:: ‘Maria e o Cangaço’
Maria e o Cangaço
Dimas Roque
Quando surgiram as primeiras notícias sobre uma minissérie focada na vida de Maria Gomes de Oliveira — a icônica Maria Bonita, a cangaceira mais famosa da história —, confesso que fiquei apreensivo. Principalmente ao descobrir que Isis Valverde, uma atriz de pele branca e sotaque carioca (daqueles que “chiam” como panela de pressão diante de um “s” e “i” seguidos), interpretaria a protagonista. Não me culpe: no Nordeste, terra de tantas artistas com a tonalidade de pele e o sotaque autêntico de Maria, escolher alguém tão distante desse universo parecia, no mínimo, um tiro no pé.
Nascido e criado em Paulo Afonso, Bahia — cidade onde Maria Bonita veio ao mundo, no sertão que beira o Raso da Catarina, região inóspita onde o bando de Lampião sobreviveu às perseguições da volante —, cheguei à minissérie com os dois pés atrás. Pronto para criticar cada detalhe mal representado.
Mas eu estava errado.
Assisti hoje à produção da CineFilm para o Disney+ e, surpreendentemente, o trabalho me conquistou. O roteiro, assinado por Sérgio Machado, Armando Praça, Letícia Simões e Sandra Delgado (com colaboração de Juliana Antunes), aliado à direção de Machado, Thalita Rubio e Adrian Teijido, consegue algo raro: hipnotizar o espectador do primeiro ao último minuto. A escolha de não retratar a morte de Maria e Lampião foi magistral, focando em suas vidas em vez do clichê sangrento.
Claro, há ressalvas. As roupas dos soldados lembram uniformes nazistas de filmes hollywoodianos, e a casa de tijolos onde Maria nasceu na série destoa da realidade — até hoje, sua residência original no Povoado Malhada da Caiçara mantém paredes de barro. Mas esses deslizes são secundários diante do conjunto, que captura o imaginário do cangaço com respeito.
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