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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 29/maio/2011 . 8:05

Deram um pincel ao menino. E nasceu o gênio-menino Waldomiro de Deus

Fazia um frio intenso nas madrugadas paulistanas e Waldomiro de Deus era mais um migrante nordestino naquela metrópole imensa, que prometia o Eldorado,  mas que na maioria das vezes só entregava trabalho duro e uma sobrevivência sofrida na sua periferia distante e abandonada. O frio ainda era pior para quem passava essas noites quase ao relento no Viaduto de Chá, no então  centro financeiro da capital, hoje deslocado para a avenida Paulista e seus arranha céus suntuosos.

         Waldomiro de Deus era sério candidato a ser apenas mais um entre  milhões de nordestinos que só conseguem fazer o caminho de ida. No caso dele, o caminho de ida foi um pau de arara, que partiu da pequena Itagibá, no Sul da Bahia, sacolejou por alguns milhares de quilômetros, até chegar a São Paulo, onde passou fome e, muito, muito frio, para quem estava acostumado ao calor (humano, inclusive) dos baianos.

         Até que, um pincel e pedaços de papel catados no chão, começam a pintar um novo destino, ou a reinventar o destino daquele retirante…

         O relógio do tempo avança meio século. Estamos no Espaço de Artes da  Bolsa de Valores de São Paulo, templo e termômetro da economia brasileira. A nata da elite e do empresariado paulista está ali reunida, para festejar os 50 anos de arte daquele que é considerado um dos maiores pintores primitivistas do Brasil, em 22 obras que se espalham pelo espaço amplo, iluminado. Obras que retratam uma trajetória vitoriosa, de um estilo único, com uso de cores alegres, traços leves e  temática popular.  O nome desse artista é Waldomiro de Deus.

OS PINCÉIS DE DEUS

        O relógio do tempo volta ao Viaduto do Chá. Waldomiro havia conseguido um emprego de jardineiro, mas já estava fascinado por aquele mundo mágico que suas mãos faziam brotar do papel. “Eu pintava na hora em que deveria estar dormindo e dormia quando deveria estar cuidando do jardim”, lembra. De novo na rua, resolveu expor seus desenhos na calçada do viaduto. No melhor estilo naif (ingênuo em francês), apareceu um marquês  italiano,  chamado Terry Della Stuffa, que feito um anjo lhe deu  casa,  comida e, melhor, tempo de sobra e material de sobra para pintar.

         Pelas graças do marquês e pelas suas mãos e pelo seu talento, Waldomiro de Deus ganhou o mundo. E se tornou cidadão do mundo. Na década de 70 do século passado, foi para a Europa e morou na França, Itália e  Alemanha. Também viveu num kibtuz em Israel. Por lá e por outros países, espalhou seus quadros e firmou-se como um dos grandes artistas brasileiros. Quando voltou ao Brasil, foi morar em Osasco, cidade da Grande São Paulo, onde sua casa, repleta de quadros e esculturas e com um quarto cheio de bonecas e com um caixão de defunto no lugar da cama, era ponto de encontro de para artistas, colecionadores, empresários, jornalistas, socialites e afins.

         A casa, localizada na periferia de Osasco, viu nascer inúmeros artistas, que tiverem em Waldomiro um grande incentivador. Hoje, ele divide seu tempo entre o bairro de Pinheiros, em São Paulo, e Goiânia.

MENINO GRAPIUNA

O lírismo de suas primeiras décadas de pintura deu lugar a uma arte mais contestadora, com viés de protesto. Temas como desemprego, violência, guerras e exclusão social passaram a compor obras de traços definidos, cores fortes. Pinturas que falam. “Waldomiro tem uma sensibilidade muito grande, vê o mundo com a alma e sua obra é sempre atual. É um artista em vários, um camaleão, que está sempre mudando, sem perder a essência primitivista”, destaca o crítico Oscar D´Ambrósio, autor do livro `Os pincéis de Deus- Vida e obra do pintor naif Waldomiro de Deus`.

No final deste ano, Waldomiro realiza uma exposição na China, um novo mercado que se abre para um artista que resiste ao tempo, porque sua arte não é datada nem estanque. Feito um mutante, ele se renova e se cria, sem deixar de ser o menino grapiuna que nunca deixou de habitar sua alma.

Menino grapiuna?

Pois esse gênio da pintura brasileira ainda está por merecer o devido reconhecimento na terra em que nasceu e que serviu de fonte de inspiração para grande parte de suas obras. “Eu sonho em fazer uma exposição em Itabuna, Ilhéus, em mostrar meu trabalho em Itagibá, porque minhas raízes estão no Sul da Bahia”, afirma Waldomiro, no corre-corre entre produzir novas obras e participar de homenagens pelos seus 50 anos Brasil afora.

E a Bahia fora!

Não estaria na hora do santo de casa fazer milagres? No caso, um milagre em forma da mais legítima arte brasileira. A arte desse menino-gênio baiano chamado Waldomiro de Deus.

PALAVRAS DE WALDOMIRO

 A minha arte não é só para decorar, mas para trazer alguma mensagem. Às vezes traz um alerta, como a violência que acontece no Brasil. Hoje eu vejo que as pessoas não deram crédito às mensagens do meu trabalho e não se preocuparam em trazer educação, cultura e lazer para esse povo.

Eu me sentia muito triste quando ia a uma faculdade e via ali umas poucas pessoas privilegiadas, enquanto uma enorme quantidade de gente neste país não tinha acesso à educação, ao estudo. O que plantamos, colhemos. Se esse nosso povo, tão bonito, tão criativo, tão gentil, tivesse educação desde a infância, seríamos a nação mais realizada do mundo.

Em  todas as áreas. Não vivenciaríamos uma violência tão grande, Essa violência nasce do ressentimento contra a desigualdade, a injustiça e a falta de oportunidades. Esse povo não merece isso”.

 





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