WebtivaHOSTING // webtiva.com . Webdesign da Bahia
hanna thame fisioterapia animal

prefeitura itabuna sesab bahia shopping jequitiba livros do thame




Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

dezembro 2016
D S T Q Q S S
 123
45678910
11121314151617
18192021222324
25262728293031


OS REVOLUCIONÁRIOS DO PRAZER

Antes de Revolução liderada por Fidel Castro, Cuba era o bordel dos Estados Unidos. A afirmação não contém qualquer exagero e é confirmada pelos próprios cubanos. A jogatina e a prostituição faziam as delícias dos norte-americanos, numa ilha perto da casa deles. Cassinos e prostíbulos eram controlados pela máfia, numa espécie de território livre.

Tempos depôs, Fidel se orgulharia de ter acabado com a prostituição no país, alardeando o fato como uma das conquistas da revolução socialista. Com a abertura para o turismo, Fidel só não vê o ressurgimento da prostituição de larga escala em Cuba se ficar trancafiado em alguém bunker. E ainda assim com os olhos vendados.

Tem-se a impressão de que a prostituição não é apenas tolerada, mas incentivada. Afinal, os dólares gerados pelo mercado do sexo permanecem no país. A atividade é acintosa. A nossa permanência em Cuba coincidiu com a realização do Congresso Mundial de Pedagogia, que reuniu cerca de 5 mil educadores de 40 países.

Houve um determinado momento em que, num dos mais luxuosos hotéis de Havana, só era possível distinguir hóspedes de prostitutas e prostitutos pelas roupas e pelos modos (os cubanos usam roupas modestas e não conseguem esconder o constrangimento ao serem usados como objeto).

O tal congresso deve ter afetado os preços. Uma jinetera, como elas chamam as prostitutas, cobrava entre 30 e 50 dólares por uma noite de sexo. Em condições normais, o preço não ultrapassa 20 dólares, com direito à negociação. As histórias são sempre as mesmas: “a situação está difícil”, “preciso de dinheiro pra sustentar a família”, “não tenho outra opção” e outras frases feitas do gênero. A garota M., uma loirinha de 22 anos, divorciada, mãe de um menino, começou a noite cobrando 50 dólares. Lá pelas três da madrugada, recusada por um brasileiro e por um venezuelano, o preço já estava em 20 dólares.

S. de 21 anos, e R. de 20, ambas enfermeiras, faziam ponto num hotel afastado de Havana, que serviu de hospedagem aos atletas que disputaram os Jogos Panamericanos em 1991. O preço da noite: 30 dólares, fora as bebidas. Acrescente-se ao programa pelo menos 10 dólares, que é a propina cobrada pelos porteiros dos hotéis, chamados de custódios, zelosos amigos que se incumbem de ir buscar a jinetera no quarto, antes que o dia amanheça. Aliás, os porteiros e recepcionistas dos hotéis ficam cegos, surdos e mudos diante de uma notinha de 10 dólares (notinha para nosotros, obviamente).

Jineteras e jineteros não são propriamente profissionais do sexo. Se envolvem a ponto de levarem o parceiro ou a parceira para conhecer a família e, não raro, deixam de cobrar a partir do segundo encontro, contentando-se com perfumes, batons, cigarros ou roupas. A professora K, de 23 anos e aparência de 30, se contentava com uma camisa ou, quem sabe, 5 dólares para comprar alimentos para os dois filhos pequenos.

Sintoma da escassez de comida, a primeira coisa que as jineteras costumam pedir é um lanche, que devoram com felicidade de quem come um prato de caviar. Transar depois de uma cena dessas é para quem tem a sensibilidade de uma pedra.

Ao contrário do Brasil, a prostituição masculina é às claras. Eles fazem a abordagem e se a mulher entra na conversa, está fisgada. Respeitáveis senhoras de meia idade fazem a festa. Uma professora colombiana, simpática nos seus presumíveis 60 anos e dona de respeitável situação financeira, pelas jóias que ostentava, era vista durante o café da manhã do restaurante de um hotel, cada dia com um jinetero diferente. Tinha o semblante feliz de quem passara uma noite esplendorosa.

Congresso de Pedagogia? Só se for de Sexologia. O comentário, evidentemente, partiu de um brasileiro. Puro despeito.

Os jineteros se definem como guias turísticos. Eufemismo desnecessário. L., de 29 anos, prefere contar vantagem: “tem uma italiana, rica, casada, que vêm aqui uma vez por ano, só pra transar comigo. Me dá mil dólares. Também tenho uma amiga espanhola e outra alemã. Vivo disso e acho normal”. Mil dólares pode ser um exagero, mas as “amigas” não, a julgar pela quantidade de “guias turísticos” que se colocam à disposição das estrangeiras. “Eles são tão doces, carinhosos”, confidenciou uma professora brasileira, que revezou suas atenções com dois cubanos, um loiro, outro mulato. O loirinho, mais sortudo, teve direito a festa de despedida.

Nos dois últimos dias do Congresso de Pedagogia, a coisa ficou mais discreta, embora o vai-e-vem (nos dois sentidos) nos hotéis continuasse intenso. Transformar-se num paraíso de turismo sexual é tudo o que Cuba não quer, porque isso afasta os turistas mais endinheirados e atrai apenas os operários de países onde o padrão de vida é mais elevado, fenômeno que ocorre em algumas capitais nordestinas no Brasil como Recife e Fortaleza.

“A prostituição é o preço mais desgraçado que se paga por abrir Cuba aos turistas e conseguir dólares tão necessários para manter a Revolução”. A frase é do médico Zenóbio Gonzáles, diretor do Hospital Hermanos Ameijeiras, o principal de Cuba.

Suprema ironia: jineteras e jineteros, com suas armas pouco convencionais, ajudam a salvar o socialismo.

Revolucionários, porque não?

_____________

PS- À frase do dr. Zenóbio, seguiu-se um choro mal disfarçado. É fácil mostrar o esfacelamento de um país. Difícil é compreender a alma de um povo que luta não apenas pela sobrevivência, mas para manter a cabeça erguida. Por respeito a essa alma indevassável, omitimos os nomes dos jineteros e jineteras aqui citados, embora as pessoas e situações sejam reais.

1 resposta para “OS REVOLUCIONÁRIOS DO PRAZER”

  • Gustavo says:

    Caro Daniel, entendo Cuba e todos os regimes comunistas ao redor do mundo como grandes farsas, os maiores fracassos da humanidade. Fizeram “revoluções” à base do massacre dos seus povos e o resultado foi o maior derramamento de sangue da história. O Stalin, por exemplo, faz o crápula do Hitler parecer um boneco quando se compara quanto cada regime matou. Cuba não fica de fora, Che instituiu lá o paredão, e comandou pessoalmente o assassado de milhares de civis. Revolução mesmo, somente a dos jovens franceses em 68.

    O texto, “Ela é uma mulher guerreira”, não sem porque, lembra a fracassada campanha da esposa do Geraldo Simões, que por sua vez me lembra a fracassada campanha, a quatro anos atrás do João Leão em Lauro de Freitas (cidade onde eu morava) quando quis ele eleger seu filho o prefeito da cidade. Nesta campanha eu trabalhei pelo PT, quando ainda acreditava em partidos.

    Cordialmente,

Deixe seu comentário





WebtivaHOSTING // webtiva.com.br . Webdesign da Bahia