tendinite, alergias, picadas de aranhas e tudo o que possa aprender com os meus sintomas.

Ouço e leio que a argila não cura todos os males e a minha experiência com a argila, ao longo desses 24 anos, é que ela nunca deixou de corresponder aos meus desejos com relação a cura do meu corpo.

Com ela eu aprendi a cuidar de mim, a escutar os seus ensinamentos e desenvolver a confiança.  E essa relação me convida a resgatar a fábula-mito do cuidado que reproduzo em sua versão brasileira, apresentada por Leonardo Boff em seu livro Saber Cuidar – Ética do humano – compaixão pela terra.

“Certo dia, ao atravessar um rio, Cuidado viu um pedação de barro. Logo teve uma ideia inspirada. Tomou um pouco do barro e começou a dar-lhe forma. Enquanto contemplava o que havia feito apareceu Júpiter”.

Cuidado pediu-lhe que soprasse espírito nele. O que Júpiter fez de bom grado.

Quando, porém, Cuidado quis dar um nome à criatura que havia moldado, Júpiter o proibiu. Exigiu que fosse imposto o seu nome.

Enquanto Júpiter e o Cuidado discutiam, surgiu, de repente, a Terra. Quis também ela conferir o seu nome à criatura, pois fora feito de barro, material do corpo da Terra. Originou-se então uma discussão generalizada.

De comum acordo pediram a Saturno que funcionasse como árbitro. Este tomou a seguinte decisão que pareceu justa:

Você, Júpiter, deu-lhe o espírito, receberá, pois, de volta este espírito por ocasião da morte dessa criatura.”

“Você Terra, deu-lhe corpo; receberá, portanto, também de volta o seu corpo quando essa criatura morrer.”

“Mas, você Cuidado, foi quem, por primeiro, moldou a criatura, ficará sob seus cuidados enquanto ela viver”.

“E uma vez que entre vocês há acalorada discussão acerca do nome, decido eu:

esta criatura será chamada Homem, isto é, feita de húmus, que significa terra fértil”.

Leonardo Boff nos relembra que ser Terra significa que temos elementos Terra no corpo, no sangue, no coração, na mente e no espírito. E o fato é que nos desconectamos dela e, somos UM com ela e filhos desta Mãe generosa, amorosa, acolhedora que ampara e cura.

Na minha experiência de cura com a argila, penso que é preciso trabalharmos três aspectos: o primeiro é o RESPEITO. Precisamos honrar a terra, pois dela viemos e para ela voltaremos. Honrar a Grande Mãe é reconhecer tudo o que ela nos oferece. A sua força, a sua vibração e sustentação. Ela nos ampara. Por isto toda vez que mexe com a terra eu faço uma oração.

O segundo aspecto é a CONFIANÇA. Confiança diz respeito a entrega. Aprender a se entregar aos cuidados da terra, pois saberá o que fazer com as nossas feridas.

O terceiro aspecto é a PACIÊNCIA. Saber esperar o tempo dela. Ela vai escutar a sua dor, compreender a frequência da sua doença e trabalhar para dissolve-la.

O tempo da cura é o tempo necessário para aprendermos com o significado da dor que estamos passando naquele momento e desejamos sanar. Olhar para a dor é muito diferente de tomar um simples remédio para que ela passe. Assim nos perdemos de nós.

E a nossa Grande Mãe nos convida, amorosamente a olhar e nos relembra que com ela somos todos curadores das nossas dores. Apenas nos esquecemos disso.

A terra me ensinou algo que já sabia e há muito havia esquecido. Me ensinou que quem sabe de mim, sou eu. Quem conhece a mim, mais do que o outro, sou eu. E sou eu que preciso lembrar quem sou para com tranquilidade voltar aos braços da Mãe e dormir um sono tranquilo e com paz.