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Daniel Thame, jornalista no Sul da Bahia, com experiência em radio, tevê, jornal, assessoria de imprensa e marketing político danielthame@gmail.com

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:: 29/jun/2008 . 10:25

Dona Senhora

Diariamente, milhares de pessoas passam por uma praça chamada Laura Conceição e nem se dão conta de que a praça tem esse nome. E, menos ainda, se dão conta de quem foi Laura Conceição.
Ainda que Laura Conceição fosse mais conhecida como Dona Senhora, nem assim a imensa maioria dos itabunenses há de se lembrar dela.
Pois, Laura da Conceição, ou melhor, Dona Senhora, é dona de uma biografia que deve ser resgatada. Não pode ser apenas um lapso na memória de uma cidade que não tem o hábito de preservar sua história.
Dona Senhora, mais do que uma personagem fascinante, é um exemplo que vem a calhar nestes tempos atuais, em que entre a ação e a lamentação, boa parte das pessoas prefere ficar com o choro, o ranger de dentes, o ressentimento.
Na distante década de 40 do século passado, Dona Senhora, que chegara a Itabuna quando o município, recém emancipado de Ilhéus, ainda engatinhava, trabalhou como bordadeira e logo se tornou uma pessoa bastante querida na sociedade; presenciou o desabamento da Igreja Matriz de São José, o Santo Padroeiro, então localizada na Praça Olinto Leoni.
Uma tragédia, num tempo em que o catolicismo era religião predominante e a igreja um ponto de convergência.
O que fez Dona Senhora, católica fervorosa?
Em vez de ficar se lamentando e/ou esperando uma providência divina, ela resolveu agir. E como agiu!
Aquela mulher de aparência frágil dedicou-se à missão de construir uma nova Matriz. E fez disso, durante muito tempo, sua razão de viver.
Dona Senhora, mulher de fibra, mobilizou a cidade em torno desse objetivo. Para conseguir os recursos necessários, recebia desde sacos de cacau oferecidos pelos fazendeiros e doações de comerciantes (muitas delas obtidas após insistentes plantões na porta das lojas) a quantias irrisórias doadas por humildes operários e trabalhadores rurais.
A luta de Dona Senhora foi o tijolo e o cimento que levantaram a Igreja Matriz. Mas uma igreja não é feita apenas de tijolo e de cimento.
É feita daquela algo mais, do transcendental, daquilo que podemos definir como fé.
Dona Senhora tinha uma fé inabalável, não apenas em Deus, mas de que era possível unir esforços em torno de um projeto coletivo. A Igreja Matriz, hoje transformada em Catedral de São José, é um exemplo vivo dessa espécie de “fé de resultados”, de que líderes são necessários, mas ninguém se faz sozinho.
O exemplo de Dona Senhora é uma condenação ao individualismo, que tantos males tem nos causado nas últimas décadas, fruto de um lugar comum equivocado que se tornou uma quase-regra: o de que cada um se basta e ninguém precisa de ninguém.
Precisa sim. E aí está Dona Senhora para mostrar às novas gerações que o sonho de um, só se torna realidade se for o sonho de todos. E se houver o trabalho de todos.
Em tempo: Laura Conceição, a Dona Senhora, dá nome à praça em frente à Catedral de São José.
Talvez mais importante do que saber o nome da praça e o porquê desse nome, seria resgatar também esse espírito guerreiro e empreendedor, tão necessário numa cidade que, metaforicamente, busca sua reconstrução.

-o-o-o-o-

Esse texto só foi possível graças às informações e à gentileza do historiador Adelindo Kfoury. Se não está à altura da homenagem que se quer prestar à Dona Senhora, isso se deve mais à falta de atributos de quem o escreveu, do que da inestimável deferência desse mestre que é Kfoury.





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