Tite promete e entrega
Daniel Thame
A inesquecível surra de 7×1 que a Alemanha aplicou no Brasil deveria ser um divisor de águas no futebol brasileiro, célebre por produzir gênios da bola da estatura de um Pelé e um Garrincha, um Gerson, um Zico e dirigentes medíocres/aproveitadores como João Havelange, Ricardo Teixeira, José Maria Marin e Marco Polo Del Nero.
Não foi. Acabada a para sempre vergonhosa (para a Seleção Brasileira, bem entendido) Copa do Mundo, saiu Felipão e quando todos esperavam um técnico capaz de tirar a amarelinha do fundo do poço, a CBF ressuscitou Dunga, que em dois anos mostrou que o fundo do poço era ainda mais fundo, com uma eliminação precoce da Copa América Centenário para o insignificante Peru e um começo de Eliminatórias para a Copa da Rússia aterrorizante, tornando real a possibilidade de que, pela primeira vez em sua história, o Brasil não se classificasse,
Nesse dois anos de Dunga, havia um clamor nacional por Tite, que fez do limitado Corinthians, campeão do Brasil, da Libertadores e do Mundo. Uma rara unaminidade nesses tempos sombrios em que tudo no Brasil parece um acirrado Fla-Flu.
E eis que, mais por pressão da mídia e da torcida do que por vontade de Marco Polo Del Nero, Tite foi chamado para evitar o naufrágio.
Bastaram dois jogos para ele dissesse a que veio.
Um 3×0 mais do que convincente sobre o bom time do Equador na altitude de Quito e um 2×1 sobre a forte Colômbia garantiram seis preciosos pontos, que deixam a Seleção numa situação confortável na tabela.
Mais do que os seis pontos em dois jogos, Tite está conseguindo, em pouco tempo, resgatar a confiança da torcida e a autoestima de uma seleção que nem a Venezuela andava respeitando mais.
Tite demonstrou acertos em suas apostas, principalmente a volta de Marcelo à ala esquerda, a efetivação de Casemiro no meio de campo e a aposta no jovem Gabriel Jesus no ataque.
Além disso, está conseguindo fazer Neymar usar seu gigantesco talento em favor do time e não apenas em jogadas de inflar o ego e poses para as câmeras. Neymar continua estrelíssima, ainda é dado a chiliques dentro e fora de campo, mas foi decisivo na conquista do Ouro Olímpico e nos dois jogos das Eliminatórias.
Então está tudo perfeito?
Claro que não está, porque Tite é competente, mas não e milagreiro e a evolução se dará com o tempo.
Haverá tropeços pelo caminho e eles são inevitáveis. Acontecem com todas as grandes seleções.
O time ainda oscila de rendimento ao longo do jogo, as bolas altas na área provocam calafrios no torcedor, o meio de campo é mais marcador do que articulador e mesmo com a ascensão de Gabriel Jesus o ataque ainda depende do talento de Neymar.
Coisas que só se resolvem com a sequência de jogos até o final das Eliminatórias, já que a classificação virá com certa tranquilidade, o que aliás é obrigação.
O importante é que, com Tite, enfim temos um time confiável, em que os jogadores olham para o banco e enxergam um treinador que conhece futebol, que sabe fazer uma variação tática e/ou uma substituição que mude a cara da equipe.
Já uma alguma coisa, aliás, já é muita coisa.
Sem ufanismos, mas sem viralatismo, o Brasil vai reencontrando seu caminho.
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É pênalti- Com esse futebolzinho meia boca, o ex-glorioso São Paulo caminha firme para a 2ª. Divisão. Sem Ganso, o tricolor virou um pato amarelão.