O MNU – Movimento Negro Unificado, Seção-Ilhéus,  manifestou “profunda indignação” com o episódio ocorrido no Porto de Ilhéus no dia 23 de março. Os africanos, ganeses, Samuel Ackom Kobena e Kwetku Attah, foram acusados de viajar clandestinamente no navio Celine C, do Reino Unido, que saiu da Costa do Marfim para abastecer indústrias moageiras de cacau. As cenas de maus-tratos e “tortura” sofridas pelos ganeses foram filmadas por um trabalhador do Porto do Malhado.

De acordo com  Edson Vieira, coordenador do MNU em Ilhéus, “tal fato, não pode ser caracterizado como uma simples  imigração ilegal, há implicações históricas e sociais profundas que permitem entender a complexidade dos deslocamentos de indivíduos e/ou grupos na contemporaneidade”. Para ele, “conjunturas políticas e econômicas tem marcado os processos de imigração, e a globalização, tem exercido um forte papel nesse processo. Ao contrário do que se apregoa no senso comum, os fatores de expulsão dos países pobres é mais forte do que o fator de atração das sociedades pós industriais, esta posição, tem sido bastante elucidada pelos estudos afro-diaspóricos. Viajar clandestinamente em navios com destino ao Brasil tem sido uma constante nas últimas décadas, mas, o maior contingente de africanos tem entrado no Brasil legalmente e por meio de intercâmbios acadêmicos”.

“A juventude negra brasileira tem vivenciado esta situação de maus-tratos e violência cotidianamente, os indicadores apontam um “genocídio” de negros nas favelas e periferias. As visões estereotipadas e racistas sobre os africanos e afro-descendentes são os principais fatores para este quadro de violência.Tortura não resolve o problema dos embarques clandestinos, a questão é política e, tal postura merece ser apurada por meio de investigações pela polícia federal”, destaca o coordenador do MNU.