:: ‘Donad Trump’
O heterodoxíssimo projeto de Donad Trump para voltar no tempo

Donald Trump (foto IA)
André Maynart Cunha Alves
“There must be another room, somewhere down the hall, where the real meeting is happening, where the real experts are, making the real decisions … because it can’t just be us. It can’t just be this.” — Jake Sullivan, 2013.
No dia dois de abril do ano de Nosso Senhor de 2025, o presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, anunciou a implementação de tarifas recíprocas a todo o mundo. Definir quais tarifas se aplicam é um trabalho difícil, então Trump e amigos recorreram à fórmula conveniente, de forma aberta, de dividir o total de importações dos EUA a um país pelo déficit comercial. Ou seja, aplicou tarifas recíprocas baseando-se em um cálculo de padeiro. Além disso, ele falou longamente em a) trazer indústrias de volta aos EUA e b) que déficits comerciais são uma forma de “roubo” ou “subsídio” e c) que essas tarifas irão render somas extraordinárias por ano.
Não cabe aqui discutir o quão absurda é essa proposta – isso já está sendo feito exaustivamente. Tampouco cabe a crítica – isso já está sendo feito por quem jurava lealdade à morte a Trump até, literalmente, ontem. O que cabe aqui é tentar entender, com algo de boa fé, a lógica interna do plano na sua cabeça.
Pois bem. Dispensadas a crítica e a explicação, vou tentar elaborar sobre o único caso em que Trump está lúcido e são, com um projeto internamente coerente em mente, bem intencionado e acompanhado. Peço a cumplicidade do leitor por alguns minutos.
TRUMP, O PURIFICADOR
Qual é o sentido das tarifas? O que os EUA está tentando fazer? Escutemos o próprio presidente. A linguagem usada pelos aliados de Trump – e pelo próprio Trump – é a de que tudo deve começar do zero. Por isso, virá uma crise, que durará entre seis meses e um ano, e então virá uma “era dourada”. Por “tudo deve começar do zero”, eles se referem a todo o comércio internacional, todas as cadeias de suprimento americanas, toda a economia americana, que deve passar por um “detox”, uma “purificação”, para poder dessa forma voltar aos bons tempos. Mas vamos por partes.
Trump não está sozinho ao falar em purificação e crise induzida para gerar algo novo. Os paralelos históricos são três, e ouso dizer que são as potenciais inspirações do seu pensamento: Aceleracionismo, Posadas, e Pol Pot.
O aceleracionismo é uma corrente, principalmente marxista, que acredita que, acelerando mudanças sociais e econômicas e os ganhos do capitalismo, se chegará a sua exaustão mais rápido, podendo assim usar da crise definitiva que resultará para formar uma nova sociedade socialista. Semelhante a esta ideia, está o posadismo.
O pensador argentino trotskista Juan Posadas, desiludido tanto com a URSS, com a revolução cubana e com a Quarta Internacional, tinha uma visão de como se chegaria ao verdadeiro socialismo: com alienígenas e uma guerra nuclear. A guerra nuclear é o que nos interessa. Posadas acreditava que, assim que começasse a guerra (e após a guerra), as massas seriam forçadas a agir contra o capitalismo, e assim se chegaria à revolução mundial.
Pol Pot, além de matar 25% da população de seu país, buscava um retorno aos bons tempos onde a economia era agrícola (em vez de industrial). Para isso, esvaziou as cidades, matou intelectuais e forçou todos a trabalhar nos campos. O resultado foi uma queda na expectativa da vida sem igual.
Apresento esses três paralelos não para dizer que Trump é um socialista disfarçado, criando o máximo de caos para criar uma sociedade comunista, mas para usar como analogia ao projeto trumpiano e seu uso de termos como “detox”, “choque” e “reset” para se referir à inevitável crise que virá a curto prazo. Trump, assim como Posadas, está disposto à uma detonação nuclear (só que econômica) para criar uma nova sociedade. Detonar o comércio internacional com tarifas arbitrariamente altas, desregular absolutamente qualquer atividade econômica, diminuir o PIB em 10% através de deportações em massa (até de imigrantes legais!), se livrar dos aliados, flertar com inimigos, queimar as instituições de Breton Woods, a própria hegemonia americana que depende do globalismo. Assim como Pol Pot, ele busca acabar com tudo que leve o nome de “econômico”, a qualquer preço, para o nobre objetivo de dar um fim nos déficits comerciais. Nenhum centavo para estrangeiros. Todos os centavos para os EUA.
Assim, purificar (esse é o verbo usado) a economia americana com fogo para implementar a Utopia Trumpiana. Botar abaixo tudo que faz os EUA serem os EUA. Até aqui, não teorizo, apenas apresento suas declarações. Minha tese é que tudo isso tem como fim implementar a Autarquia Novecentista Xenofóbica.
A UTOPIA TRUMPIANA – A AUTÁRQUIA NOVECENTISTA XENOFÓBICA ONDE TRUMP NÃO PAGA IMPOSTO DE RENDA
- 1